segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Despeçam Luisão!

 Parece que há controvérsia na estrutura do Benfica. Luisão deu um raspanete aos jogadores após a derrota na Supertaça e isso supostamente caiu mal. Alguns dizem que caiu mal junto dos jogadores, outros dizem que caiu mal junto do treinador e de Rui Costa.

Ora, enquanto a estrutura se entretém neste "mal estar" ou "incómodo" pela intervenção de Luisão, este blogue tem uma novidade para dar: os benfiquistas não estão "incomodados", os benfiquistas estão revoltados com mais este falhanço e mais uma derrota com um clube que não é rival mas sim inimigo do Benfica.

Este clube encara estes jogos como uma guerra, enquanto os nossos entram em campo como meninos de coro. 

Enquanto isto não for entendido não ganhamos. Luisão parece que é o único a compreender, por isso provavelmente está lá a mais... 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

As finais são para se perder

Já cansa.

Este foi possivelmente o último jogo com o Porto que vi. E nem vi todo. 

A partir do primeiro golo, que me pareceu precedido de falta sobre Rafa, desliguei. E arrependo-me de ter visto umas dezenas de minutos na segunda parte: ainda me irritei com um penalti não assinalado por mão de Corona (como sempre sem intervenção do VAR) e com o segundo golo daquela equipa de arruaceiros na sequência do lance.

Mas acima de tudo irritei-me com os protestos e gritaria dos arruaceiros em cada lance, perante a passividade dos árbitros - e do banco do Benfica.

Mau demais. 

Dito isto, há mais dois pontos a referir. O primeiro é que o Benfica perde todas as finais e perde 90% dos jogos contra o Porto. Já escrevi amplamente sobre esse tema e não vale a pena insistir. Já enjoa. A segunda é que não jogamos nada e que quando vi que o meio campo era Taarabt e Weigel soube logo que íamos perder. E desta vez a culpa nem foi do alemão.

Assim não dá.

Agora é esquecer e festejar o Natal que é muito mais importante do que os pontapés na bola. 

domingo, 6 de dezembro de 2020

Ferreiro mata Ferreira

 Costuma-se dizer que em caso de ferreiro espeto de pau. Neste caso, Waldschmidt ("ferreiro da mata, ou bosque") foi o carrasco do clube da Mata Real e capital do móvel. 

Foi um desfecho cruel para o Paços, que fez um bom jogo, mas não propriamente injusto: o Benfica fez o suficiente para ganhar. Uma vitória arrancada a ferros, mais propriamente o ferro do ferreiro do espeto de pau (que até então pouco tinha feito, admita-se).

Não foi, é verdade, uma exibição muito conseguida do Benfica. Muitos passes errados, muitas bolas perdidas, muita desconcentração. Um dos factores para isso é, não tenho dúvidas, a sobrecarga competitiva e a falta de tempo de recuperação dos atletas. Isto não tem nada a ver com os "milhões". Não é por ganharem mais que os jogadores deixam de ter os seus limites físicos ou necessidade de descanso.

Isto não significa que não necessitemos de melhorar. Claramente há muita coisa que temos que corrigir. Falta entendimento colectivo, falta coordenação, falta discernimento para tomar as melhores decisões.

O tempo poderá ajudar a melhorar algumas coisas, ao passo que o calendário (com a interrupção do campeonato) poderá permitir uma melhor gestão física do plantel. Veremos.

Tudo isso à parte, acho que este jogo mostra que a dupla Weigel, Taarabt definitivamente não funciona. Na verdade nenhum destes jogadores me convence num meio campo à dois. Num 4-3-3 talvez, porque as responsabilidades estão mais divididas. No 4-4-2 em que jogamos, Weigel não é suficientemente agressivo a defender e Taarabt desequilibra demasiado a equipa com as suas perdas de bola. Aliás, talvez o 3-5-2 fosse o sistema mais adequado para tirar o máximo rendimento deste plantel, mas isso fica para uma outra altura.

Desta noite, ficam os três pontos, a crença e a capacidade de luta da equipa. Pouco mais. Mas já é qualquer coisa. 

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Princípio da retoma?

 O Benfica venceu ontem de forma clara um jogo no qual teve várias coisas contra:

- ausência de vários jogadores importantes por lesões e razões médicas;

- uma chegada atribulada à Madeira com insultos de supostos adeptos (notei o forte sotaque nortenho dos mesmos);

- entrada a perder com um golo oferecido;

- um penalti claro a seu favor não assinalado;

- um relvado em estado impróprio. 

Para uma equipa que vinha de maus resultados para o campeonato, estes factores eram tudo o que não se desejava, podendo acentuar ainda mais a crise de confiança. Apesar deles, o Benfica dominou o jogo de forma clara, obtendo uma vitória que não oferece qualquer discussão. 

É evidente que a exibição deixou a desejar e que voltou a haver sinais preocupantes, nomeadamente um novo erro infantil de Ottamendi. Mas, nas circunstâncias, conseguimos o que mais importava: a vitória. Aliás as estatísticas mostram que o domínio do Benfica foi quase absoluto. Recorde-se que jogar no Funchal tem sempre algum risco e que o Porto perdeu mesmo em sua casa contra este Marítimo. (Jorge Jesus ainda se queixou do anti-jogo do adversário, mas sinceramente já vi bastante pior). 

Este jogo vem na sequência de dois outros, realizados após a paragem no campeonato: um jogo para a Taça deprimente, que terá sido talvez (espero) o momento em que batemos no fundo esta época e um jogo para a Liga Europa em que estivemos a perder por 2-0 e conseguimos recuperar para 2-2, perante um adversário forte, consistente e bem orientado. 

Nada disto são razões para celebrar ou podermos afirmar que o pior já passou. É isso que espero e em que quero acreditar, mas tal carece ainda de confirmação e sobretudo de uma melhoria significativa da qualidade de jogo; de uma muito maior confiança e tranquilidade da equipa (como um todo, também não vale a pena estar a singularizar ou perseguir Ottamendi) e, claro está, do mais importante de tudo: uma sequência de vitórias.

Os jogos que aí vêm, de grau de dificuldade médio, oferecem uma boa oportunidade para a equipa crescer e consolidar processos. Veremos se tal acontece. 

É importante que sim, até porque a 23/12 (estranha data para um jogo de futebol) disputamos a Supertaça com o Porto. Não muito tempo depois, a 17 de Janeiro, novo confronto, desta vez no Porto e para o campeonato e no último dia do mês deslocação a Alvalade.

Convém por isso dar corda aos sapatos. Jorge Jesus mostrou nervosismo neste jogo e sinceramente é bom que sinta a pressão de ganhar e de apresentar resultados. Nos últimos jogos parecia acomodado e distante. O Benfica fez o maior investimento da história na sua vinda e contratações, pelo que o treinador precisa de retribuir com um trabalho ainda mais dedicado do que o normal. 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Orçamento de milhões, futebol de tostões

Eliminado da Champions, formou-se a ideia de que o Benfica arrasaria a nível interno.
Com o dinheiro que foi gasto em contratações e no treinador, este seria o mínimo exigível - e sinceramente o expectável. Se o Benfica e o Porto já ganham quase todos os jogos, muitas das vezes por goleada, um Benfica com Jorge Jesus e com um plantel "anormal" na realidade portuguesa, com titulares de selecções de top, deveria realmente arrasar, como prometeu o treinador.
No entanto a única coisa arrasada para já é a esperança e confiança dos benfiquistas. 
Eliminado da Champions, humilhado no Bessa, salvo de duas outras humilhações em pleno Estádio da Luz apenas nos últimos minutos (e graças ao talento individual dos jogadores), este Benfica é uma desilusão completa. 
Claro que estádios vazios são a negação do futebol na sua dimensão mais autêntica, que é a da paixão e da emoção. Por outro lado e felizmente, também estamos ainda no início e há tempo de recuperar e  começar a entrar nos eixos. 
Mas para já o Benfica joga mal e feio. Faz lembrar os piores períodos por que Rui Vitória e Bruno Lage passaram no Benfica. 
Mesmo nos jogos que ganhou, este Benfica raramente convenceu e praticamente nunca foi espectacular. Os jogos com o Famalicão e o Rio Ave foram talvez a excepção, tendo-se aí visto um bom futebol.
Voltando à questão do entrar nos eixos, a solução não pode ser ir buscar mais e mais jogadores. Em primeiro lugar porque, como dizia alguém, acho que ainda não descobriram um poço de petróleo ou uma galinha dos ovos de ouro na Luz. Em tempos de crise que se anunciam e sem receitas de bilheteira nem da Liga dos campeões muito já o Benfica investiu (esperemos que não demais). Sabemos porquê mas agora não é o momento de falar sobre isso.
Mas para além das questões financeiras, contratar mais não é a solução porque Jesus  não consegue tirar rendimento dos que já lá tem.
Que treinador teve recursos destes nos últimos anos? Avançados de luxo, centrais vindos das equipas de topo da Premier League... Titulares de selecções de topo, incluindo Alemanha, Argentina, Brasil e Bélgica... Um avançado com a capacidade de Darwin... Um international alemão no banco...
Isto é um plantel de luxo para a realidade nacional e é escandaloso que Jorge Jesus queira contratar mais uma série de jogadores, praticamente para todas as posições. 
Quer Lucas Assunção para uma posição na qual, para além dos titulares, já temos Jardel, Ferro e Tolibo. Ninguém presta? Será que vamos fazer um 11 completo só com centrais? Isto é inaceitável.
Depois quer William Carvalho ou Gerson, do Flamengo. Mas não temos Weigel, Gabriel e Samaris? Florentino não foi emprestado? Parece que andamos a brincar. 
Quer também um lateral direito, depois de ter ido buscar Gilberto. Já adaptou Diogo Gonçalves (que noutra posição, coitado, nunca terá qualquer oportunidade) mas não chega. Nunca chega. 
Toda esta instabilidade só mina a confiança dos jogadores. O contrário do que um treinador deve fazer. Ponha os olhos em Rúben Amorim. 
Quando Jorge Jesus chegou pela primeira vez ao Benfica disse que os jogadores iam jogar o dobro. E se é verdade que houve várias contratações, os que já lá estavam realmente aumentaram imenso o rendimento: David Luiz, Luisão, Di Maria, Cardozo. 
Neste Benfica deste ano, os jogadores não melhoraram nada. Esperava-se que Jesus pudesse aproveitar as características de Weigel e que finalmente o alemão mostrasse o seu futebol, mas nada. Cervi foi encostado mas Cebolinha também não está a fazer nada. Rafa está inconstante. Pizzi igual ou pior. Gabriel idem. Não se compara ao grande Gabriel de 2019. 
Felizmente ainda há tempo para arrepiar caminho. Mas para já o que se vê de Jorge Jesus é mau e preocupante. Há uma grande instabilidade, em grande parte resultante deste constante falatório de entradas e saídas. Para piorar ainda mais as coisas, Jesus criticou Gonçalo Ramos sem razão nenhuma e a completo despropósito. 
Alguém tem que pôr mão nisto antes que as coisas descambem de vez e JJ saia do Benfica com uma indemnização choruda e soframos a humilhação de não ganhar nada com um orçamento destes. 

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Vitória suada. Otamendi absolvido

 O Benfica teve um jogo mais difícil do que seria de prever. O jogo não fluiu como habitualmente, tivemos poucas oportunidades claras e chegámos a ser dominados (embora por um curto período) durante a segunda parte.

Poderia partir daqui para uma crítica feroz à equipa, a Jorge Jesus e até a Vieira. É fácil dizer que não se admite que uma equipa com um orçamento como o do Benfica tenha que sofrer tanto para vencer o Farense. No entanto esse tipo de argumentação (se a tal se pode chamar argumentação) é simplista e demagógico. 

O Porto não perdeu em casa com o Marítimo? (A primeira vez na história). Qual a diferença de orçamentos? 

O United não foi goleado em casa pelo Tottenham? O Liverpool não foi esmagado pelo Aston Villa? 

Os orçamentos não ganham jogos, ou pelo menos não garantem que se ganhem todos os jogos. E, pormenor importante, o Benfica GANHOU este jogo. 

E a verdade é que neste o Farense jogou muito bem, com muita intensidade, uma pressão alta que nos perturbou e apresentou em acréscimo a tudo isto uma condição física invejável. 

O Benfica até marcou cedo, numa das primeiras oportunidades (rematou muito, mas quase sempre mal) e isso terá dado a ideia de que o jogo seria fácil. Sobretudo Rafa na direita surgia na zona de perigo com alguma facilidade, pelo que se adivinhavam mais golos. No entanto isto não aconteceu e sentia-se que o Farense quando atacava era acutilante. 

Na segunda parte, quando se esperava que o Benfica corrigisse os posicionamentos e melhorasse a dinâmica, aconteceu o contrário e foi o Farense que acabou por chegar ao golo e consequente empate com alguma naturalidade.

Jesus mexeu e temi o pior: Weigel por Gabriel, Seferovic por Waldshmidt e Pedrinho por Rafa. No entanto as alterações acabaram por se revelar mais do que correctas. Seferovic fez dois golos e Weigel, pela primeira vez desde que chegou ao Benfica, mostrou real qualidade. O alemão transfigurou-se completamente, aparecendo com grande decisão nas zonas onde a bola caía, antecipando-se, fazendo passes longos (alguns falhados como é normal quando se arrisca mais) e imprimindo muita velocidade ao jogo. Foi um Weigel que eu nunca tinha visto no Benfica e que, assim sim, é uma mais-valia. Foi decisivo no terceiro golo que acabou com o jogo.

Ainda voltando ao suíço, não deixa de ser curioso que todos os anos seja dado como dispensável e último na ordem dos avançados e que depois acabe por ser o de maior rendimento. Como alguém disse, tem 7 vidas como um gato. 

Aproveito aliás (tanto mais que não escrevi sobre os primeiros jogos do campeonato)  para dizer que Taarabt, que já tenho criticado, fez um grande jogo em Famalicão, mostrando que talvez possa afinal jogar naquela posição. O futuro o dirá. 

Quanto a Otamendi, que os média querem já desmoralizar, acho que demonstrou na primeira parte uma enorme categoria, sendo uma pena que a sua estreia fique marcada por supostos erros e associada a um golo do adversário. Não o merecia. Se no penalti a decisão do árbitro ainda se poderá aceitar (eu não marcaria), já é completamente inaceitável que a falta óbvia e descarada sobre o argentino no lance do segundo golo do Farense passe em claro quer do árbitro quer do VAR. Mas, enfim, sendo quem são não admira. 

Foi aliás uma sequela do filme que passou no dia anterior no dragão... (onde as saídas se multiplicam, mas esse será tema para outro artigo). 

Em resumo, ganhámos um jogo mais complicado do que o previsto. A exibição não foi a mais conseguida mas o mais importante foi conseguido. 

Lideramos com 3 pontos de vantagem à terceira jornada. 


sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A ilusão do "correr mais"

 O filme Patton começa com um discurso do célebre General americano no qual ele defende que a ideia de "morrer pelo nosso país" é absurda. Para vencer uma batalha e no fim a guerra, a receita é exactamente a contrária: manter-se vivo e fazer com que o outro morra pelo seu país.

Isto a propósito daqueles que acham que o problema do Benfica é que os seus jogadores correm menos do que os outros.

O futebol não é uma prova de atletismo. Quem corre mais, das duas uma: ou tem uma capacidade física e atlética anormal, muito superior aos outros (o que no futebol moderno não é expectável), ou vai ficar mais cansado do que os outros mais cedo. Quem está mais cansado toma piores decisões.

O objectivo do futebol não é correr à doida, dar tudo em cada lance. O objectivo do futebol é correr inteligentemente. Se possível, correr menos até do que a outra equipa: fazer correr a outra equipa atrás da bola, desgastá-la e nos momentos certos feri-la com golos decisivos.

A ideia de que os jogadores devem andar a correr desvairados atrás da bola e dos adversários não faz qualquer sentido. Os grandes jogadores são os que prevêem as jogadas, antecipam os movimentos e são capazes de estar no lugar certo no momento certo. Não são aqueles que correm muito e chegam sempre tarde (ou demasiado cansados para tomar as decisões certas). 

Antigamente até se dizia que o que corre é a bola e não o jogador. Claro que o futebol evoluiu tacticamente, que é mais dinâmico e que, estando todas as equipas relativamente mais preparadas, a velocidade (por vezes mais de execução e antecipação do que de corrida) acabam por ser um factor importante. Mas o que se exige é correr bem. Correr nos momentos certos. Saber fazer os piques nos momentos desequilibrantes. 

Não passar o jogo em correrias sem sentido, a atravessar o campo de um lado ao outro, como baratas tontas atrás da bola, para chegar a meio da segunda parte e estar de rastos, prontos para levar o golpe de misericórdia.

O que interessa não é correr até à exaustão. O que importa é fazer a outra equipa correr até à exaustão.