quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Navegação à vista

 Quando escrevi o último post estava muito longe de imaginar que dois dias depois Lage deixaria de ser o treinador do Benfica.

Claro que também não imaginava perder em casa com o Qarabag, uma equipa da quarta divisão do futebol europeu, um resultado que é realmente escandaloso e inaceitável.

No entanto como é que um presidente explica que ainda há duas semanas (a fazer fé nas declarações de Lage) estivesse a contratar os jogadores que este desejava e agora o demita? 

Se, como tudo indica, o sucessor for Mourinho, como explicar a venda de Akturkoglu que foi aparentemente um pedido do então treinador do Fenerbaçe?? 

Nada disto faz sentido. 

Mais: Lage eliminou Mourinho e foi tacticamente mais astuto nessa eliminatória do que o seu conterrâneo setubalense. 

E a um mês das eleições Costa vai fazer um contrato (provavelmente de valores elevados) que vai vincular o próximo presidente do Benfica - o que não é ilegal mas coloca questões muito sérias em termos de deontologia. 

É a navegação à vista, sem rumo estratégico. É verdade que o futebol são resultados e os "projectos" são normalmente uma ilusão porque se não existe sucesso o "projecto" é sempre abandonado e se contrata um novo treinador que necessariamente terá as suas ideias próprias, mas há que ter pelo menos uma visão e um rumo. 

Há uns anos contratou-se Schmidt porque se queria (e bem) um futebol atacante e atraente. Agora escolhe-se Mourinho, um treinador defensivo e resultadista. Onde está a coerência? 

Como já escrevi anteriormente, não acredito em Mourinho. Acho que está desactualizado, que o seu melhor período já passou, que não tem ideias inovadoras e que as suas equipas jogam um futebol feio que não empolga minimamente. 

Pode-se dizer que no United e na Roma fez melhor do que os que lhe sucederam. É um facto. Mas isso parece-me um fraco argumento, insuficiente para um treinador do Benfica. 

Temo que o futebol do Benfica se torne defensivo, negativo, mais preocupado em não perder do que em ganhar.

Um futebol defensivo como o de Mourinho só é aceitável se a equipa tiver bons resultados. Mas no Benfica bons resultados é ganhar sempre a nível nacional e ter prestações razoáveis na Europa. Será Mourinho capaz de alcançar tais resultados? O que acontecerá se começar a ter empates na Liga portuguesa e a perder na Liga dos Campeões (como é previsível face aos adversários que enfrentaremos)?

Antevejo tempos conturbados para o Benfica. Espero estar enganado.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Fim da linha para Amorim. E Lage?

 Eu sei que muitos benfiquistas estão nervosos com o empate com o Santa Clara. Também me debruçarei o nosso momento neste post, mas para já quero analisar a situação de Amorim, até porque acho que há ilações importantes a retirar da mesma.

Em Portugal, Amorim tornou o Sporting uma equipa dominadora, quase hegemónica. Começou por ir buscar uma série de jogadores a equipas médias e aos poucos construiu uma equipa compacta e muito difícil de bater. Teve uma "filosofia" e um "sistema" que foi aprimorando.

Mas a Premier League não é a Liga Betclic. Ali estão os melhores dos melhores, quer jogadores, quer treinadores. Cada jogo é um desafio físico e táctico sério. Enquanto que em Portugal há três equipas decentes, três ou quatro médias e as restantes são fracas, em Inglaterra o panorama é completamente diferente. 

Primeiro há o "big six" (Arsenal, Chelsea, Liverpool, Man City, Man United e Tottenham), equipas que além das competições internas competem por títulos europeus. Depois há equipas como o Newcastle, Aston Villa, Crystal Palace, Brighton, Nottingham Forest ou West Ham que têm orçamentos maiores do que o Benfica.

Em Inglaterra quase todas as equipas são muito evoluídas física, técnica e tacticamente. O problema de Amorim é que o seu sistema pura e simplesmente não funciona em Inglaterra. Porquê? Porque os dois médios centro do United estão constantemente em inferioridade numérica face aos três ou quatro médios que as outras equipas apresentam. Acresce que os dois médios do United são normalmente desadequados para jogar neste sistema. Já foi referido por analistas que apenas o Chelsea conseguiu vencer a jogar neste sistema e os seus médios eram "apenas" Kanté e Matic, dois box-to-box com uma capacidade física incrível. Com Amorim, um dos médios é Bruno Fernandes e o outro é Casemiro ou Ugarte. Não há milagres. Depois os três defesas também têm dificuldade em encaixar quando o adversário joga apenas com um avançado e ainda mais quando este deriva para outras zonas do campo, deixando os defesas sem referências. No Sporting era fácil: o bloco subia. Em Inglaterra as coisas não são tão fáceis porque as outras equipas têm muita qualidade e velocidade para explorar o espaço nas costas da defesa.

O fracasso de Amorim está a ser espectacular: em 31 jogos da Premier League tem... 8 vitórias. Mas Amorim é teimoso e não muda. Continua a bater contra uma parede: as performances e os resultados são desastrosos, mas continua a insistir. Todos os treinadores já sabem como o Man United joga, quais as suas fragilidades e como os anular. 

É verdade que Amorim conseguiu resultados na Europa enquanto treinador do Sporting (embora nunca tenha ido longe em nenhuma competição). Não lhe retiro mérito, mas a confiança é um factor muito importante e também tinha jogadores adaptados ao seu sistema, ao contrário de agora (os avançados baixavam para apoiar os centro campistas, a equipa era mais compacta, os defesas mais capazes e teve Gyokeres que era capaz de correr quase meio campo e marcar). O que é incrível é que Amorim continua a jogar com os mesmos médios centro do ano passado (com os resultados que seriam de esperar - derrota atrás de derrota). Por outro lado, não resolveu ainda o problema do guarda-redes (no Sporting foi o mesmo). Agora vem o Chelsea e os adeptos estão completamente saturados. Depois de o acolherem cheios de entusiasmo, agora consideram que já não há esperança. Amorim está por um fio.

Que lição se retira daqui? Creio que mais do que uma. A primeira, evidente, é que a Premier League é o topo dos campeonatos e que ser "o maior da sua rua" significa pouco ali. A segunda é que um bom treinador tem de ser capaz de fazer correções e adaptações, por muito que acredite no seu modelo. Amorim não está a demonstrar essa capacidade. Em Portugal, na Grécia, talvez na Turquia, Amorim tem uma elevada probabilidade de sucesso, em Inglaterra, tem uma elevada probabilidade de fracasso. A confirmar-se o descalabro, será um falhanço embaraçoso, com um custo de muitos milhões para o clube, mas na verdade apenas mais um fracasso no já grande cemitério de treinadores em Old Trafford.

Face aos números atrozes de Amorim (pelo meio ainda eliminado da Taça da Liga por uma equipa da quarta divisão), o empate do Benfica com o Santa Clara torna-se mais relativo. 

O problema é que em Portugal qualquer empate pode ter consequências muito prejudiciais tal o desnível  dos três grandes para os outros e, ainda mais importante,  o nível de jogo medíocre do Benfica é preocupante nesta altura. 

No entanto temos de reconhecer que há vários factores atenuantes: a quase ausência de pré-época, muitas entradas e saídas, grande número de jogos de exigência elevada logo em Agosto (o jogo ter sido na sexta-feira também foi um disparate). E estamos ainda no início. É possível que com a adaptação dos jogadores recém-chegados e o seu entrosamento com os colegas, o rendimento individual e colectivo aumente. Não apenas é possível, é mesmo exigível.

Temos de mantter calma e não entrar em histeria. Lage é um treinador razoável para a nossa realidade. Não vamos ter Klop, nem Tushel, nem Guardiola, nem Marco Silva. Para vir um Anselmi ou um Borges (ou um Mourinho já sem a energia nem a confiança de outros tempos) não vale a pena mudar. Claro que se não houver melhoria na qualidade de jogo e por outro lado houver mais resultados negativos, a pressão aumentará, como acontece sempre, e terá de se pensar em alternativas. Mas ainda é cedo. O jogo com o Porto será para mim o momento para fazer uma avaliação mais fundamentada. 

A seu tempo escreverei também sobre as contratações e o plantel do Benfica. 

domingo, 10 de agosto de 2025

Primeiras impressões

 O Benfica mudou em todos os sectores face ao ano passado: na defesa, com dois novos laterais, no meio campo com nova dupla no "miolo" e no ataque também há várias entradas e saídas. 

O próprio esquema táctico mudou no último jogo (veremos se é para continuar): de um 4-2-3-1 ou 4-3-3 passámos para um 4-4-2 clássico com dois pontas de lança (embora com Aurnes a titular este se possa juntar mais aos elementos do meio campo para formar um trio). 

São muitas mudanças em lugares chave. 

O meio campo é a "sala das máquinas", onde se fazem os equilíbrios, se pauta o jogo, se organiza o ataque ou impede o do adversário. Mudámos aqui as duas posições de trinco e médio centro (8) de Florentino/Kokçu para Enzo/Rios.

Os primeiros sinais parecem positivos: o Benfica vence o Sporting não direi que com facilidade, mas com uma certa naturalidade e simplifica com o Nice. Os jogadores contratados chegam com boas referências e dão indicações favoráveis. 

No meio campo faltava agressividade, como foi penosamente evidente no final da época passada e Kokçu apesar de ser um jogador com qualidades nunca se impôs verdadeiramente, além de ter uma personalidade conflituosa. Veremos como os que chegaram se adaptam. Ainda é cedo. Para mim Florentino ficaria no plantel, a não ser que houvesse uma oferta irrecusável. É um jogador fiável e com uma tremenda capacidade de desarme, apesar das limitações no passe. 

Dedic parece uma boa aposta, mas Dahl não é Carreras. Convém recordar que este foi um dos melhores jogadores da época passada e não é por acaso que o melhor clube do mundo o contratou. 

No ataque a contratação de Ivanovic traz novas opções, mas claro que estamos a falar de um jovem a quem tem de se dar tempo para crescer. Além disso saíram Di Maria, Amdouni e Kokçu, Akturkoglu diz-se que sairá e Bruma estará lesionado muito tempo, ou seja saiu talento e fantasia que é preciso colmatar. 

Em relação aos nossos adversários, o Sporting continuará a ser forte a nível nacional, especialmente se Hujlmand continuar, e o Porto parece ter uma equipa bem mais competitiva do que no ano passado. Por isso não haverá facilidades. 

Uma última nota para a Premier League que tem dominado este mercado. O Liverpool operou uma mini revolução no plantel, fez contratações sonantes e espera ainda contar com Isak, mas começou mal a época ao perder a Charity Shield (supertaça inglesa) para o Chrystal Palace. O City espera recuperar o ceptro. O Arsenal contratou Gyokeres. E o Chelsea, vencedor da Liga Conferência e do Mundial de Clubes também se reforçou. Há ainda que contar com o Tottenham e o Newcastle, numa segunda linha. Ou seja, as coisas não se afiguram nada fáceis para Amorim. Este ano já não haverá a tolerância do ano zero. E para já os sinais não são brilhantes. 



sábado, 5 de julho de 2025

O Mundial de clubes e o Benfica

 A participação do Benfica no Mundial de clubes teve um saldo neutro e correspondeu ao expectável: uma goleada a um clube de amadores, um empate com um um grande da Argentina, uma vitória inesperada (a primeira de sempre) com um Bayern em modo poupança e uma derrota por 4-1 perante um Chelsea com argumentos superiores aos nossos. A goleada com o Chelsea é um pouco atenuada pelo facto dos golos terem surgido quase todos no fim, quando jogávamos com 10. Mas por outro lado o Benfica foi uma sombra de si mesmo nesse jogo: sempre demasiado encolhido e defensivo, sem capacidade de ser incisivo no ataque.

No final, o saldo é "normal": tínhamos uma secreta esperança de chegar longe e quem sabe ganhar a competição, fazendo jus à história do Benfica e tirando partido do facto da competição surgir no final de época, com as equipas a não terem o mesmo rendimento que alcançam na Liga dos Campeões, mas no fim a lógica imperou e alcançámos o que é habitual na competição continental - passar a fase de grupos e perder na primeira ronda a eliminar.

Perder com o Chelsea não é desprestigiante, mas o nível que apresentámos fica abaixo, na minha opinião, dos mínimos. Lage tentou aplicar a mesma receita que funcionou com o Bayern, mas sem sucesso desta vez. É verdade que a Grécia foi campeã da Europa a jogar assim, mas isso acontece uma vez a cada 50 anos. Acho que o Benfica poderia ter assumido o jogo de outra forma. 

De resto a competição vai avançando para a fase final de acordo com o que seria expectável: as equipas mais fracas vão desaparecendo e os gigantes europeus posicionam-se. Houve algumas surpresas, como acontece sempre: o Inter foi eliminado pelo Fluminense e o City pelo Al Hilal. Mas nas meias finais estarão Paris Saint Germain, Real Madrid e Chelsea e um dos dois primeiros deverá levantar o troféu.

Quando o Benfica foi eliminado li dezenas dos milhares de comentários feitos por brasileiros dirigidos ao nosso clube e aos portugueses, todos eles insultuosos. Fiquei admirado, não sei o que é que lhes fizemos para justificar tanta hostilidade. Os brasileiros, sobretudo adeptos do Flamengo, recordavam a vitória da sua equipa sobre o Chelsea na fase de grupos e gozavam com o Benfica chamando-nos equipa pequena e assegurando que no campeonato brasileiro lutaríamos pela manutenção. Mas via-se ali muito ódio, muito ressentimento.

Tais adeptos esqueceram-se de duas coisas:

1) as equipas europeias estão no "pós-época", com muitas dezenas de jogos nas pernas, separados desta competição por uma pausa competitiva de semanas, física e mentalmente cansados, ao passo que as sul americanas estão no início da época, com os índices físicos e motivacionais no máximo;

2) iam jogar com o Bayern de Munique, que o Benfica tinha vencido, a seguir (e, claro, perderam). Além disso perderam qualquer simpatia que os portugueses poderiam ter pelas equipas brasileiras. 

E fico-me por aqui para não extrapolar do futebol para outras situações, porque os brasileiros que trabalham arduamente em Portugal (centenas de milhares) não têm culpa dos comentários de alguns idiotas. 

sexta-feira, 30 de maio de 2025

Goleada histórica. Sporting-11 Benfica-1





Aqui fica uma análise a todos os casos da final da Taça de Portugal de dia 25. A análise é 100% objetiva como se poderá constatar. Limito-me a apresentar as situações. As minhas apreciações ou comentários pontuais sobre os lances não interferem sobre a objetividade e validade da análise. 


três penalties a favor do Benfica 


1) remate de Bruma contra o braço de jogador do Sporting, assinalado e posteriormente anulado por fora de jogo de Kokçu no início da jogada;

2) Hjulmand toca/pisa Dalh, árbitro assinala simulação com direito a cartão amarelo;

3) agarrão sobre Belotti na área transformado em livre lateral por uma falta anterior... a favor do Benfica (possivelmente é uma nova regra que ainda não conhecemos);


um penalti para o Sporting


4) um penalti marcado a favor do Sporting;


um golo anulado ao Benfica

5) um golo anulado ao Benfica por alegada falta de Carreras no início da jogada (uma das repetições mostra claramente o jogador do Benfica a cortar a bola que depois ressalta para o pé do jogador do Sporting - não é um erro claro e evidente do árbitro e está portanto fora do protocolo do VAR)

quatro cartões vermelhos perdoados a jogadores do Sporting


6) vermelho direto a Matheus Reis por agressão a Belotti;

7) vermelho direto a Maxi Araújo por agressão ao mesmo jogador ou, no mínimo, cartão amarelo, que seria o segundo; 

8) segundo amarelo para Harder por cotovelada a Otamendi (negligência, se fosse propositado seria cartão vermelho direto);

9) segundo amarelo para Harder por provocação aos adeptos benfiquistas após o seu golo (fazendo demorada e repetidamente um gesto para que se calassem);


golos validados com possíveis ilegalidades


10) um golo validado ao Benfica em que o jogador do Sporting no início da jogada aparece no chão

11) um golo validado ao Sporting num lance em que Otamendi surge no chão


Em 11 decisões cruciais no jogo a equipa de arbitragem decidiu 10 vezes a favor do Sporting e uma a favor do Benfica. 


Análise


Fazendo uma análise mais fina, vamos avaliar essas decisões por categorias.

I. Situações relativamente claras - três a favor do Sporting, uma a favor do Benfica

As situações 1, 4, 10 e 11 podem ser consideradas mais ou menos pacíficas e o juízo geral é que o árbitro decidiu bem.

II. Situações dúbias - todas a favor do Sporting

As situações 2, 3, 8 e 9 são de algum modo de interpretação e podem ser decididas para ambos os lados. Em quatro poderiam ter sido decididas duas para cada lado. Foram decididas as quatro a favor do Sporting. Acresce um cartão amarelo limitativo para Dahl logo no início do jogo.

III. Caso do jogo - decisão a favor do Sporting

A decisão 5 para mim é inaceitável porque não é um lance de erro claro e óbvio do árbitro e portanto o VAR não pode intervir. É uma situação grave porque distorce a verdade desportiva, a favor do Sporting. Já sei que a maioria dos árbitros comentadores dizem que foi uma boa decisão, mas a sua credibilidade é nula: olhemos para o inqualificável Coroado e fica tudo dito. Além disso eles tendem sempre a acompanhar os árbitros nas suas decisões e só dizem que errou quando esse erro é demasiado evidente para o público. Mas se quisermos colocar este lance na categoria anterior então aí temos um 5-0 arbitral a favor do Sporting.

IV. Erros grosseiros - a favor do Sporting

As situações 6 e 7 não merecem comentários. 

V. Tempo de compensação

Foram dados 10 minutos de tempo suplementar, algo nunca visto esta época e que naturalmente beneficiou o Sporting, tanto mais que o penalti é já depois dos 8 minutos de descontos (Pinheiro na Luz deu 7).

Temos assim Sporting - 11 Benfica - 1.

Ninguém me vai convencer de que isto não foi intencional. Erros acontecem para os dois lados, não sempre para o mesmo. Quando pelo meio dos erros há erros grosseiros o assunto deve ser investigado. O Benfica deveria aliás protestar o jogo


Nota 1: a linguagem corporal de Hujlmand no lance do possível penalti sobre Dahl e de Maxi Araújo no lance com Belotti é de jogadores que esperam vir a ser punidos pela arbitragem, ficando surpresos pelo seu comportamento não ter consequências. Nem eles próprios estavam à espera de uma arbitragem tão tendenciosa.

Nota 2: os mesmos árbitros e comentadores que garantiram que Tomás Araújo fez mesmo penalti sobre Ricardo Horta explicaram agora que Dahl fez simulação sobre Hjulmand. Num dos lances, a bola está noutro local e o toque de Araújo não tem qualquer influência sobre o desfecho da jogada. No outro Dahl tem a bola controlada dentro da área. Ou seja, o lance de Dahl seria por maioria de razão mais claro e merecedor de penalti do que o de Horta. Isto suscita-me duas reflexões: a primeira é reiterar que os ex-árbitros e comentadores não valem nada, são anti-benfiquistas e têm zero credibilidade; a segunda é de que os nossos jogadores são muito anjinhos: ao passo que Horta ficou no chão e a contorcer-se até que o VAR principal - Luís Freitas Lobo da Sport TV - dissesse que era penalti e assim passasse a mensagem para o pau mandado que estava na "cidade do futebol",  já Dahl levantou-se logo.

Nota 3: falaram décadas de Calabote porque, supostamente para o Benfica marcar mais golos, o árbitro deu... 4 minutos de descontos. Falaram anos da "Taça Lucílio Baptista" porque na sua opinião foi marcado um penalti inexistente contra o Sporting. Comentários para quê?


Maxi Araújo com as mãos atrás das costas, indicando ao árbitro que não fez nada. Mas o árbitro nem se dirige a ele...A preocupação de Godinho é que Belotti saia do campo para o jogo poder seguir rapidamente. (Ainda havia tempo...)


quinta-feira, 29 de maio de 2025

ADN Benfica

 

As próximas eleições para a presidência do Benfica serão cruciais para o futuro do clube. Os resultados dos últimos anos têm sido desastrosos e o clube não aguentará financeiramente muito mais tempo de insucessos. 

Estamos todos magoados, indignados mesmo, e com toda a razão, com o que aconteceu na final da Taça. Esse jogo lamentável confirmou para além de todas as dúvidas que o Benfica é desprezado e quase gozado pelas instâncias do futebol português. 

Sabemos, em parte, por que razão as coisas chegaram a este ponto: práticas pouco claras, pessoas nada recomendáveis, apoio a um presidente da federação que sempre fez gala, enquanto árbitro, em prejudicar o Benfica, uma comunicação social hostil). É preciso olhar para isto e delinear estratégias (a comunicação, atualmente inexistente, é parte, mas apenas parte, da solução).

No entanto é preciso também olhar para dentro, para o modelo de organização (que hoje é muito deficitário) e, não menos importante, para a identidade do Benfica. 

A identidade, o ADN do Benfica vêm-se perdendo há décadas. O problema começou com Damásio (embora mesmo com Fernando Martins já se tivessem cometido erros sérios) e agravou-se com Vale e Azevedo. 

Depois desse Vietname, era preciso reconstruir quase do zero. E construiu-se fisicamente, em betão, dotando-se o clube de infraestruturas modernas, algo que urgia fazer sob pena de nos atrasarmos ainda mais em relação aos rivais. O problema é que isso foi feito a custo do benfiquismo autêntico. 


Vieira tinha um estilo e uma prática que não se coadunam com o ADN Benfica. 

E qual é esse ADN? Dirão alguns que é ganhar. Certamente que o Benfica tem de ser um clube vencedor. A sua dimensão e história existem-no. 

Mas todos querem ganhar, nenhum clube dirá que o seu ADN é perder, o querer, ou dizer, não basta. 

Ganhar não se declara, ganhar é o resultado de vários factores. O que importa quando se fala de identidade é de onde se parte, quais os princípios e valores. 

O Benfica é geneticamente um clube popular, mas, tomando emprestado um termo da política, nunca foi um clube populista, não sacrifica os valores para obter resultados e não pode embarcar em demagogias. 

Outra coisa que não faz parte do ADN fundador do clube, contra o que Cosme Damião se insurgia, é o "mercantilismo" ou a comercialização excessiva. A vertente desportiva tem sempre de prevalecer sobre a empresarial, sob pena de se vencer apenas esporadicamente. 

O Benfica é também um clube unido, no qual os egos se sacrificam em nome da instituição e no qual todos se juntam para uma causa comum. 

No plano dos valores, o Benfica sempre se viu como a maior instituição de Portugal. Os maiores presidentes do Benfica, os que mais sucessos alcançaram, foram grandes senhores e a sua cultura de elevação, desportivismo, respeito e integridade transmitia-se a todos os atletas. 

Essa integridade não se confunde com ingenuidade ou moleza. Pelo contrário, é dela que vem a força para ultrapassar obstáculos e adversidades. Quem conhece o seu valor, quem tem honra não aceita ultrages e não deixa passar em claro a menor ofensa ao clube.

Sabemos que a nossa identidade nos impede de contar com a batota de banqueiros ou árbitros, por isso temos que trabalhar mais e melhor do que os outros, com mais raça, abnegação e inteligência.  

O Benfica vencedor trabalha, luta e fala pouco. Não se vangloria por uma conquista porque já está a pensar na próxima. 

Este é o ADN Benfica. Nas próximas eleições os sócios têm que escolher aquele que melhor representar estes valores. Alguém que tenha perfil, carácter e capacidade de liderança. O Benfica não se pode dar ao luxo de errar novamente. 


terça-feira, 27 de maio de 2025

Roubados, agredidos e gozados

 Todos temos amigos e familiares do Sporting.

O Sporting é obviamente um clube com muita gente não apenas "normal", mas gente de bem, com valores, desportivos e não só. Repito, todos temos familiares e amigos do Sporting de quem gostamos muito. 

Dito isto, o que aconteceu no Jamor não foi uma "festa". O que aconteceu no Jamor foi uma total indecência (para não dizer javardice) que envergonha o futebol nacional.



Sobre a arbitragem já falei - o Benfica foi espoliado de uma vitória que merecia e teria sido sua se os supostos árbitros não tivessem inclinado o campo de uma forma tão escandalosa.

Mas isso não é tudo. 

Ontem vi, pela primeira vez  desde os famigerados factos de domingo, parte de um programa de debate e ouvi Fernando Mendes justificar o pisão na cabeça com o very light que matou um adepto do Sporting nos anos 90. E quero começar justamente por aí.

Há uns anos estive numa final da Taça de Portugal e dois adeptos do Benfica à minha frente, já alcoolizados, entravam à minha frente. Um deles começou a cantar "very light olé". Agarrei-o pela t-shirt e disse-lhe "isso não". Ele ficou surpreendido mas aceitou e calou-se.

No domingo, uns energúmenos imitaram o som de um very light e pensei: "ainda vamos perder o jogo". Mas depois disse para mim mesmo: "não, os outros adeptos do Benfica não têm culpa destes idiotas e não merecem, vamos ganhar".

Sejamos claros: gente que goza com a morte de um inocente não merece nada de bom e tem de ser EXPULSA do Benfica. A próxima direcção do Benfica tem de ter a coragem de limpar a PORCARIA que existe no clube: os marginais, os criminosos. O Benfica não é isto e não pode admitir que gente desta ande entre os seus. 

Dito isto, houve maus comportamentos da parte de adeptos de ambos os clubes (dizem que houve cânticos racistas para com o nosso guarda redes), o que é difícil de controlar e não pode servir de desculpa para o que os intervenientes no jogo fazem. 

O Sporting empata quando deveria estar a perder por 2, pelo menos, e a jogar com 9, no máximo. Isso já sabemos.

Do que ainda não falei - e não vi ninguém falar - é da provocação de Harder aos adeptos do Benfica depois de marcar um golo. É isso a "festa do futebol"? Gozar com os adeptos adversários? Mandá-los calar? 

Harder teria de ter visto o cartão amarelo por gestos provocatórios, que seria o segundo. Seria expulso. De Godinho e Martins evidentemente nada se poderia esperar (os jornalistas da transmissão também nada disseram - ai se fosse ao contrário...), mas os próprios jogadores do Benfica deveriam ter rodeado o árbitro e não deixar passar a situação em claro. Já nem falo da situação de Belotti em que o banco do Benfica teria de ter entrado em campo e não deixar o jogo ser retomado até pelo menos o "jogador" que lhe pisa a cabeça ser expulso. Mas somos uns anjinhos e pelos vistos gostamos de ser sacos de pancada. E esquecemos o nosso lema...



Se as coisas tivessem ficado por aqui já seria muitíssimo mau. Mas os jogadores do Sporting ainda não estavam satisfeitos. Um jogador deles resolveu partilhar uma foto no balneário a provocar e insultar o nosso capitão, dando mais um exemplo de baixo nível e não saber ganhar. 

O pior estava porém ainda para vir: os jogadores do Sporting, incluindo o seu capitão, a exaltarem o jogador que criminosamente pisou a cabeça de Belotti, fazendo dele uma espécie de herói desta partida. E alguém da estrutura do Sporting ainda partilhou o vídeo nas redes sociais. Pelos vistos, "aqui nós pisa na cabeça" é motivo de orgulho para essa gente. Claramente alguém faltou à escola, mas pior do que isso faltam-lhes valores.



O Benfica precisa de um líder que saiba responder à altura quando alguém se atreve a tratar o  nosso clube desta forma.