quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Derrota devastadora

 Após uma exibição e resultado de sonho frente ao Atlético de Madrid, o Benfica fez um jogo terrível e foi derrotado em casa de forma clara por uma equipa mediana no panorama europeu.

A habitual palhaçada na Choupana e a paragem estúpida para jogos inúteis da seleção nacional ajudaram o Benfica? Voltar à competição com um jogo com o Pevidem ajuda? Naturalmente que não. Mas Lage também não se ajudou a si próprio nem à equipa. Claro que a derrota, tal como a morte, traz sempre desculpas. Mas se há jogadores que eu teria poupado, especialmente a 90 minutos, são Florentino e Aurnes. Isto era um jogo para Leandro Barreiro ter assumido a titularidade. Florentino e Aurnes não sabem jogar com pouca intensidade e chegaram à partida com o Feyenord em condições abaixo do ideal. O seu rendimento abaixo do habitual foi uma das causas por que perdemos o jogo.

Mas a partida com o Pevidem foi má a vários níveis e não augurou boas coisas para a jornada europeia. O Benfica voltou a não criar praticamente oportunidades de golo e venceu por uma margem embaraçosa uma equipa de amadores. Bruno Lage no final pareceu muito satisfeito, o que para mim é inexplicável.

O laxismo prolongou-se para a Liga dos Campeões. Os jogadores (e se calhar o treinador) acharam que ia ser fácil. Depois de vencer categoricamente o Atlético, que hipóteses teria o Feyenord? E isso é meio caminho para se perder. 

Tacticamente o Benfica foi surpreendido e superado. Logo no início começámos a pressionar a defesa adversária para tentar ganhar a bola, mas não o fizemos suficientemente bem e o adversário mostrou argumentos suficientes para se libertar da nossa pressão e depois sair em ataques rapidíssimo, com uma grande parte dos nossos jogadores já batidos. Isto foi óbvio ao cabo de 5 minutos mas continuámos a fazê-lo durante toda a primeira parte. Resultado: a equipa desgastou-se física e mentalmente, perdemos confiança e abrimos avenidas em direção à nossa baliza. Inversamente o adversário ganhou confiança. Sofremos 3 golos (um deles anulado, numa falta "suave" sobre Otamendi, que pouca influência teve no desfecho da jogada) e praticamente não fizemos um ataque de qualidade. Tivemos uma grande oportunidade num canto, com Bah a cabecear ao poste e um golo "anulado" (na verdade Akturkoglu estava tão claramente fora de jogo que o lance poderia ter sido imediatamente parado).

Na segunda parte o Benfica melhorou como não poderia deixar de ser, mas demorou demasiado a marcar. Aliás o vencedor do jogo só não ficou definido mais cedo por alguns centímetros, num livre lateral em que os holandeses fazem o que seria o 0-3, com a nossa defesa mais uma vez completamente batida. Foi por muito pouco. O Benfica faz então o 1-2 numa boa jogada, com alguma velocidade e objetividade e depois disso teve um bom período em que conseguiu encostar o adversário atrás. Nesse período há um excelente cabeceamento de Amdouni que se fosse mais desviado em relação ao guarda-redes seria golo. Mas foi Sol de pouca dura. Os holandeses voltaram a pegar no jogo e foi com total passividade da nossa defesa e de Trubin que, com alguma naturalidade, marcaram e fecharam o jogo.

Uma exibição desastrosa e com consequências devastadoras para as aspirações do Benfica. É que se instalou novamente a dúvida ao mesmo tempo que se perderam 3 pontos absolutamente cruciais. Agora vêm aí jogos muito mais difíceis. A jogar assim, com esta falta de intensidade e de rigor táctico seremos trucidados pelo Bayern. O Mónaco também está a jogar muito e a marcar muitos golos tendo derrotado o Barcelona.

Há coisas que não podem acontecer, há derrotas inadmissíveis e esta foi uma delas. O Sporting empatou em Eindhoven com o líder do campeonato holandês (9j - 9 v). O Benfica perdeu em casa com o 4° classificado (8j - 4v 4e) e poderia ter sido goleado. Também me preocupa o discurso de Lage que foi errático e confuso. Disse que havia que compreender por que perdemos (com o que eu concordo em absoluto) mas depois parece colocar tudo em supostos erros defensivos que deram os golos. Claro que houve erros e bem graves. Mas, para já não vai contar com os dois golos anulados, que poderiam perfeitamente ter dado em golos válidos e nos quais os erros são ainda mais caricatos. E depois vai branquear o facto de que fomos dominados e ultrapassados em todos os sectores (a começar pelo meio campo), durante grande parte do jogo. O nosso ataque voltou a ser inoperante. Tal como previ, Pavlidis não é o goleador de que necessitávamos e a saída de Marcos Leonardo foi um disparate. Ou seja, a análise, ao focar-se nos erros, especialmente o que deu o primeiro golo, vai perder de vista as verdadeiras causas pelas quais perdemos.

Tudo estava a correr bem. É preciso agora descer à terra e concentrarmo-nos nas competições internas. Aí não há desculpas para não ganhar pelo menos aos Estrelas da Amadora e afins, semana após semana. 

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Classe numa noite europeia à Benfica

 O jogo começou a ser ganho na escolha do 11.

Como escrevi, Bah é o lateral direito do Benfica e a solução Tomás Araújo não poderia senão ser transitória. Num jogo deste nível e intensidade precisávamos de Bah. Mas Lage fez uma coisa ainda mais inteligente que foi colocar simultaneamente Bah e Araújo no 11, deixando desta vez António Silva no banco. Aproveitou-se o bom momento do central (que além disso é mais técnico do que Silva) e Bah regressou ao 11 como tinha de ser. Por acaso as coisas até podiam ter corrido mal e o jogo ter sido completamente diferente, logo por aquele lado. É que ainda no primeiro minuto Araújo tenta fintar um adversário, perde a bola quase sem colegas atrás de si e dá azo a um lance que foi bem resolvido mas que poderia ter sido de muito perigo. No entanto esse lance não gerou qualquer intranquilidade, fosse em Araújo, que embarcou para uma exibição sem nada a apontar, fosse na restante equipa que vulgarizou por completo um Atlético de Madrid que ainda não tinha perdido esta época, nem sequer contra o super Real Madrid. Nota ainda para a manutenção de Pavlidis no 11, quando alguns defendiam que se deveria jogar sem avançado fixo. Pelo contrário, Pavlidis permitiu fixar os centrais do Atleti e ao mesmo tempo serviu de ponto de apoio para os nossos ataques, tendo estado perto de marcar duas vezes e tendo conquistado o penalti que permitiu à equipa tranquilizar ainda mais. 

Galeria de fotos: clicar


Também escrevi aqui, logo antes do jogo, que seria muito difícil bater esta equipa madrilena, cínica e simultaneamente muito talentosa. Uma equipa onde há 4 campeões do mundo. Uma equipa que jogou com um ataque extremamente móvel e perigoso. Eu tinha até algum receio de que um eventual resultado menos bom pudesse colocar em causa o momento positivo que se vive, quer a nível futebolístico quer em termos de empatia e ambiente entre jogadores e adeptos. Obviamente estava muito longe de imaginar uma goleada por 4-0!!

Foi uma noite europeia, uma noite de gala na qual o Benfica foi superior em tudo ao Atlético de Madrid, praticamente do princípio ao fim. A dada altura foi bem claro que os jogadores da equipa espanhola desistiram e apenas queriam que o jogo acabasse para evitar o avolumar do resultado. 

Foi uma noite de grandes exibições no Benfica: Aurnes, Florentino, Carreras, Di Maria, Kokçu, Bah, Otamendi, Akturkoglu, Pavlidis, todos estiveram a um nível elevadíssimo. Eu hesitaria no homem do jogo, embora Carreras tenha sido a maior surpresa. A segurança e a confiança que demonstrou, com apontamentos de classe, foram algo de que não estava necessariamente à espera num jogo de tamanha responsabilidade. Tem sido dos jogadores que mais tem amadurecido e subido de rendimento esta época. O passe de Aurnes a isolar Akturkoglu, o movimento deste e a finalização foram talvez o ponto mais alto do jogo que de resto só teve golos de bola parada. É que tudo é muito rápido e feito praticamente de olhos fechados. Florentino foi gigante no meio campo, não se tendo limitado a cortar (muitas) bolas: também soube endossar jogo com qualidade. Mais uma vez quem veio do banco acrescentou: Amdouni ganhou um penalti; Beste assistiu num excelente canto em que a bola baixou subitamente caindo mesmo na cabeça de Bah; Leandro Barreiro deu pulmão nos últimos minutos, tendo ainda feito um excelente corte em carrinho que proporcionou mais uma oportunidade e Rollheiser também voltou a jogar muito bem. Já falei de Pavlidis que terá feito um dos melhores jogos enquanto referência atacante. Tudo somado houve Benfica a mais para um Atlético de Madrid que claramente não conseguiu recuperar do derbi de Domingo e foi simplesmente atropelado.













Há agora que dar continuidade contra o Nacional. Depois virá um outro grande desafio: fazer com que a pausa para as seleções não interrompa a série de bons resultados e boas exibições.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Equipa cínica e difícil de bater

 É como vejo o Atlético de Madrid. E não digo cínica (podia dizer também traiçoeira) num sentido moral negativo. Simplesmente têm um futebol que não necessita de muita posse de bola e muitas oportunidades para marcar. Viu-se com o Real Madrid como são difíceis de bater e lutam até ao fim. Mas atenção, não nos confundamos: o Atético não é meramente uma "equipa de combate"; há qualidade a rodos no seu plantel. Será muito, mas mesmo muito difícil.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

O novo prodígio inglês

 Guardiola também se engana. 

No início da época passada um jovem jogador inglês relativamente desconhecido para o grande público foi contratado pelo Chelsea ao Manchester City por 47 milhões de euros. No meio de uma loucura despesista iniciada com a compra de Enzo Férnandes ao Benfica por 120 milhões, e que ultrapassou já os 1000 milhões, a contratação de Cole Palmer ao City foi apenas mais uma e até passou relativamente despercebida.

Palmer é produto das escolas do City e deu nas vistas nos escalões jovens. Em 2020 teve a sua primeira aparição pela equipa principal e um ano depois marcou o primeiro golo na Taça da Liga Inglesa. Teria mais algumas aparições e golos (incluindo na final da Supertaça Europeia), mas numa equipa com tanto talento, as oportunidades eram limitadas. 

Surgiu o Chelsea e Palmer transferiu-se, tendo sido eleito o melhor jogador da equipa na época passada. Fez 27 golos e 15 assistências em todas as competições.

Este sábado Palmer fez 4 golos ao Brighton, tornando-se o primeiro jogador a fazer um poker na primeira parte de um jogo. Um caso sério a acompanhar. O Chelsea aliás, após uma época de absoluto desastre em 2022-23 no imediato pós Abramovic em que ficaram em 12º lugar com mais derrotas do que vitórias e um ano seguinte desapontante, mas melhor, em que ficaram em 6º, terá, tudo o indica, este ano uma palavra a dizer na luta pelos primeiros lugares. João Félix está pois em boa companhia para evoluir e finalmente se afirmar:muito embora seja evidente que a concorrência no plantel será fortíssima. 

domingo, 29 de setembro de 2024

Galo bateu o pé mas Águia deu-lhe a mão

Foi um jogo bem disputado e com emoção qb, aquele a que cerca de 60.000 espectadores assistiram na Luz esta noite de sábado. 

O Benfica confirmou os sinais positivos dos últimos jogos, mas voltou a sofrer um golo logo no início da partida, na primeira jogada de perigo do adversário, neste caso o Gil Vicente. E perigo relativo, diga-se, pelo menos na aparência. É que o lance parecia relativamente controlado, com a defesa posicionada e poucos adversários na zona de finalização. No entanto um passe magistral de Fujimoto (um jogador para voos mais altos do que um Galo) e uma desmarcação igualmente inteligente do avançado gilista inventaram uma jogada que surpreendeu por completo o Benfica. Na cara de Trubin, Félix Correia atirou de primeira e fez o golo.

Mais um jogo na Luz em que o Benfica entrou praticamente a perder e necessitava a partir desse momento de marcar pelo menos dois golos. 

A equipa não acusou o golpe e continuou a executar o plano delineado. Cerca de 9 minutos mais tarde, num canto de Di Maria, surgiu o empate através de um excelente cabeceamento de Otamendi. O capitão elevou-se até ao terceiro anel e no segundo poste cabeceou para o outro lado da baliza, sem hipóteses para o guarda-redes do Gil. E 8 minutos depois, desta vez de bola corrida, mas novamente de cabeça, o Benfica fez a reviravolta. Desta vez foi Aurnes a cruzar, mais uma vez da direita, e Akturkoglu cabeceou como mandam as regras, de cima para baixo, com força (beneficiando do facto de ter os dois pés no chão) para a direita e fora do alcance do guarda-redes. Mais um óptimo golo - e bem importante - do extremo turco.

O mais difícil estava feito, ainda na primeira parte. O Benfica continuou num bom ritmo, mas o Gil Vicente não desarmou nem se desorganizou, mantendo a incerteza sobre o desfecho da partida. 

Na segunda parte o Benfica entrou bem, mas o golo da tranquilidade não aparecia e sentia-se que faltava alguma coisa. Com o jogo a chegar à fase decisiva e com o resultado na vantagem mínima, Lage mexeu na equipa - e muito bem.

Elogiei aqui Amdouni e Cabral pelas recentes exibições defendendo que mereciam mais minutos e Lage colocou os dois em campo assim como Rollheiser aos 68 minutos. O treinador do Benfica foi proactivo e não ficou à espera do que poderia acontecer. E 10 minutos mais tarde, as substituições deram frutos. Rollheiser jogou para Amdouni, este deu duas passadas largas e em corrida e sem pedir licença disparou forte e colocado para a esquerda do guarda-redes. Mais um excelente golo, do tipo que eu gosto: futebol corrido, remate fácil e espontâneo. Um prémio justo para um jogador que já tinha atirado duas vezes aos ferros nos últimos jogos mas ainda estava à procura do primeiro golo pelo Benfica.

O jogo ficou resolvido (apesar do Gil ainda ter tido uma grande oportunidade para reduzir, com Trubin a fazer bem a mancha e evitar o golo). Nos últimos minutos vieram ainda mais dois golos: o terceiro do jogo de cabeça e segundo de canto (bem batido por Best) através de Florentino e um de Rollheiser, aí sim, com muitas culpas do guarda-redes - uma verdadeira oferta.

Tudo somado, foi um bom jogo do Benfica, no qual o Gil Vicente vendeu cara a derrota e não mereceria sofrer uma goleada. Mas o futebol é assim e desta vez o Benfica foi bastante eficaz. 

Nota para a titularidade de Tomás Araújo, algo que me surpreendeu um pouco, embora admita que, tendo Bah sofrido um golpe fundo na perna, Lage tenha preferido não arriscar. Araújo não comprometeu, até é um jogador tecnicamente evoluído e teve um par de chegadas à linha, mas a dinâmica que Bah dá é incomparável, pelo que é o titular em circunstâncias normais.

Em termos de exibições, toda a equipa esteve em bom plano (Pavlidis terá sido dos menos felizes, não porque tenha jogado mal mas porque não marcou nem teve quase finalizações - situação a rever), mas destaco Florentino, Aurnes, Akturkoglu e Amdouni (apesar do pouco tempo em jogo, teve um impacto decisivo). Gostei muito da dinâmica pelo corredor direito com Di Maria e Aurnes que carrilou muito jogo ofensivo na primeira parte. Di Maria também esteve bem - está mais disciplinado e fresco e o seu talento está a sobressair mais. Mas Florentino com imensas recuperações de bola e um golo seria talvez a minha escolha para homem do jogo (ainda que o prémio oficial tenha ido para Aurnes). Otamendi e Silva também estiveram bem. O capitão assinalou os 200 jogos pelo Benfica com um grande golo e António Silva também fez uma centena de jogos ontem. Absolutamente notável - é importante não esquecer que ainda não completou 21 anos.

Embandeirar em arco? Certamente que não. O Benfica tem obrigação de vencer os jogos para o campeonato, sobretudo em casa e não há qualquer razão para euforias, sobretudo quando estamos a 5 pontos do 1° lugar e, caso o Porto vença, ainda em 3°. No entanto o momento é positivo e devemos desfrutar dele. O Benfica jogou bem, ganhou e goleou. Há que continuar neste caminho. 

sábado, 28 de setembro de 2024

Antevisão Benfica-Gil Vicente e outros jogos

O Glorioso joga amanhã em casa. Sinto que estamos a subir de rendimento e espero que este jogo sirva para o confirmar. O Benfica tem naturalmente de vencer os seus jogos para, no imediato, se aproximar dos lugares acima, e em casa essa obrigação é ainda maior. 

O Gil Vicente é o campeão dos empates até agora, nada menos do que 4 em 6 jogos. 

Uma curiosidade para este jogo é se Lage manterá o 11 ou fará alterações. Uma natural será o regresso de Bah que o nosso treinador confirmou estar disponível. De recordar que quarta-feira voltamos a jogar na Luz, desta vez para receber o Atlético de Madrid. A carga competitiva vai aumentando pelo que ao meu ver se deve promover alguma rotação. Por outro lado estamos ainda em consolidação pelo que também não se quer mexer demais. Veremos o que decide Lage.

Em termos de outras Ligas, o destaque vai para o nosso adversário de quarta-feira na Liga dos Campeões, o Atlético, que recebe o Real Madrid domingo às 20h de Portugal, 21h em Espanha. Note-se que o Atlético de Madrid já jogou durante a semana para La Liga: venceu por um a zero o Celta, em Vigo na quinta-feira. Na Alemanha também haverá um grande jogo: Bayern-Bayer  - 17.30h de sábado. Em Inglaterra o City vai a Newcastle (sábado 12.30h) e o United recebe o Tottenham (domingo 16.30h).


quarta-feira, 25 de setembro de 2024

O que Lage precisa de melhorar




1. Bruno Lage entrou bem no Benfica e tem tomado boas decisões. 

2. Depois de vencer os três jogos disputados, alguns comentadores defenderam que afinal os adversários eram fraquíssimos e que o Benfica até deveria ter vencido mais facilmente. Entendamo-nos: uma equipa joga sempre o que a outra deixa. As equipas contra as quais o Benfica jogou são evidentemente menos fortes e têm menos soluções. Mas cada jogo tem a sua história e ter valores individuais superiores não garante coisa nenhuma, é preciso depois ter a capacidade de traduzir essa superioridade em jogo jogado e, mais importante ainda, em golos.

Mais: o Santa Clara chegou à Luz com o estatuto de surpresa do campeonato até ao momento e entrou no jogo a ganhar; o Estrela Vermelha não perdia em casa desde uma derrota pela margem mínima contra o Manchester City ainda no ano passado; e as deslocações ao Bessa não têm sido fáceis nos últimos anos. 

Nessa medida as vitórias do Benfica têm mérito.

3. Dito isto, há muita coisa a melhorar. Temos de ter a percepção clara de que o Sporting está fortíssimo, o que reduz a margem erro para quase zero, até porque já estamos a 5 pontos. E temos de perceber que temos de ser mais consistentes e competitivos se queremos ter sucesso já nesta época. 

4. Aspectos em que temos de melhorar:

a) consistência e rigor defensivo. 

António Silva está a subir de forma. Otamendi também. Mas ainda há erros e falhas de concentração que precisamos de reduzir ao mínimo. Os golos contra o Santa Clara e o Estrela Vermelha são disso exemplos. Neste último, não podem ir os dois centrais ao mesmo adversário, deixando outro sozinho, enquanto um lateral coloca este último em jogo e isolado frente ao guarda redes. Carreras tem estado muito bem, mas ainda é verde e haverão dores de crescimento (espero que Best possa ser alternativa para permitir ao espanhol esse tempo e espaço para melhorar). Na direita ainda não há alternativa a Bah. Apesar de Tomás Araújo ter feito um jogo consistente com o Boavista falta ver contra um adversário mais forte. Kaboré precisa ainda de ganhar rotinas.

b) controlo de jogo com bola 

O Benfica resolveu os últimos dois jogos na primeira parte e depois procurou gerir. Mas contra o Estrela Vermelha, que pressionou muito, o Benfica não foi capaz de manter posses de bola prolongadas e com isso retirar ímpeto ao adversário. É importante conseguirmos isso e temos jogadores para tal, sobretudo com este meio campo a três. 

c) condição física 

Tem-se notado uma quebra de rendimento da primeira para a segunda parte. Isso tem a ver também com a condição física. 

d) rotação e gestão do plantel 

Com a chegada de um novo treinador os jogadores ganham uma motivação extra e um novo ânimo porque se querem mostrar e reclamar mais oportunidades. Mas isso não dura sempre. Lage tem muitas e boas soluções e precisa de as utilizar. Leandro Barreiro já mostrou qualidade. Precisa de jogar mais tempo. É um jogador com boa rotação e capacidade de ganhar e manter a posse de bola. Amdouni tem uma qualidade acima da média. Akturkoglu mostrou já imensa qualidade e é naturalmente titular, mas Amdouni, seja na esquerda ou na direita, tem de jogar mais tempo. Arthur Cabral está a mostrar uma grande determinação e a desequilibrar as defesas adversárias com a sua capacidade física. Precisa de mais tempo. 

Este é um dos segredos do sucesso de Rúben Amorim: a rotação do plantel e a gestão física e mental que assim consegue, retirando o melhor de cada um e para a equipa. Rúben roda o meio campo, roda os centrais (incluindo com substituições durante o jogo, se necessário logo ao intervalo) e roda os alas. Só não roda (nos jogos "a doer", porque nos outros também os deixa no banco) Pedro Gonçalves e Gyokeres porque são os grandes desequilibradores da equipa. Lage precisa de aplicar este princípio no Benfica. 

Principalmente este ano em que o número de jogos roçará o absurdo não faz sentido nenhum estar a jogar sempre com os mesmos. Há que promover muita rotação. E pelo que se viu temos um plantel equilibrado e que permitirá fazê-lo.

e) eficácia atacante

Alguns treinadores e comentadores defendem que só se pode treinar o processo atacante no sentido da dinâmica e da criação de oportunidades e que depois a concretização, a finalização, não se treina, dependendo do jogador e do momento. Eu percebo o argumento mas não estou totalmente de acordo. Há aspectos que influenciam fortemente a probabilidade da bola entrar ou não. Um é a fluidez do jogo atacante. Se as bolas que chegam à zona de definição são já muito em esforço, a probabilidade de ser golo diminiu. Se resultam de um processo atacante bem oleado e chegam com mais naturalidade, o índice de concretização aumenta. Por outro lado, claro que os avançados podem e devem treinar a concretização e o remate. Eusébio fazia-o, Ronaldo idem. Um outro aspecto ainda é a tranquilidade. Se a equipa joga sobre brasas vai falhar mais, ao passo que se os processos estão consolidados e há mais segurança no que se faz, vai-se marcar mais. Por isso penso que podemos melhorar neste capítulo.

f) discurso / comunicação

Bruno Lage teve uma mensagem positiva e que se louva ao chegar ao Benfica, apelando à união, ao benfiquismo e prometendo trabalho e futebol atacante com os adeptos gostam. Mas isto é um discurso de entrada, não é algo que se possa sustentar ao longo de uma época inteira. Um treinador hoje é também um comunicador. Amorim é muito bom nisto, tem uma certa naturalidade que Lage nunca conseguirá. No entanto o Benfica tem muitos profissionais a trabalhar nesta área. Eles precisam de ajudar o treinador a comunicar de uma forma eficaz e motivadora ao longo de uma época longa de modo a se manter o élan. Não queremos revelar demasiado sobre a forma de jogar com análises demasiado detalhadas que dêem armas aos adversários mas também não se pode só dizer lugares comuns ou coisas redondas. A mensagem tem de ser dirigida de forma a alcançar objectivos pré-definidos e não ir ao sabor do que os média ou os nossos adversários querem. Deve ser proativa e não reactiva.

5. Uma nota final para a arbitragem. É um tema sobre o qual cada vez tenho menos vontade de ou paciência para falar, mas é importante que o Benfica esteja atento. Vejo os árbitros cada vez mais "simpáticos" para com o Sporting, a "darem" penalties "suaves", muito facilmente, e poucos cartões aos seus jogadores e muitos aos adversários. Com o Porto as coisas são semelhantes. Já em relação ao Benfica parece continuar a existir um estigma e um receio grande em que possa ficar a imagem de que estão a beneficiar o Benfica. Pouco mudou nos últimos anos. Os suspeitos do costume ajudam à festa: a SportTV e a imprensa desportiva continuam a ter um viés anti-Benfica, isso é absolutamente indiscutível. Como o combater? Nas instâncias relevantes da Liga e Federação, mas também através da comunicação. O Benfica tem de saber usar melhor o poder que os seus adeptos lhe conferem. Não queremos ser beneficiados mas não podemos aceitar ser constantemente prejudicados.