A FIFA cedeu à pressão das tecnologias e permitiu a introdução do vídeo-árbitro no futebol profissional.
Benfica e Guimarães serão no domingo as cobaias nacionais para este exercício que alguns iluminados acham que será a salvação do futebol, mas sobre o qual tenho as maiores reservas.
A primeira experiência ocorreu, recorde-se no mundial de clubes e a trapalhada foi completa: o jogo a ser interrompido para "voltar" a uma situação que ocorrera minutos antes, ninguém sem saber muito bem o que fazer, os jogadores a manifestarem veementes protestos. Dir-se-á que com a prática as coisas melhorarão mas eu estou convencido de que algo mudará no futebol para pior e vou explicar as razões para tal.
Um dos argumentos normalmente apresentados em favor do vídeo-árbitro é a sua utilização no râguebi e no futebol americano. Se estes desportos o usam e com "sucesso", então o futebol está a ser retrógrado em não introduzir a análise das imagens para avaliar os lances.
Mas será que a comparação faz sentido? A meu ver não. O futebol americano é um desporto completamente desinteressante para a maioria dos europeus pelo facto de estar sempre parado. Joga-se alguns segundos, há uma placagem ou um passe perdido e o jogo é interrompido para novamente organizar as linhas. Cada jogo demora horas. O râguebi, sendo um jogo mais movimentado, não é no entanto comparável ao futebol na velocidade do jogo. Existem formações espontâneas e formações ordenadas (incluindo os lançamentos laterais) nas quais a bola está parada durante largos segundos e a velocidade média dos jogadores não se compara ao futebol. Para perceber a diferença de dinâmica dos dois jogos basta pensar que para 15 jogadores de râguebi existem apenas 10+1 no futebol. Ao que acresce que o campo de futebol é maior. No râguebi a progressão é feita através de jogadores que correm com a bola (e só a podem passar para trás), ao passo que no futebol a bola pode ser passada rapidamente para a frente e a longas distâncias.
Consequentemente o futebol é um jogo muito mais rápido do que o râguebi, a que acresce que tem uma maior percentagem de jogo jogado (eliminando os tempos mortos). Enquanto no râguebi o jogo jogado é em média cerca de 45%, no futebol este valor sobe para quase 60% (números médios nos jogos internacionais). Isto para já nem falar do futebol americano. Aí o tempo de jogo diminui para uns míseros 11 minutos... Ao longo de um jogo que se prolonga por 4 horas... Isto pode ser um sucesso para os patrocinadores que têm tempo televisivo quase inesgotável mas dificilmente o será para os espectadores.
As consequências são as seguintes: se no râguebi, um jogo já de si lento, o impacto da paragem para revisão dos lances pelo vídeo-árbitro pode ser relativamente diluído, no futebol esse impacto será muito maior, representando uma quebra importante no ritmo de jogo. Às paragens de jogo para assistência aos jogadores (paragens que desagradam muito aos espectadores) acrescentar-se-ão timeouts arbitrais. A fluidez e o ritmo de jogo serão fortemente afectados. O impacto negativo para o jogo enquanto tal poderá ser brutal.
Acresce que o vídeo-árbitro, ao contrário do que pensam os seus grandes partidário, não resolverá os problemas da arbitragem e não eliminará as polémicas.
Por todas estas razões tenho as maiores dúvidas de que este sistema venha a melhorar o futebol. Pelo contrário. A não ser que sejam introduzidas regras muito claras e que o recurso ao sistema seja apenas excepcional, para corrigir ou impedir erros flagrantes, há um risco grande do vídeo-árbitro vir a estragar o futebol tal como o conhecemos e apreciamos.
Se for usado com critério e para situações bem definidas, pode ser bastante útil e eliminar erros grosseiros.
ResponderEliminarAquando de um golo ou da marcação de um penalty, há sempre paragens longas que podem ser usadas para análise sem afectar o ritmo do jogo.
No mundial de sub 20 que está a ocorrer, vimos como o video-árbitro permitiu uma quebra de 4 minutos de jogo. Pergunto: como serão estes minutos compensados pelos árbitros perante equipas que só fazem anti-jogo?
ResponderEliminarAlgo me diz que esta medida irá beneficiar e muito as equipas pequenas que usam e abusam das lesões que surgem em cada contacto físico durante a partida de futebol, principalmente nos momentos em que estão em situação de vantagem.