sábado, 22 de novembro de 2025

O dilema do Benfica

 Depois de algumas exibições menos conseguidas e uma derrota escandalosa com o Qarabag, Rui Costa viu-se em apuros, atendendo a que as eleições estavam à porta. Foi pelo caminho do costume, o de despedir o treinador (possivelmente após "sentir o balneário" também). Com duas apostas erradas em dois anos seguidos, Rui Costa pensou que não podia falhar de novo e foi buscar o treinador português com maior nome e currículo da história. A oportunidade estava alí (se calhar tinha sido alimentada) e matavam-se dois coelhos de uma cajadada.

Nas eleições os sócios optaram pela continuidade, mas pesaram igualmente dois outros factores: Mourinho e a falta de alternativa. Em relação ao segundo factor, estou à vontade: por diversas razões que não importa aqui enumerar, Noronha Lopes contaria com o meu apoio "natural". Mas a verdade é que a sua campanha foi uma completa desilusão a vários níveis. Para começar. não mostrou a liderança necessária para presidir a uma instituição como o Benfica. Mas além disso apresentou Nuno Gomes como figura de destaque da estrutura do futebol do Benfica. Ora, qualquer pessoa minimamente atenta, por muito que possa gostar de Nuno Gomes, percebe que ele não tem o perfil, a personalidade ou os conhecimentos para desempenhar um tal papel. 

Por isso entendo a decisão dos sócios: Rui Costa entrou num período conturbado, é benfiquista de coração, após 4 anos tem mais experiência, foi buscar Mourinho, não existe uma alternativa verdadeiramente consistente, nos debates foi mais presidenciável, vamos-lhe dar um mandato claro para poder ter uma presidência forte nos próximos 4 anos.

O problema é que a dinâmica que se pretendia criar foi imediatamente arruinada com uma derrota com o Leverkussen e um empate com o Casa Pia. Ambos os jogos em casa.

A esperança dos benfiquistas em Mourinho é a mesma que a minha (que fui no passado extremamente crítico do setubalense e cheguei mesmo aqui a escrever, noutra altura, contra a sua vinda): a de que alguém que tem tanta experiência no futebol mundial e tantos títulos seja capaz de colocar o Benfica num patamar superior. Claramente Mourinho sabe mais de futebol a dormir do que eu acordado. Acreditei (acreditámos todos) que o evidente declínio na sua carreira, não fosse tão acentuado que o impedisse de fazer um bom trabalho no Benfica e, mais até do que isso, que o Benfica pudesse mesmo marcar um ponto de viragem para um novo possível ciclo vitorioso. 

Agora a questão que se coloca é se prevalecerá esse cenário (que faz sentido) ou se pelo contrário se confirmará um declínio irreversível e, neste caso, mesmo a última oportunidade de Mourinho de treinar um grande clube (ele próprio em decadência - há já muitos anos, para não dizer décadas) e ter sucesso. Para já os sinais vão no sentido da segunda possibilidade.

O dilema que se coloca a Rui Costa é quanto tempo deverá dar a Mourinho para poder dar à volta à situação. Sejamos honestos: esta época está perto de estar perdida. A qualificação na Champions é uma mera ilusão e o campeonato também começa a ficar muito difícil. Mas mais ainda do que isso, a qualidade de jogo do Benfica é menos do que sofrível. Diz-se que os jogadores não prestam, que o plantel é desequilibrado. Quando chegou ao Benfica Jorge Jesus disse que ia colocar os jogadores a jogar o dobro. E conseguiu talvez mais do que isso. Neste momento Mourinho colocou os jogadores a jogar metade do que fizeram com Lage.

Note-se que não estou a proferir um juízo definitivo. Ainda quero acreditar no primeiro cenário. Mourinho merece respeito, mais que não seja pelo currículo.

Em Inglaterra Amorim fez uma primeira época (incompleta) absolutamente atroz no United, começou pessimamente a segunda época e teve recentemente o apoio do principal diretor do clube, após o que a coisa melhorou e poderá ter começado a encarrilar.

A minha perspectiva é de que este é o ano zero de Mourinho e lhe deve ser dada tolerância (não se criando a instabilidade do costume no Benfica). Mas para isso os sócios terão de ser bastante pacientes. 

Se as coisas começarem a derivar muito, se o Benfica perder, em breve, a possibilidade de disputar o título, se perder em casa com o Sporting de forma clara, se for eliminado da Taça por um outro Atético ou se acabar a fase de qualificação da Champions em último lugar, terá Rui Costa a capacidade de segurar Mourinho? E se este começar a disparar em todas as direções (como fez no Fenerbahçe) ou a criticar os próprios sócios (como fez Schmidt), algo que os benfiquistas não aceitam (porque são "os melhores adeptos do mundo")?

Uma outra nota: o segundo ano de Mourinho costuma ser bom, mas o terceiro não. Depois do segundo ano os jogadores começam a dar sinais de cansaço com os métodos. A personalidade muito marcada de Mourinho leva a isso. Esse é mais um factor para Rui Costa ter em conta.

Mas o dilema do Benfica é outro. É um dilema de identidade. E esse não será resolvido nem por Rui Costa, nem por Mourinho. O Benfica foi capturado, quer ao nível dos dirigentes, quer dos associados, por interesses que são contraditórios com a sua própria matriz mas que são demasiado poderosos para ser desalojados sem criar uma crise profunda. No entanto enquanto isso não for resolvido o Benfica não voltará a viver os seus dias de glória.  

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Exageros à portuguesa

 Portugal venceu a Arménia por 9-1, um resultado que "já não se usa", numa exibição memorável, mas obviamente frente a um adversário demasiado fraco para estas andanças. 



Mais uma vez ficou claro que a seleção joga melhor sem Ronaldo, o que é uma evidência há muito. Já aqui escrevi (e nada me move contra Cristiano que merece todo o respeito pelo que fez) que uma equipa de futebol moderno não pode jogar com 10, ou seja com um jogador que se limita a estar perto da área para finalizar, não pressiona e quase não cria. 

Nas últimas competições, nomeadamente Mundiais e Europeus, Ronaldo foi uma nulidade. 


No mundial de 2022 marcou um único golo: de penalti e na primeira jornada. Depois passou a suplente naquele que foi talvez o melhor jogo de Portugal numa fase final nos últimos 20 anos: os 6-1 à Suíça, com hat-trick de Gonçalo Ramos. Portugal seria eliminado por Marrocos num jogo em que Diogo Costa comprometeu. 

No Europeu de 2024 Ronaldo não marcou uma única vez: falhou um penalti contra a Eslovénia e contra a França atirou uma bola de golo praticamente para fora do estádio.

Mais uma vez, não estou a desmerecer o que Cristiano fez. Lembro-me de alguns jogos extraordinários em que carregou a equipa (Espanha, Hungria, playoff contra a Suécia). E na Liga das Nações marcou na meia final e na final. No entanto nos últimos europeus e mundiais as suas prestações foram medíocres.



O título deste post tem a ver com as aspirações de Portugal no Mundial. Leio por todo o lado que o vamos ganhar, que é hora de Portugal ser campeão do mundo. Até o Presidente e o PM se pronunciam sobre o tema. Apenas a "Espanha e França dão mostras de nos poder travar" escreve o chefe de redação do "Record". 

Ora, concordando que Portugal tem uma grande seleção, com um meio campo de luxo e dois laterais que estão no patamar dos melhores do mundo, convém ter calma nestas coisas. Portugal perdeu com a Irlanda, uma seleção esforçada mas mediana e empatou com a Hungria em casa.

Inglaterra e Noruega fizeram qualificações perfeitas, ou seja só com vitórias e a Espanha também o pode fazer. A Inglaterra não sofreu um único golo na fase de qualificação! Noruega marcou... 37 golos em 8 jogos! Uma média de 4,6 por jogo...

O Brasil e a Argentina, que para os comentadores profissionais parecem não contar têm "apenas" 5 e 3 campenatos do mundo respetivamente. A Argentina além disso é a campeã em título. Alemanha e Itália têm 4 mundiais cada uma. França tem 2 e será sempre candidata.

Estas certezas de que temos os melhores jogadores do mundo também precisam de ser acalmadas. Tais excitações não costumam dar grande resultado. Em termos técnicos estamos entre os melhores mas em termos atléticos estamos longe disso. As bolas paradas são um problema para nós por essa razão - e o guarda-redes (o tal que também garantem ser o melhor do mundo - está longe disso) não ajuda. 

Portugal é muito forte no meio campo (sem ser muito poderoso fisicamente), mas tem problemas para desequilibrar defesas fechadas porque os seus extremos e avançados são apenas razoáveis.

A Noruega tem Haland, Inglaterra Kane (mas também Saka, Rashford, Palmer e Foden), Espanha Yamal, França Mbappé e Dembélé, Brasil Vinicius (mais Raphinha, Rodrygo e Matheus Cunha). Todos estes jogadores são fortes, velozes, capazes de desequilibrar defesas e resolver jogos. Já Portugal tem apenas um jogador com este perfil que é Leão, mas que não se afirma na seleção. Além disso há a questão Ronaldo de que já falei. Se não há dúvida de que deve ser convocado, se o estatuto for de que é sempre titular, estamos em maus lençóis. 

Portugal pode, num dia bom, vencer qualquer seleção do mundo. Já o provámos. Mas isso também a Alemanha, a França, a Argentina, o Brasil, a Espanha, a própria Inglaterra e se calhar outras. 

Nunca estivemos numa final de um mundial. Não somos favoritos. Temos de baixar as expectativas e descer à terra. 



Ver também https://justicabenfiquista.blogspot.com/2024/07/espanha-argentina-e-os-melhores-do-mundo.html 

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Estranho

 O Benfica continua com zero pontos na Liga dos Campeões (facto) e o apuramento é uma miragem (evidência). 

Mas para além disto há uma realidade que é difícil de explicar. Por exemplo a quantidade de bolas à barra que já enviámos ou de oportunidades flagrantes não concretizadas ou até de golos/assistências para a nossa própria baliza. 

Ontem a "injustiça" do resultado foi por demais evidente: desde decisões desfavoráveis da arbitragem a bolas nos ferros, oportunidades flagrantes desperdiçadas, um golo sofrido algo caricato e anti-jogo permanentes do adversário, tudo correu contra o Benfica.

Na realidade o Leverkussen estava a jogar para não perder e conseguiu ganhar o jogo, ao passo que com o Benfica aconteceu evidentemente o contrário. 

A Champions está perdida (nunca a iríamos ganhar de qualquer modo), mas arriscamo-nos a ter uma prestação escandalosa.

A questão é que as coisas começaram mal, com o Qarabag evidentemente, mas até antes disso, com o sorteio. É verdade que deveríamos ter 6 pontos, mas a sorte não tem querido nada com o Benfica. Mesmo com o Qarabag, o resultado poderia ter sido diferente com um pouquinho de felicidade. Lukebakio é o rosto mais visível desta maré azarada, porque já podia ter uns 4 golos e tem zero. Nem Pavlidis ontem acertou nas decisões. 

Há que esquecer mais esta derrota, apesar de dolorosa, e andar para a frente porque o campeonato é o grande objetivo e é realista. Isto apesar do Sporting ter melhor plantel e e Porto estar com melhor dinâmica. Temos de vencer todos os jogos até janeiro e nessa altura colmatar as deficiências do plantel (apesar de Ríos, Enzo e outros começarem finalmente a aparecer e os lesionados estarem mais perto de regressar).