terça-feira, 12 de março de 2019

Sinais preocupantes - decisões a tomar

Saído do dragão em 1º lugar, com uma vitória feliz mas merecida, o Benfica tinha tudo para ser campeão: uma recuperação que chegou a parecer impossível e um ascendente moral sobre o principal adversário na luta pelo título.

No entanto, no futebol como na vida, as coisas são efémeras e uma derrota e uma exibição lamentável em Zagreb atiraram borda fora esse capital, criando dúvidas e desconfianças onde antes havia confiança e vontade de vencer.

O que se passou é um remake, sem tirar nem pôr, do que aconteceu há 6 épocas, quando a vitória na Madeira foi festejada como a conquista antecipada do título. Com essa vitória até podíamos perder no dragão (na penúltima jornada), bastando depois ganhar o último jogo em casa (penso que com o Moreirense) para assegurar o título. Acontece que antes ainda do jogo no dragão recebíamos o Estoril. Já dávamos esse jogo por ganho... Segundo consta, após a vitória no Funchal houve champagne... Só que um jogo desastrado na Luz fez-nos entrar no dragão sabendo que uma derrota nos desapossava do 1º lugar na penúltima jornada. E foi isso mesmo que aconteceu... aos 92 minutos.

Mau demais para ser verdade. Quase surreal.

Mas a repetição da história não fica por aí. Na primeira volta deste campeonato ganhámos ao Porto, passando para a liderança e na jornada seguinte perdemos com o Belenenses e perdendo a liderança. Que só recuperámos na jornada passada.

Relativamente ao que aconteceu há 6 anos e ao que se passou na primeira volta há apenas uma diferença: neste momento continuamos em 1º lugar, se bem que por um fio. A nossa margem de erro é neste momento nula, porque sabemos que a bem ou a mal, com mais ou menos VAR, aconchegos e empurrões, se o Porto se apanhar em 1º já não perde pontos até ao fim do campeonato.

E vamos jogar a Moreira de Cónegos no Domingo...

Deixando de lado estas semelhanças e o lado psicológico da competição (que é evidentemente importante), a verdade é que há outros factores que explicam esta tremenda quebra do Benfica.

Há cansaço físico e psicológico. Há falta de opções no plantel. 

Estas duas situações estão obviamente interligadas. A falta de opções leva a que tenham que jogar sempre os mesmos (especialmente na defesa e no ataque) e daí resulta fadiga - cansaço competitivo que leva a erros como os de Rúben Dias nos dois últimos jogos. 

Na defesa não há opções porque Conti e Jardel estão lesionados há demasiado tempo. O argentino foi dado como recuperado mas depois voltou-se misteriosamente a lesionar. O problema das lesões no Benfica é aliás um flagelo que já tem anos.

No ataque a culpa vai inteira para Luis Filipe Vieira, como responsável máximo pela estrutura, por ter permitido que ficássemos com apenas dois avançados/pontas de lança puros (Jonas e Seferovic) no exacto momento em que passámos a jogar em 4-4-2. 

A jogar com apenas um ponta de lança, como acontecia com Vitória, tínhamos quatro no plantel, quando passámos a jogar com dois, ficámos com... dois. Enfim, mistérios que não conseguimos entender mas cujas consequências estão à vista: quando ontem precisámos de opções para carregar na frente, quando precisávamos de ganhar bolas de cabeça e ter poder de choque na área, as opções no banco eram nulas.

As soluções do Seixal são boas e recomendam-se, mas não chegam. Jota poderá vir a ser um excelente jogador (acredito que sim porque o talento está lá, assim como a cabeça) mas não é um ponta de lança, nem pouco mais ou menos. Félix é excelente a jogar como segundo avançado mas não tem o poder na área  nem a capacidade de finalização aérea de um ponta de lança puro.

Deixar sair Ferreyra e Castillo e não trazer ninguém em Janeiro foi uma opção desastrosa, como assinalei logo na altura, que nos pode vir a custar o campeonato.

Neste momento há que fazer uma reflexão séria e tomar decisões. A primeira questão que Bruno Lage tem que abordar é como pode colocar a equipa a jogar agora que não tem Seferovic. Não me parece que a estratégia de ontem tenha sido a melhor. As equipas vão agora povoar muito o centro da defesa, sabendo que pelas alas o Benfica não conseguirá provocar-lhes muito dano uma vez que não há cabeceadores. Jonas ainda marcou um excelente golo, mostrando que o seu instinto finalizador continua presente, mas não chega.

A segunda decisão que Bruno Lage terá que tomar, e esta já para quinta-feira, prende-se com a gestão do cansaço da equipa. Com um jogo decisivo em Moreira de Cónegos, face ao 5º classificado (com todo o mérito) que já nos derrotou na primeira volta na Luz, que equipa se apresentará três dias antes para defrontar os croatas? Poderemos arriscar Grimaldo, Pizzi, Jonas e o próprio Félix, que estão nos limites e presos por arames? Mesmo Rafa, que é essencial nesta altura e sabemos que é muito atreito a lesões? Eu penso que não. 

Pode isto significar um adeus prematuro à Liga Europa? Certamente que sim. O resultado da ida é péssimo, um resultado muito perigoso e enganador, e a capacidade do Benfica em criar oportunidades e marcar golos diminuiu brutalmente nos últimos jogos.

Mas essa tem que ser uma decisão assumida. Com este plantel não é possível abordar Campeonato, Liga Europa e Taça de Portugal com o intuito de ganhar. A manta é demasiado curta. Há que fazer opções e a prioridade tem que ser o campeonato. Disso nem há dúvidas. Por isso, para mim quinta-feira entre os que têm habitualmente sido titulares só jogariam aqueles para cujos lugares não houvesse alternativa, nomeadamente no eixo central da defesa. De resto seriam todos (incluindo Svilar) "segundas linhas". Com ordens para dar tudo dentro de campo e mostrarem o quanto querem estar no Benfica. 

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