domingo, 11 de junho de 2023

Recuperar a grandeza do Benfica

A contratação de Kokçu é uma ótima notícia. Assim como a renovação de Otamendi. Kokçu pelo que tenho visto é um jogador de categoria. Não costumo acompanhar o campeonato holandês mas sabemos que é um campeonato de passagem para grandes jogadores. Basta lembrar Romário ou Ronaldo fenómeno, para não falar da fornada recente de jogadores do Ajax ou da belíssima experiência com Aurnes. Além de uma boa, esperemos que ótima contratação, esta operação mostra que o Benfica consegue ser atractivo para jogadores muito promissores e que a direcção não está a dormir à sombra da bananeira mas sim a procurar criar condições ainda melhores para o treinador. Isto aplica-se igualmente à renovação de Otamendi. Não é um jogador jovem, obviamente, mas é um líder, um vencedor, um guerreiro que dá tudo e que está habituado aos palcos mais exigentes do futebol mundial. Aquilo que estamos a ver é um trabalho sério e atempado para entrar na próxima época com boas perspectivas em relação a todas as provas nacionais e até a uma campanha interessante na Europa. Rui Costa e a sua equipa estão a trabalhar com critério. E são benfiquistas, aspecto que conta muito. Ao ver as imagens do primeiro dia de Kokçu no Benfica e ao vermos hoje a final da Liga dos Campeões - parabéns Éderson, Rúben Dias e Bernardo Silva - percebemos que têm passado pelo nosso clube (e estão lá atualmente) jogadores de classe mundial, lendas do futebol. Se recuarmos no tempo temos Eusébio, Coluna, Águas e tantos outros, Chalana, Humberto Coelho, etc. Mas mais recentemente estivemos em duas finais de Taças dos Campeões (uma delas com o lendário Milão) que poderíamos ter vencido, com jogadores como Mozer, Valdo, etc. E ainda mais recentemente tivemos estrelas como Simão, Aimar, Di Maria, Saviola, Cardozo, Luizão, David Luiz e muitos outros. Isto significa que o Benfica está num patamar muito alto no futebol europeu e que o que lhe falta para alcançar prémios, como diz Roger Smith, internacionais se calhar é menos do que pode parecer. Olhe-se para o Sevilha. Tem tido alguns bons jogadores mas nada que explique a quantidade quase absurda de Ligas Europa. Isto é apenas um exemplo, até porque não é previsível que vamos jogar muito na Liga Europa ou pelo menos não é essa a nossa intenção. O Inter é outro exemplo: uma equipa que achamos que poderíamos ter eliminado foi à final e contra um super Manchester City não teve a sorte do jogo ou ter-se-ia mesmo "arriscado" a ganhar. O que está então a faltar ao Benfica? Na minha opinião duas coisas. Uma é a consistência. Grandes jogadores têm passado pelo clube e nalguns anos tivemos grandes equipas, mas a seguir a boas épocas a preocupação foi vender. Eu sei que há que realizar vendas e ter contas equilibradas mas nos últimos anos de Vieira esse parecia ser o objectivo principal. Isso é a inversão da lógica clubística: a saúde financeira deve ser um meio para o sucesso desportivo e não o contrário. Ter consistência neste contexto significa ter todos os anos ewuipas competitivas e ter uma linha estratégica que tem continuidade ao longo dos anos. Dizer que se vai ter a espinha dorsal da selecção nacional num ano, que se vai apostar na formação no seguinte e contratar Jorge Jesus no outro, porque se quer "ganhar no imediato" é andar ao sabor do vento. Isto resultava do facto de Vieira se guiar por uma lógica de poder pessoal (para não dizer enriquecimento) e não pelos interesses do clube. Neste momento as coisas são diferentes. A outra coisa que falta ao Benfica (e ao futebol português em geral) é confiança. Não achamos que somos capazes. Achamos sempre que os outros são melhores do que nós. Oscilamos entre isso e desvalorizar os outros. Ambas as atitudes são erradas. O que é necessário para vencer é ser melhor dentro do campo. E isso é possível mais vezes do que parece porque temos qualidade, como procurei mostrar. Talvez ao nível da compleição física tenhamos alguma desvantagem em relação a outros países e outros clubes. Mas aí cabe ter a inteligência, a capacidade e a confiança para conseguir levar o jogo para o campo que mais nos interessa e onde temos vantagem. E isso acontece no plano técnico, no toque de bola e por vezes na velocidade. Olhe-se para a equipa de Espanha que ganhou tudo no futebol mundial e esteve imbatível em torneios consecutivos. Com a excepção de Sérgio Ramos (que tem apenas 1,83) eram todos "pequeninos": Xavi, Iniesta, Villa, Fabregas... Simplesmente o adversário nem via a bola. A comparação não é para dizer que temos a mesma qualidade ou devemos jogar como a Espanha, mas sim que temos de levar o jogo para o lado que mais nos convém se e quando enfrentarmos adversários mais físicos. Ainda mais um exemplo: Busquets. Neste caso não o refiro por ser baixinho. Pelo contrário, estamos a falar de um jogador com 1,90m. Mas a sua compleição e morfologia (alto e muito magro) não só não parece de um jogador daquela posição (uma posição de choque em geral) como não parece a mais adequada para um jogador de futebol. No entanto é considerado por muitos um dos melhores médios do mundo naquela função. Falta-nos consistência e confiança em nós próprios. Vencer a um nível elevado não deve ser visto como inacessível nem sequer como um feito extraordinário. Deve ser visto com alguma normalidade num clube como o Benfica. Agora para isso é necessário qualidade, algo que começamos a ver neste plantel. Uma última nota. Acho que temos sido demasiado vulneráveis aos jogos mentais do Porto nos últimos anos e por isso temos perdido tantas vezes, muitas delas na Luz, o que é inadmissível. O que vi no hóquei foi já um muito bom sinal. Mais uma vez, a questão é confiança (não num sentido superficial de confiança vazia e balofa, mas a confiança que resulta do trabalho sério e que não se deixa abalar ao mais pequeno percalço). As palavras de Florentino na fase final da época foram importantes: acreditamos no processo. Não lhes demos troco nem nos deixemos distrair pelos truques e mind games. Concentremo-nos sempre no jogo e em expressar as nossas qualidades no seu máximo expoente.

6 comentários:

  1. Parabéns pelo texto. Disse tudo, como sempre, com extrema clarividência e amor ao clube. Um abraço benfiquista.

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  2. Um texto bem delineado e correcto ,só para acrescentar ontem quem transmitiu o jogo nem uma vez disseram que o Bernardo ,o Rúben e o Ederson eram ex. Jogadores do Benfica e sua da sua formação só para vermos a comunicação social que temos: um nojo.

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    1. Desculpa discordar o Ederson foi formado no Rio Ave...

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    2. O Ederson foi para o Benfica com 16 anos para jogar nas camadas jovens. Depois esteve no Rio Ave já como sénior e depois voltou ao Benfica. Por isso é correcto dizer que fez a formação no Benfica.

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    3. Vê quanto meteu o Río Ave nas contas com a transferência..... Veio mas não jogou, aliás foi vendido ao Rio Ave e o Benfica ficou com uma percentagem creio eu...

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