sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Qualidade e/é simplicidade

Sobre o passado já disse o que tinha a dizer, não sendo preciso fazer muitas comparações para caracterizar o actual momento do Benfica - que é bom.

A vitória sobre o Rio Ave, num jogo que se complicou muito na primeira parte, mostrou que esta equipa está confiante. E quando assim é, a qualidade dos jogadores vem ao de cima. E de facto o Benfica tem muita qualidade no seu plantel. Está claramente acima de todas as outras equipas do campeonato, exceptuando o Porto que está num nível equivalente.
Nessa medida o Benfica tem quase que a obrigação de vencer estes jogos, como venceu hoje - com naturalidade, diga-se.

O grande mérito que reconheço para já a Bruno Lage, é o de escolher bem, fazer as opções certas e não inventar.

O primeiro passo foi o regresso ao 4-4-2. Como quem aqui passa de vez em quando sabe, eu defendo que a matriz do Benfica se expressa muito melhor num 4-4-2 do que num 4-3-3. O Benfica tradicionalmente é uma equipa de futebol atacante, que gosta de marcar muitos golos, que em casa é favorito em mais de 90% por cento dos jogos (apenas contra os gigantes da Europa e, infelizmente, nos últimos anos, contra o Porto, não o é) e que no campeonato português é muito superior a quase todas as outras equipas.

Nessa medida não faz muito sentido jogar com um ponta de lança sozinho na frente, contra equipas que quase sempre se fecham muito na defesa. Em casa então acho mesmo que não faz sentido nenhum.

A meu ver Bruno Lages percebeu isso e ainda uma outra coisa. Que sentido faz ter quatro pontas de lança mais João Félix e jogar apenas com um? Assim, para retirar o melhor partido das características dos jogadores, Lage optou - e bem - por jogar em 4-4-2.

A ideia de colocar Pizzi na direita, hipótese que admiti logo no jogo com o Rio Ave, verificou-se agora e a meu ver faz todo o sentido para equilibrar a equipa, obviando a uma das lacunas de que por vezes o 4-4-2 padece, que é de ter poucos centro campistas e poder perder essa batalha. Com um jogador com rotinas de meio campo e que deriva para o meio, esse problema é atenuado.

Também a opção por Gabriel me pareceu correcta num jogo fora para dar mais poder de choque e capacidade de cobertura e recuperação de bola no nosso meio campo. Claro que se Gabriel tivesse jogado mal e eventualmente perdessemos surgiriam críticas e remoques de que o brasileiro pouco tinha mostrado nos jogos anteriores. Mas em teoria a sua inclusão no 11 fazia sentido e as coisas correram bem com o brasileiro a ser uma das muitas boas exibições desta noite.

O jovem treinador do Benfica mostra assim ter bons feelings, ler bem o que o jogo pode vir a pedir e não inventar. Outra coisa que Lage viu logo é que onde Félix rende mais é na frente de ataque e não na ala.

Também vemos a equipa jogar de forma simples. O 4º golo contra o Rio Ave, o segundo de Seferovic, é um golo de antologia. Como jogar bem que muitas vezes é como jogar simples. Algo que só está ao alcance de jogadores de qualidade. Aquilo que é bem feito parece evidente, mas parece evidente depois de alguém o fazer e mostrar. Antes disso há várias opções possíveis. A melhor, quase sempre, é a mais simples.

O discurso do treinador do Benfica, directo e realista em relação ao que é este grande clube, também me parece incisivo e motivador, ou seja, aquilo que deve ser.

Claro que nem sempre as coisas vão correr bem e que estamos muito longe de poder dizer que Bruno Lage é uma opção de futuro para o Benfica.

Aquilo que esta mudança trouxe e aquilo que Bruno Lage está a tornar evidente é que o plantel do Benfica tem muita qualidade, que é possível jogar bem e que os adeptos podem sentir alegria e emoção ao ver a sua equipa jogar, algo que, pelo menos para mim, há já algum tempo que não se verificava.

Ainda em relação ao jogo de hoje, a entrada em campo na segunda parte foi um exemplo de como se devem abordar situações destas: a ganhar por 1-0 e contra 10, a equipa foi para cima do adversário e praticamente resolveu o jogo (ficou a faltar o terceiro golo, por vezes por um excesso de adorno nas jogadas). Um contraste grande em relação ao passado recente, onde a equipa era demasiado expectante e por vezes hesitante.

Quanto aos jogadores, Pizzi, que alguns iluminados não se cansam de denegrir, voltou a fazer uma grande exibição e Seferovic está a mostrar toda a qualidade que o trouxe ao Benfica. É um jogador muito raçudo, de grande entrega, antes quebrar que torcer, que joga simples e sempre com a baliza na mira. É um atleta que tem muitas características de jogador à Benfica e que está num grande momento. De Gabriel já falei de passagem, mas fez uma exibição muito conseguida, cumprindo exactamente com o que se pedia para este jogo. Zivkovic é um jogador de grande classe, de cujos pés a bola sai redondinha e voltou a ser muito importante para abrir a defesa adversária.

E ainda temos Jonas, Sálvio, Gedson, Samaris, Cervi, Rafa ... e Ferreyra. Ou seja, temos muitas opções. É na defesa que há algumas lacunas que seria bom colmatar ou atenuar neste mercado de Inverno.

Em conclusão. a equipa está solta e confiante. Esperemos que seja para continuar. Estou convicto que sim.

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