segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Não pode valer tudo

O Benfica voltou a perder no dragão, num jogo em que deveríamos ter cometido menos erros mas que fica também marcado por casos graves de arbitragem.
Tais casos são conhecidos e não vale a pena estar aqui a insistir. O penalti para mim é o mais escandaloso, porque não se percebe como é que um jogador pode jogar deliberadamente a bola com a mão quando está de costas e não vê a trajectória dessa mesma bola. Isto já para nem falar da falta de Soares nas costas de Ferro.
No entanto culpar Soares Dias é simplista. O problema é mais vasto, como se vê pelo VAR. O que me conduz ao tema do artigo. Não pode valer tudo.
O ambiente criado à volta destes jogos é tenso, há muita rivalidade e alguma hostilidade. Até aí compreendemos. Lisboa é a capital, o Benfica é o maior clube nacional e para equilibrar estas contas, o clube mais bairrista e regionalista tem que usar dos trunfos de que dispõe, nomeadamente criando um ambiente menos hospitaleiro.
O problema é quando se ultrapassam os limites - e isso acontece em todas as visitas do Benfica. São ameaças de morte, são agressões a adeptos, são tarjas gigantes na bancada com insultos e insinuações, são bolas de golfe, são apedrejamentos, etc, etc.
Ou seja, situações que extravasam completamente o âmbito de uma rivalidade normal e resvalam para a violência e a criminalidade organizada.
O problema não é de hoje, mas cada vez é mais visível aos olhos de todos e como tal cada vez menos tolerável numa sociedade que se pretende civilizada.
Eu não sou nenhum politicamente correcto e acho bem que o futebol tenha uma boa dose de virilidade. Agora, isso não pode significar que o Benfica vá ao Porto para ser o cordeiro sacrificial, ou um saco de pancada para aliviar as frustrações de adeptos fanáticos e continuar a alimentar claques delinquentes e criminosas.
Porque se assim for, se estas são as regras do jogo, o que deve impedir o Benfica de retribuir na mesma moeda, aquando das visitas do Porto?
Eu pergunto-me até : o que acontecerá se, como é bem possível, Benfica e Porto se encontrarem no Jamor? Está a ser alimentado um monstro que pode vir a ter consequências gravíssimas.
Claro que dentro do campo, apesar do Benfica poder ter, aqui ou ali, feito mais, este ambiente infernal deu frutos. Os árbitros estavam altamente pressionados - pela bancada e o banco do Porto - e decidiram quase sempre pela equipa da casa. Mas eu até certa medida compreendo : eles também são humanos, têm as suas famílias e inclusive já foram ameaçados.
Eles simplesmente não têm condições para arbitrar estes jogos.
Aliás o que aconteceu este ano foi a repetição do que aconteceu nos anteriores. Este ano Marega e Pepe cedo agrediram Taarabt, que se sabe ser um dos mais influentes jogadores do Benfica. No ano passado Pepe tentou logo de início provocar e intimidar João Félix. Há dois anos, Filipe teve uma entrada assassina sobre Jonas e se continuarmos a recuar chegamos ao infame Paulinho Santos e às suas múltiplas agressões que chegaram a partir o maxilar de João Vieira Pinto...
Porque é que eles fazem isto? Porque podem. Porque sabem que os árbitros vão permitir.
Repare-se, o Porto não tem princípios nem limites : desde fruta, café com leite, conselhos matrimoniais, invasões dos centros arbitrais, ameaças de morte, já vimos que ali vale tudo ; com a Liga miserável que temos, subserviente ao Porto (basta lembrar a felicidade do seu presidente com as vitórias do Porto quando era árbitro, que até beijinhos dava aos  jogaseusdores) nada é feito para punir estes comportamentos ; pelo que resta apenas uma intervenção do governo. Ou então, se nada acontecer, se nada for feito, daqui a não muito tempo estaremos a lamentar algo de bem mais grave.
Para ganhar, não pode valer tudo. Se não, isto deixa de ser um desporto e passa a ser um combate de milícias e uma competição de batoteiros.

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