segunda-feira, 5 de julho de 2021

Portugal é das melhores seleções do mundo?

A seleção foi eliminada sem honra nem glória, deixando um amargo de boca muito grande.

Entrámos no jogo com a Bélgica a "especular", ou seja, a ver no que davam as coisas, esperando que uma oportunidade surgisse para poder ferir o adversário, em vez de a procurarmos activamente.

É um estilo, é o estilo de Fernando Santos, o qual afinal de contas não é assim tão diferente do que levou a Grécia ao título em 2004.

Mas compare-se por exemplo com a Espanha. A seleção vizinha é o contrário de Portugal: assume o jogo desde o início, domina por completo a posse de bola e procura de todas as formas chegar à baliza adversária.

Não sou um adepto apaixonado pelo jogo da Espanha. Há uma certa falta de verticalidade, daquela velocidade e vertigem que faz do futebol um jogo emocionante. Considero o jogo da Espanha por vezes monótono, aborrecido, com excesso de passes que não adiantam muito.

Em todo o caso é um modelo que exalta as principais qualidades do jogador espanhol e como tal é o melhor para aquela seleção. Além disso, independentemente de preferências ou gostos, o facto é que a Espanha ataca muito e com 12 golos marcados é neste momento o melhor ataque da prova. 

A questão que se coloca em relação a Portugal é se o modelo e o estilo são os melhores e mais adaptados às características dos seus jogadores. 

A resposta parece mais ou menos evidente, mas antes de a dar talvez valha a pena perder um pouco de tempo a avaliar o jogador português.

Diz-se que Portugal tem das melhores seleções e dos jogadores mais talentosos do mundo. Será que é mesmo assim? Vejamos.

São dados os exemplos de Bernardo Silva, João Félix e Jota, para além de Ronaldo que é um caso à parte. 

Olhemos para os números, os quais são objectivos e não dependem de opiniões.

Bernardo Silva foi o 10º jogador mais utilizado no City na Premier League. Marcou dois golos e fez 6 assistências. Quando De Bruyne (6 golos e 12 assistências) regressou de lesão, Bernardo passou a estar sobretudo no banco. 

Isto não é para desvalorizar Bernardo Silva. É um grande jogador. Mas quando estamos a falar do top dos tops, Bernardo não está acima dos outros.

João Félix no Atlético de Madrid fez 7 golos e 6 assistências na Liga, mais 3 golos na LC. São números medíocres.

Diogo Jota esteve bastante tempo lesionado e entrou muito bem na equipa do Liverpool fazendo uma série de golos seguidos. No total 9 na Premier League e 4 na LC. Mas na seleção não conseguiu dar sequência. 

Ou seja, para além da máquina de golos Ronaldo (que, já se sabe, tem pouca capacidade para pressionar os defesas quando a equipa adversária tem a bola), temos jogadores bons no toque de bola mas com capacidade limitada de concretizar. Esta é a realidade que os números mostram.

Mais: temos pouca capacidade no um para um. É muito raro os nossos jogadores driblarem os adversários ou passarem por eles em velocidade. Com Bernardo Silva isso era gritante: quase sempre ercebia a bola, rodopiava sobre si próprio e passava para trás; praticamente nunca foi capaz de ultrapassar um adversário. Sobre Ronaldo nem vale a pena falar, porque embora essa tenha sido a sua principal capacidade ao longo da carreira, neste momento não consegue driblar, nem adversários muito limitados. Jota fez alguns piques mas apenas por uma vez entregou a bola em condições (o golo contra a Alemanha). De resto era inconsequente. O único jogador capaz de levar a bola para a frente e ultrapassar adversários era mesmo Renato Sanches.

Juntando isso à incapacidade dos nossos laterais fomos uma equipa demasiado macia, quase inofensiva. 

Ora todas as outras equipas medianas do Europeu conseguem fazer esses desequilibrios e fizeram-no: a Suíça, a Dinamarca, a Ucrânia tiveram essa capacidade, para já nem falar da França, da Alemanha, da Itália, da Espanha ou da Inglaterra.

A seleção vale mais do que mostrou, mas não é aquilo que nós portugueses pensamos. 

As ausências de João Cancelo e Nuno Mendes foram extremamente penalizadoras porque são jogadores com uma dimensão atlética que os seus substitutos não têm, nem de perto nem de longe, e que poderiam ter dado mais profundidade à equipa, aumentando também o rendimento dos homens da frente. Resta saber como será a seleção com eles.

Quanto ao sistema: este não parece ser o melhor modelo para a nossa seleção. Aquilo em que apesar de tudo estamos acima da média é no toque de bola e na capacidade de passe. De certo modo características semelhantes às dos espanhóis (o que não é surpreendente dado que somos vizinhos e povos semelhantes). Bernardo Silva, por exemplo, nesse jogo de posse é um óptimo jogador, tal como Moutinho, Rúben Neves - e, noutro registo, até os "gémeos" William e Danilo. Mas num sistema em que pouco temos a bola, as nossas melhores características não sobressaem e o rendimento da equipa dificilmente será alto.

Os nossos melhores momentos foram aliás nos jogos com a Hungria, a França (quando conservámos a posse de bola e assumimos o jogo) e a segunda parte contra a Bélgica. De resto esta presença no Europeu não deixa muitas saudades.

Veremos se Fernando Santos é capaz de reinventar o futebol da nossa seleção e também até que ponto a presença de Cancelo e Mendes (este ainda a ter que provar que o rendimento exibido no Sporting na época passada é para ter continuidade) nos pode dar uma outra dimensão. 

9 comentários:

  1. Qual quê? Ainda não tínhamos jogado com a Bélgica, já os junta letras especializados em xutos na bola divagavam sobre a táctica para o jogo com a Itália!... É o que se costuma dizer: "Contar com o ovo no cu da galinha"!
    Somos uns tristes convencidos que somos grandes mas não passamos de uns caga tacos que pouco valemos!
    Ganhámos o de 2016 sem saber ler nem escrever!

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    1. Sim, há muitos excessos por parte dos nossos jornalistas e muita falta de noção do que é o valor dos outros. Acham que só nós é que temos talento, ou que temos muito mais do que os outros, o que é uma visão completamente desajustada e provinciana.
      Claro que tivemos sorte em 2016, disso não há dúvida. Tudo se alinhou.
      Agora também não me parece que devamos passar ao extremo oposto de dizer que somos uns anões e que não valemos nada.
      Para já a Espanha ganhou europeus e mundiais com muitos jogadores "pequenos" como Xavis, Iniestas, Villas, etc. Depois temos jogadores já com porte físico como Rúben, Palhinha, Danilo, Cancelo ou Ronaldo.
      E finalmente porque estarmo-nos a pôr para baixo também não é uma atitude que leve longe. Realismo sim, negativismo não.

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  2. uma coisa que acho que se deve fazer nos clubes, adaptar a táctica e o sistema de jogo, às características dos jogadores disponíveis e não o contrario que na maioria das vezes é feito, então numa selecção é imperioso.

    o fernando santos não vai reinventar nada ele é assim e vai manter o seu modelo sistema até cair.
    cabe a quem o contrata avaliar isso, mas como os interesse são, e sempre foram, outros vai ser mais do mesmo.

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    1. Também não tenho muitas ilusões quanto ao FS... A minha questão era quase mais retórica do que outra coisa.
      No entanto a entrada na equipa de Cancelo e Mendes pode, só por si, trazer outra dimensão ao futebol da seleção.

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    2. o cancelo sim porque tem qualidade consolidada e experiência.
      no outro não porque não tem nem uma coisa nem outra, pode ser como pode não ser, mais quando ainda não se sabe se será jogador para jogar numa defesa a quatro que é muito diferente de ser ala.

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  3. Se FS tirasse Ronaldo de campo, o problema ficaria resolvido.

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    1. Neste Europeu Portugal marcou 7 golos. 5 foram do Ronaldo, um do Diogo Jota (a passe de Ronaldo) e outro auto-golo (num remate de Rafael Guerreiro).
      O Ronaldo tem uma característica que é rara no jogador português que é ver sempre a baliza. Além disso é um dos finalizadores mais letais do mundo.
      É evidente que Ronaldo já pouco corre, pouco defende e de certo modo é um jogador a menos em tudo o que não seja o ataque à baliza adversária. A equipa tem que estar um pouco feita à sua medida.
      Mas isso é normal quando se tem um jogador deste nível. No Real Madrid já era assim nos últimos anos e continuavam a ganhar ao mais alto nível.
      O treinador é que tem que adaptar as coisas de modo a que tudo funcione.
      Já a questão do Ronaldo não poder ser substituído acho mal.

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    2. Mas, para terminar, tirar o Ronaldo não resolveria "o problema" (até porque há mais de um problema na forma como a seleção joga) e criaria outro problema que é a marcação de golos. Não será com certeza o André Silva quem substituirá o Ronaldo nessa função.

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  4. Portugal é sem dúvida alguma uma selecção fortíssima, tem é algumas lacuna em ver aspectos do jogo. Para ajudar tem um treinador bastante experiente e competente, mas que está muito longe de ser um treinador de topo, basta ver que conseguiu não ser campeão dois anos seguidos no Porto com o Jardel a um bom nível, e que conseguiu ser terceiro no Campeonato com o Sporting, quando a seis jornadas do fim tinha 9 pontos de avanço sobre o Benfica.

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