quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Preocupação

 O Benfica perdeu o jogo teoricamente mais fácil que terá nesta edição da Liga dos Campeões e complicou bastante as contas do apuramento.

Foi mais um jogo com demasiadas peripécias. Onde o Benfica mostrava o ano passado solidez, mostra este ano fragilidade. Sofremos golos em 5 dos 7 jogos, num total de 8, ou seja mais de um golo por jogo. Mais uma vez tivemos um jogador expulso.

Neste momento há demasiadas dúvidas e equívocos no 11 do Benfica. 

Em relação à baliza, foi criado um problema onde ele não existia. Vlachodimos era um guarda-redes que dava garantias mas para alguns só as suas limitações ou fragilidades contavam. 

Na lateral direita, Bah comete demasiados erros e já não é a primeira vez que compromete a equipa. Na lateral esquerda a situação é absurda e não é preciso dizer mais.

No meio campo não se entende a situação de Florentino (embora seja verdade que não tem estado ao mesmo nível do ano passado é uma solução muito mais válida do que Chiquinho que sempre que entrou fez a equipa piorar). 

E no ataque concordo com a aposta em Musa mas não se entende que Cabral passe de titular a terceira opção. Quanto a Neres já não há palavras. 

Em suma, são demasiados casos e opções mais do que questionáveis. Já o tinha escrito e volto a afirmar: Schmidt parece-me algo desorientado neste início de época. Creio que seria importante que os dirigentes se sentassem com ele e percebessem qual o problema. Caso contrário esta época pode vir a ser uma grande desilusão. 

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Isto já não é futebol! Eles são doentes...

 Esta jornada o Benfica goleou, com alguns momentos de brilhantismo, e em Braga assistiu-se a um jogo de grande intensidade, emotivo, com belos golos e incerteza até ao último segundo. O Boavista voltou a vencer, terminado a jornada na liderança e sendo a grande surpresa deste início de campeonato.

Mas infelizmente estes aspectos positivos, os golos, a emoção, o futebol enquanto tal, tudo é ensombrado por uma praga, uma doença que existe no futebol português e que dá por nome de FC Porto. O que ali se passa já não é futebol, já não é desporto.

A verdade objectiva é que o FC Porto é uma organização criminosa que tem o futebol português refém há mais de 40 anos. Ao estilo mafioso, o FC Porto montou uma teia de poder através do suborno, da intimidação e da violência. E ninguém tem coragem de erradicar esta doença porque em Portugal as instituições são fracas e nalguns casos também elas corruptas.

A história dos crimes do FC Porto ainda não foi feita, apesar de algumas aproximações como o filme "Corrupção" de João Botelho, baseado em grande medida no livro "Eu Carolina" mas também numa das investigações mais completas da Polícia Judiciária, com provas irrefutáveis, que juízes corruptos se encarregaram de deitar fora. 

Pinto da Costa desde cedo se rodeou de comparsas e capangas, desde pugilistas a proxenetas, passando por polícias armados a actuar à margem da lei, para intimidar e obter o que queria.

Quando, após a sua fuga para Espanha para evitar a prisão, se apresentou na esquadra, foi escoltado por um conjunto de marginais da claque Superdragões. Vários membros dessa claque foram responsáveis por homicídios na noite do Porto, ligados a uma luta pelo poder no narcotráfico, e mais recentemente Marco "Orelhas"e o filho assassinaram brutalmente e de forma premeditada um outro membro da claque com dezenas de facadas. São estes meninos que não há muito tempo prestaram uma visita ao centro de árbitros que, por mera coincidência, é na Maia. 

Há filmes de Martin Scorsese que são estórias de embalar ao pé desta história real.

O FC Porto, com a sua história de corrupção e violência, a falta de desportivismo, a total ausência de fair play, o mau perder, a permanente intimidação e coacção dos adversários é uma praga, uma vergonha para o futebol português.

Até quando continuará este espectáculo deplorável a envergonhar o país? 

domingo, 27 de agosto de 2023

Mas o que é isto?

 "Foi bom em Lisboa", diz a mulher de David Neres.

São já casos a mais para uma época... e ainda só vamos na terceira jornada. 

Rui Costa, Lourenço Coelho e Luisão têm que pôr ordem nisto. Sem disciplina, sem união não há equipa que vença. 

Claro que as opções de Schmidt são em alguns casos discutíveis, para não dizer mais. Os casos de Ristic, Musa, Neres são difíceis de compreender. Se o lateral não joga quando o seu concorrente directo está lesionado, vai jogar quando? Neres é o jogador mais criativo e fantasista que temos (a par de Di Maria), além de possuir um remate fortíssimo e vê sempre o jogo a partir do banco. Musa marca golos em poucos minutos mas hoje foi o terceiro avançado a entrar (e em boa hora, porque caso contrário se calhar tínhamos empatado).

Tudo isto é verdade (mais o "caso Vlachodimos", quase inexplicável), mas é preciso calma, tranquilidade. A época está a começar e certamente haverá oportunidades para estes e outros somarem minutos e jogos.

Espero bem que os dirigentes consigam pacificar um ambiente que está claramente demasiado tenso e pesado.

E espero também que este desabafo da mulher de Neres seja apenas isso, que não se repita (as mulheres dos jogadores não devem dar palpites) e sobretudo que o brasileiro não saia. Se David Neres não é o melhor jogador do Benfica, está lá perto. Deixá-lo sair seria um erro tremendo. Dificilmente encontramos um semelhante. Temos Di Maria, é certo, mas o argentino aguentará uma época inteira? Tenho dúvidas. E depois quem teremos para desequilibrar? Quem teremos para abrir brechas em defesas altamente fechadas? 

Pede-se liderança a Rui Costa neste momento conturbado. O Benfica ganhou mas há coisas que precisam de ser consertadas. 5 golos sofridos em 3 jogos também não é normal e não são números de campeão.


PS - Chiquinho é a segunda vez que entra para de alguma forma acalmar o jogo e manter a posse de bola e falha completamente nessa missão. Hoje jogou mesmo muito mal, sendo responsável pelo segundo golo. Tem claramente que mudar de atitude. 

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Início atribulado

O Benfica tem aparentemente o melhor plantel em Portugal. Tem, sem qualquer dúvida, as maiores individualidades do meio campo para a frente, onde as opções são de luxo para a nossa realidade. Na defesa e meio campo defensivo as coisas são mais equilibradas, até porque saíram Grimaldo e Lucas Veríssimo, falando-se ainda em propostas por Mourato e na saída de João Victor. De 6 centrais que chegámos a ter, arriscamo-nos a ficar com 2 de qualidade comprovada...

Este é um dos sintomas de uma época que parecia ir ser um passeio e que começa a dar sinais de poder ser complicada.

No Bessa é verdade que o Benfica foi extremamente infeliz e que o resultado é altamente injusto, se é que se pode falar disso em futebol. Do 1-1 para o 1-2 o Benfica faz uma partida notável e mesmo até ao 2-2 estávamos a dominar claramente o jogo. Mas no futebol o que conta são os resultados e neste momento temos já 3 pontos para recuperar, o que poderá não ser tão fácil quanto parece. Além disso houve erros defensivos que não se podem admitir. 

Desse mau jogo fica ainda a situação de Vlachodimos. Claro que o grego não fez o melhor jogo. O primeiro golo é um pouco "esquisito" e no segundo sai a destempo da baliza, tornando um lance que parecia algo inofensivo num golo eminente. Mas também não se justifica que Schmidt o aponte quase como o culpado pela derrota. Os jogos perdem-se e ganham-se como equipa. Não pode haver bodes expiatórios. E houve ainda a situação de Di Maria. A um jogador com a sua experiência exige-se contenção nestes momentos.

Foi uma aplicação exemplar da lei de Murphy. O Boavista teve imensos amarelados mas nós é que ficámos reduzidos a 10 (num lance em que a avaliação do árbitro me parece muito exagerada, mas enfim), a seguir à expulsão sofremos logo golo nessa mesma jogada, apesar da entrada de Mourato; atacámos muito e atirámos bolas à barra mas o Boavista nas poucas oportunidades que teve fez 3 golos...

Enfim, já lá vai e esperemos que seja "aquele" jogo que acontece sempre uma vez por época, na qual apesar de todos os esforços para ganhar e múltiplas oportunidades se perde porque aparentemente estava escrito que assim seria. Depois disso já vencemos- não sem dificuldade - o Estrela da Amadora em casa. Mais uma vez, foi um jogo em que a produção ofensiva claramente deveria ter tido outro resultado, ou seja, outro aproveitamento. Eficácia precisa-se. E desse jogo resulta também evidente que Neres é um elemento que desequilibra como nenhum outro (exceptuando talvez Di Maria) e que tem de jogar com regularidade.

Acima de tudo precisamos todos (treinador e plantel) de nos convencer que os nomes não ganham jogos e que "merecer" não basta - é preciso colocar a bola dentro das redes adversárias mais vezes do que o oponente; e recordar também uma máxima do futebol: os ataques ganham jogos mas as defesas ganham campeonatos. Por fim, lembrar o nosso lema; sem união será impossível ganhar seja o que for. 

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Di Maria é um dos maiores jogadores do mundo

A confirmar-se a contratação de Di Maria estamos a falar da vinda de um dos maiores futebolistas do Mundo para o Benfica.

Na Juventus pouco podia fazer, dado que o clube, apesar de ter bons jogadores, está em queda há muito. Mas reparem que de resto foi decisivo e muitas vezes o principal protagonista quer em clubes como Real Madrid e Paris St G quer na seleção Argentina. Nessas equipas jogou ao lado dos outros maiores do mundo (Cristiano Ronaldo, Neymar, Messi e Mbapé, entre outros) e não raras vezes foi o melhor em campo e aquele que decidiu os jogos. Isto, recordo, em equipas que eram ou são verdadeiras constelações de estrelas. Veja-se por exemplo a Argentina campeã do mundo. Uma equipa onde jogadores da categoria de Lautaro e Dybala praticamente não jogaram.

Di Maria é um jogador fenomenal: é imprevisível, desequilibrador e inconformado. Ainda na final do campenato do mundo foi absolutamente decisivo com um golo e um penalty sofrido. E quando o treinador o decidiu tirar com o resultado em 2-2 (após a Argentina ter estado a vencer por 2-0), saiu com humildade e de forma natural.

Estamos portanto a falar de uma estrela de calibre mundial. 35 anos obviamente que não é "velho". É ainda um jogador com muito para dar. E a classe não se perde, muito pelo contrário, quando existe só se refina com o tempo. Há é que ter cuidado porque o Inter (de Miami) ainda estará a tentar qualquer coisa.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Campeões, campeões, campeãs

 O Benfica conquistou este sábado o título nacional de hóquei em patins terminando com um jejum que durava já desde 2016 (15/16 tinha sido o último campeonato ganho). 

Esta época já tínhamos vencido a Supertaça ao bater o Porto por 4-2, mas note-se que no ano anterior o Porto alcançou a dobradinha (fomos finalistas derrotados da Taça). Aliás o Benfica também não vence a Taça desde 2014/2015. Venceu a "Taça 1947" que se realizou apenas um ano (2020) e que o Benfica ganhou ao bater o Sporting na final por penalties. A "Taça 1947" de algum modo substituiu nesse ano a Taça de Portugal que não se realizou devido ao Covid. 

Essa Supertaça talvez tenha moralizado a equipa para a conquista deste campeonato, no qual batemos sucessivamente os dois maiores rivais. Depois do factor casa ter sido decisivo contra o Porto, agora alcançámos o título em Alvalade, ao vencer por 3-1 no jogo 4 (curiosamente o playoff também ficou 3-1). Era importante vencer na casa do adversário, até pelo que disse um dirigente do Sporting que colocou em causa o mérito da nossa equipa. A equipa entrou com personalidade e apesar de ter sofrido o primeiro golo (após um período de pressão do Sporting), manteve-se confiante e deu a volta ao resultado. Depois foi sobretudo defender. Embora ambas as equipas tivessem tido oportunidades para fazer mais golos, incluindo através de livres directos, o resultado ficou-se pelos 3-1. Praticamente todos os jogadores estiveram num bom plano mas é justo destacar antes de mais Pedro Henriques que defendeu praticamente tudo: perdi a conta ao número de defesas. Depois Gonçalo Pinto que fez os dois primeiros golos e Ordones que marcou o 3 golo num míssil que Girão nem viu. Aliás esse golo, ainda ainda no primeiro terço da segunda parte, foi um tónico decisivo para a vitória. É que ele surge na sequência de um livre directo para o Sporting que Pedro Henriques defende 3 - três - vezes com brilhantismo. 11 segundos depois a bola está no fundo da baliza do Sporting. É um lance que merece ser visto e revisto. Também gostei muito do jogo de Edu Lamas (assistência para o 2º golo). Independentemente de para onde vai, foi dedicado e profissional. E falando de destaques não podíamos esquecer o Diogo Rafael que leva sempre aquela imensa alma benfiquista para dentro do ringue.

O resumo do jogo está disponível no site oficial do Benfica: https://www.slbenfica.pt/pt-pt/agora/noticias/2023/06/18/hoquei-em-patins-sporting-benfica-jogo-4-final-play-off-campeonato-nacional 



Uma última nota sobre o hóquei (masculino) do Benfica. A Golden Cup foi, para todos os efeitos (excepto provavelmente a contabilidade oficial) a Taça ou Liga dos Campeões em 2022. Estiveram lá todas as equipas principais (Barcelona, Porto, Sporting, Liceo da Corunha, Óquei de Barcelos, Réus, etc.). Houve uma fase de grupos, seguida de quartos, meias e final. As equipas dispoutaram esta competição após não se terem querido inscrever na Liga dos Campeões, em divergência com o seu formato. O Benfica foi o vencedor: após eliminar Barcelona e Liceo (a equipa da casa), bateu o OC Barcelos por 5-1 na final. A questão é que esta foi um torneio particular organizado pelo Liceo e portanto não será contabilizado. De todas as formas, o Benfica é o clube português com maior palmarés internacional com 3 Taças Intercontinentais, 2 Continentais, 2 Taças dos Campeões e 2 Taças CERS. No entanto a nível nacional as coisas já estiveram melhores (e também piores). O Benfica igualou agora o Porto em campeonatos (24). No entanto está atrás em Taças (15-18) e sobretudo em Supertaças (8-23). Este problema com as Supertaças é idêntico ao futebol e foi muito por aqui que o Porto começou a crescer, a ponto de nos igualar em títulos. 

O campeonato em hóquei segue-se ao alcançado no basquetebol, também contra o Sporting. Aí a superioridade foi ainda mais evidente. Vencemos um jogo in extremis e perdemos outro , mas depois vencemos por duas vezes em Alvalade de forma expressiva, a primeira então  foi um cabaz autêntico (101-57!!!). O Benfica é assim bicampeão de basquetebol.

Estas vitórias seguem-se ao título no futebol e no voleibol. Falta ainda concluir o futsal, mas o Sporting está em vantagem por 2-1 e eu sempre disse que era favorito, tal como nós o éramos no basket. 

Isto nos masculinos. Porque nos campeonatos femininos há também que louvar as nossas atletas, a começar pelas hoquistas. O Benfica conquistou este ano um inédito decacampeonato! 10 campeonatos seguidos! Também vencemos a Taça de Portugal (3ª seguida) e a Supertaça (9 seguidas!). Mérito das atletas e da lenda Paulo Almeida. 

No futsal, as meninas também se sagraram campeãs, neste caso hexacampeãs! Além disso fizeram um triplete ao conquistar igualmente a Taça e a Taça da Liga. Isto junta-se ao futebol feminino em que as nossas atletas também foram campeãs e venceram a Taça da Liga.

Em resumo, faltando ainda a conclusão do futsal, podemos já dizer que esta é uma época muito positiva para o Benfica. O principal objetivo foi alcançado e as modalidades também se portaram bem. O problema continua a ser o andebol. O Benfica o ano passado até venceu a Supertaça e teve a magnífica conquista da Liga Europeia EHF, mas este ano voltámos ao normal do passado recente que é ganhar pouco ou nada. Para encontrar títulos antes de 2022 tínhamos de recuar a 2018, ano em que vencemos a supertaça e Taça de Portugal. Curiosamente no andebol o Benfica até consegue ganhar muitas supertaças. Mas a verdade é que não somos campeões de andebol desde 2008.  Não conheço a secção e quais os problemas em concreto mas de facto 15 anos sem ser campeão é muito tempo.


domingo, 11 de junho de 2023

Recuperar a grandeza do Benfica

A contratação de Kokçu é uma ótima notícia. Assim como a renovação de Otamendi. Kokçu pelo que tenho visto é um jogador de categoria. Não costumo acompanhar o campeonato holandês mas sabemos que é um campeonato de passagem para grandes jogadores. Basta lembrar Romário ou Ronaldo fenómeno, para não falar da fornada recente de jogadores do Ajax ou da belíssima experiência com Aurnes. Além de uma boa, esperemos que ótima contratação, esta operação mostra que o Benfica consegue ser atractivo para jogadores muito promissores e que a direcção não está a dormir à sombra da bananeira mas sim a procurar criar condições ainda melhores para o treinador. Isto aplica-se igualmente à renovação de Otamendi. Não é um jogador jovem, obviamente, mas é um líder, um vencedor, um guerreiro que dá tudo e que está habituado aos palcos mais exigentes do futebol mundial. Aquilo que estamos a ver é um trabalho sério e atempado para entrar na próxima época com boas perspectivas em relação a todas as provas nacionais e até a uma campanha interessante na Europa. Rui Costa e a sua equipa estão a trabalhar com critério. E são benfiquistas, aspecto que conta muito. Ao ver as imagens do primeiro dia de Kokçu no Benfica e ao vermos hoje a final da Liga dos Campeões - parabéns Éderson, Rúben Dias e Bernardo Silva - percebemos que têm passado pelo nosso clube (e estão lá atualmente) jogadores de classe mundial, lendas do futebol. Se recuarmos no tempo temos Eusébio, Coluna, Águas e tantos outros, Chalana, Humberto Coelho, etc. Mas mais recentemente estivemos em duas finais de Taças dos Campeões (uma delas com o lendário Milão) que poderíamos ter vencido, com jogadores como Mozer, Valdo, etc. E ainda mais recentemente tivemos estrelas como Simão, Aimar, Di Maria, Saviola, Cardozo, Luizão, David Luiz e muitos outros. Isto significa que o Benfica está num patamar muito alto no futebol europeu e que o que lhe falta para alcançar prémios, como diz Roger Smith, internacionais se calhar é menos do que pode parecer. Olhe-se para o Sevilha. Tem tido alguns bons jogadores mas nada que explique a quantidade quase absurda de Ligas Europa. Isto é apenas um exemplo, até porque não é previsível que vamos jogar muito na Liga Europa ou pelo menos não é essa a nossa intenção. O Inter é outro exemplo: uma equipa que achamos que poderíamos ter eliminado foi à final e contra um super Manchester City não teve a sorte do jogo ou ter-se-ia mesmo "arriscado" a ganhar. O que está então a faltar ao Benfica? Na minha opinião duas coisas. Uma é a consistência. Grandes jogadores têm passado pelo clube e nalguns anos tivemos grandes equipas, mas a seguir a boas épocas a preocupação foi vender. Eu sei que há que realizar vendas e ter contas equilibradas mas nos últimos anos de Vieira esse parecia ser o objectivo principal. Isso é a inversão da lógica clubística: a saúde financeira deve ser um meio para o sucesso desportivo e não o contrário. Ter consistência neste contexto significa ter todos os anos ewuipas competitivas e ter uma linha estratégica que tem continuidade ao longo dos anos. Dizer que se vai ter a espinha dorsal da selecção nacional num ano, que se vai apostar na formação no seguinte e contratar Jorge Jesus no outro, porque se quer "ganhar no imediato" é andar ao sabor do vento. Isto resultava do facto de Vieira se guiar por uma lógica de poder pessoal (para não dizer enriquecimento) e não pelos interesses do clube. Neste momento as coisas são diferentes. A outra coisa que falta ao Benfica (e ao futebol português em geral) é confiança. Não achamos que somos capazes. Achamos sempre que os outros são melhores do que nós. Oscilamos entre isso e desvalorizar os outros. Ambas as atitudes são erradas. O que é necessário para vencer é ser melhor dentro do campo. E isso é possível mais vezes do que parece porque temos qualidade, como procurei mostrar. Talvez ao nível da compleição física tenhamos alguma desvantagem em relação a outros países e outros clubes. Mas aí cabe ter a inteligência, a capacidade e a confiança para conseguir levar o jogo para o campo que mais nos interessa e onde temos vantagem. E isso acontece no plano técnico, no toque de bola e por vezes na velocidade. Olhe-se para a equipa de Espanha que ganhou tudo no futebol mundial e esteve imbatível em torneios consecutivos. Com a excepção de Sérgio Ramos (que tem apenas 1,83) eram todos "pequeninos": Xavi, Iniesta, Villa, Fabregas... Simplesmente o adversário nem via a bola. A comparação não é para dizer que temos a mesma qualidade ou devemos jogar como a Espanha, mas sim que temos de levar o jogo para o lado que mais nos convém se e quando enfrentarmos adversários mais físicos. Ainda mais um exemplo: Busquets. Neste caso não o refiro por ser baixinho. Pelo contrário, estamos a falar de um jogador com 1,90m. Mas a sua compleição e morfologia (alto e muito magro) não só não parece de um jogador daquela posição (uma posição de choque em geral) como não parece a mais adequada para um jogador de futebol. No entanto é considerado por muitos um dos melhores médios do mundo naquela função. Falta-nos consistência e confiança em nós próprios. Vencer a um nível elevado não deve ser visto como inacessível nem sequer como um feito extraordinário. Deve ser visto com alguma normalidade num clube como o Benfica. Agora para isso é necessário qualidade, algo que começamos a ver neste plantel. Uma última nota. Acho que temos sido demasiado vulneráveis aos jogos mentais do Porto nos últimos anos e por isso temos perdido tantas vezes, muitas delas na Luz, o que é inadmissível. O que vi no hóquei foi já um muito bom sinal. Mais uma vez, a questão é confiança (não num sentido superficial de confiança vazia e balofa, mas a confiança que resulta do trabalho sério e que não se deixa abalar ao mais pequeno percalço). As palavras de Florentino na fase final da época foram importantes: acreditamos no processo. Não lhes demos troco nem nos deixemos distrair pelos truques e mind games. Concentremo-nos sempre no jogo e em expressar as nossas qualidades no seu máximo expoente.