quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Benfica precisa de seriedade e serenidade

Duas coisas que há muito não existem no clube.

Mozer, um dos últimos verdadeiros campeões que passou pelo Benfica, esteve ontem na Bola TV e teceu algumas considerações extremamente certeiras.

Mozer foi um central de eleição: rápido, excelente no desarme e quase imbatível no jogo aéreo, o brasileiro era um central que oferecia uma enorme segurança à equipa. Para além disso, Mozer impunha respeito dentro do campo: com ele ninguém brincava.

Uma das coisas que Mozer disse ontem foi que o que sobra hoje no Benfica em verborreia (somos os melhores, somos os que jogamos mais), falta depois em: disciplina e rigor, segurança no jogo, resultados.

Olhemos objectivamente para os últimos anos do Benfica e reflitamos: esta equipa do Benfica dá-nos segurança? Para mim a resposta é óbvia.

O Benfica pode até ter entusiasmado (e entusiasmou de facto, com muitos golos e espectáculo) no último ano em que foi campeão (2010). Mas nunca demonstrou ser uma equipa verdadeiramente sólida, que oferecesse segurança. O Benfica jogava numa vertigem quase louca, que a velocidade de Di Maria e Coentrão, as tabelinhas de Aimar e Saviola, o fulgor e a presença de Javi Garcia, o pulmão de Ramirez e a efusividade de David Luiz permitiam. Mas era uma equipa que parecia sempre no fio da navalha, que não descansava os adeptos. Mesmo a ganhar por 2-0 temíamos sempre que o jogo se pudesse complicar. 

A melhor demonstração de que mesmo esse melhor Benfica de JJ era pouco confiável em termos de controle de jogo e capacidade defensiva veio nos jogos mais difíceis, nomeadamente em Anfield Road (em que perdemos 4-1), em Braga (onde perdemos 2-0) e nas antas, em que perdemos por 3-1 quando jogámos grande parte da segunda metade do jogo contra apenas 10. E, recorde-se, o treinador do Porto era Jesualdo que não se tornou famoso pela sua ousadia...

Mesmo então, o Benfica sofria golos desnecessários. Na primeira jornada foi uma aflição para empatar com em casa o Marítimo, como mais à frente no campeonato o foi para empatar em Olhão. Contra a Naval (para além do jogo em casa em que vencemos com um golo aos 90 minutos) no jogo da segunda volta aos 12 minutos o Benfica perdia por 0-2. Teve depois a enorme capacidade de dar a volta e vencer por 4-2. 

A qualidade existia, isso é indesmentível. Agora mesmo nessa altura o Benfica não demonstrava aquela segurança, aquela confiança das equipas campeãs, que ganham com regularidade e naturalidade.

E nos anos seguintes, com menos qualidade devido à saída de jogadores fundamentais, os problemas agravaram-se e a insegurança aumentou. Em 2010/11 iniciou-se a época a perder a supertaça para o Porto, o campeonato a perder em casa com a Académica e levou-se 5 no porto para acabar logo com as dúvidas sobre o campeão ainda na primeira volta. Mas, por incrível que pareça, o pior ainda estava para vir. Num prenúncio do que se passou esta época, em poucas semanas o Benfica: permitiu que o Porto vencesse e assim conquistasse o título no Estádio da Luz (com a agravante de ter assim permitido que o Porto fosse campeão invicto - feito que nos pertencia - nessa época); perdeu a possibilidade de estar na final da Liga Europa, sendo eliminado nas meias finais pelo Braga; perdeu a possibilidade de estar no Jamor, depois de ter vencido 2-0 nas antas, perdendo 3-1 em casa contra o Porto também nas meias-finais! Foi a época em que estivemos nas meias-finais...

Depois perderam-se mais dois campeonatos, desperdiçando avanços de 5 e 4 pontos de avanço a que acresce tudo o que de mais se passou no ano passado. 

A verdade porém é que este Benfica, mesmo quando parecia lançado para ganhar tudo, não inspirava muita confiança. Essa é a realidade. Nós apoiávamos, "acreditávamos" e tudo mais - mas estávamos sempre, como se costuma dizer, com o credo na boca. Temíamos que a qualquer momento a equipa vacilasse. Ainda por cima sabendo-se do papel das arbitragens em Portugal, que é o de "equilibrar" as coisas quando o Benfica está muito forte e prejudicar objectivamente a nossa equipa quando damos qualquer sinal de fragilidade. 

O Benfica de JJ tem sido mais forte do que o do passado imediatamente anterior (isso é indiscutível) mas não está ao nível do Benfica campeão que impunha respeito em todos os campos do País pela categoria e postura dos seus atletas e dirigentes. 

A este Benfica faltam várias coisas, nomeadamente disciplina, como Mozer referiu, rigor, seriedade e serenidade. Não duvido que se trabalhe e que se faça o melhor que se sabe, mas sem confiança (que não se pode confundir com arrogância, vaidade ou soberba), sem seriedade e sem serenidade, não se conseguem os resultados pretendidos. 

O Benfica continua a não olhar para os seus erros e insuficiências, quanto mais a corrigir seja o que for. O Benfica de hoje não é é sério ao reconhecer as suas próprias limitações e corrigir o que está mal, preferindo fugas para a frente constantes, numa vertigem de contratações, de mudanças, de ziguezagues na sua postura e na sua estratégia, que não permitem a estabilidade que se diz pretender. As pessoas até se podem (no caso de Vieira e Jesus) manter há vários anos mas por diferentes razões está-se sempre a começar quase do zero.

Aquilo que hoje sobeja em promessas vãs e auto elogios, escasseia em resultados. E não vejo modo destes protagonistas alterarem o corrente estado de coisas. 

2 comentários:

  1. Ia fazer um comentário, mas vejo aqui tanta treta sobre a forma como jogamos e não vejo nada sobre como jogam os adversários que fazem grandes penalidades que os árbitros não vêem, ou invalidam-nos golos limpos por pseudo faltas (o 2-0 em Braga no ano do titulo, onde houve um empate que nos foi sonegado pro uma pseudo falta) que o melhor é passar à frente...

    Há gente tão habituada a ser roubada, que não consegue enxergar o que quer que seja de futebol... do Benfica

    Já agora eu só sinto receio do 2-0 quando jogo cá. Quando jogo fora tenho muito menos receio... por causa dos árbitros e seus critérios.. incorectos num caso e potenciadores do adversário, correctos noutro caso e propulsores de premiar as competências próprias...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Em primeiro lugar, um bocadinho mais de respeito e menos arrogância, se queres realmente expor algum argumento e ser levado a sério. Aqui não há tretas nem há gente habituada a ser roubada. Se há blogs que de uma forma sistemática e quando realmente tínhamos que actuar (há duas épocas) apontou e desmascarou muitas das faces do sistema e das habilidades dos árbitros, este foi certamente um deles. Não sou eu que comando os destinos do Benfica, porque se fosse a postura do nosso clube seria outra.Além disso, o comentário nem sequer se percebe, porque eu aponto a questão da arbitragem...
      Agora isso não nos pode impedir de ver as outras coisas que estão mal e que dependem exclusivamente de nós. A crítica, a análise ao que fazemos de bem e de mal é importante para progredir e para melhorar. No Benfica porém só se fala de árbitros e não se aprende com os erros. Pelo contrário, insiste-se e repetem-se os erros.

      Eliminar

Os comentários são agora automaticamente publicados. Comentários insultuosos poderão ser removidos.