Até ao momento o Benfica pouco mexeu no plantel [a base desta avaliação são os 30 que seguiram para os EUA], o que à partida é uma coisa boa tanto mais que somos bi-campeões. A estabilidade é uma base importante para o sucesso. No entanto existem dois factores que têm que ser ponderados neste balanço: o nível de investimento a que assistimos por parte dos rivais e a veterania do plantel do Benfica.
Começando por este último ponto, é evidente que a experiência é algo importante, mas o Benfica poderá já estar a entrar na fronteira de uma equipa demasiado trintona. Uma equipa demasiado veterana começa a denotar falta de rotação, existem muitos exemplos disso. Na defesa Luisão e Eliseu começam a estar (um para central, outro para lateral) nessa fronteira a partir da qual o rendimento se começa a ressentir. O mesmo se passa no ataque, onde Jonas e Lima estão na mesma situação. É que uma coisa é ter um ou outro jogador mais experiente no seio de uma equipa jovem, outra é ter uma equipa composta sobretudo por jogadores na casa dos 30. O sector onde estamos mais tranquilos neste aspecto é o meio campo onde temos jogadores na plenitude do seu rendimento, como Fedja, Pizzi ou Samaris e jovens como Cristante e Talisca. É um aspecto que o treinador terá que ponderar: por um lado aproveitar a experiência dos jogadores mais velhos da equipa, por outro assegurar-se que ela tem suficiente força e energia para manter um rendimento e uma rotação elevados não apenas em cada jogo mas na época como um todo.
Em termos de qualidade, o Benfica está em défice nalguns sectores. O mais óbvio são as laterais da defesa. Com a saída de Maxi, o Benfica ficou com Eliseu, Sílvio, Marçal e André Almeida, a que eventualmente acrescerá Lindelof, que jogou nessa posição na selecção sub 21 da Suécia. Ora estas opções são insuficientes para o Benfica. Eliseu está um ano mais velho do que o ano passado (em que já era muito criticado por alguns adeptos - que não eu), Sílvio praticamente não jogou depois da gravíssima lesão que teve, pelo que o seu rendimento é uma incógnita e André Almeida é um jogador válido e útil para jogos contra equipas superiores mas que não tem rotação para dar a dinâmica atacante que um grande precisa. Veremos como Marçal se adapta mas este quadro de laterais não chega. Em termos de centrais, para além da questão da idade de Luisão, aparentemente apenas temos Jardel e Lisandro, uma vez que César estará de saída. Ora, isto pode também ser pouco para um quadro competitivo exigente.
Quanto aos extremos, Carcela será aparentemente uma boa opção, a questão Gaitan mantem-se em aberto e Sálvio estará lesionado no início da época. Para além disto existe apenas Ola John. Mais uma vez é pouco, pouquíssimo se Gaitan acabar por sair, para um clube com as aspirações do Benfica. Se Gaitan saísse (e é verdade que todos os anos se diz que sairá e todos os anos continua) começaríamos a época com Carcela e Ola John. Ora isto não pode ser considerado uma opção válida. Também no eixo do ataque me parece que temos limitações e que o plantel não pode ser considerado fechado. O problema do ataque é que se Rui Vitória optar por apenas um ponta de lança, não me parece que Jonas ou Lima (ou Jonathan Rodrigues que ainda não mostrou nada) possam ser esse jogador. A meu ver são demasiado veteranos para esquemas que exijam uma correria, choque e desgaste permanente na frente de ataque. Para tal são necessários avançados até com outro perfil, mais combativo e agressivo, como Mitrovic. Sabemos que o Benfica o tentou contratar (se vier a acabar no Porto é mais uma desilusão) e que abordou sem sucesso outros jogadores, como Joe Campbell. Confesso que não percebo o que se passa: aparentemente o Benfica não consegue contratar nenhum dos jogadores que deseja, ao contrário dos rivais. Percebo que não se possa entrar em loucuras mas no mínimo seria exigível um pouco mais de segredo nos negócios sob pena do Porto continuar a ter no Benfica o seu melhor olheiro.
No meio campo, para acabar bem, parece-me que temos as opções válidas e necessárias para vários tipos de modelos e de jogos. Aí não devemos a ninguém em termos de qualidade.
Na globalidade temos porém que admitir que faltam soluções. A meu ver o Benfica precisaria de um lateral direito de grande dinâmica e qualidade comprovada (mais uma vez parece que tentámos dois nomes nenhum deles com sucesso), de um extremo e de um ponta de lança fisicamente forte, capaz de jogar sozinho na frente e concretizador. Na minha opinião falta ainda um central, mas seria absurdo ir contratar um depois de vender ou emprestar César. Com estas contratações a juntarem-se à qualidade e experiência que já existem (e à juventude que está à espreita para aparecer) teríamos um plantel capaz de disputar as provas nacionais e de pelo menos passar a fase de grupos da Liga dos Campeões, cada vez mais um objectivo mínimo essencial para assegurar a saúde financeira dos clubes. Caso contrário, caso o plantel se mantenha no essencial como está, teremos que esperar de Rui Vitória algo que, não sendo um milagre, seria altamente surpreendente: fazer um plantel inferior ao da época passada render mais e ter melhores resultados desportivos.
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