quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Onze finais europeias perdidas

 É inacreditável.


O Benfica pura e simplesmente perde todas as finais europeias em que se vê envolvido. 

Béla Guttmann tinha aparentemente razão e a sua previsão sombria (que muitos consideram uma maldição) já nem se limita aos séniores: agora até as Youth Leagues de júniores estão incluídas.

Para quem não sabe, ou não se lembra, o ex-treinador húngaro do Benfica, bicampeão europeu (1961 e 1962), saiu em litígio com a direcção e terá dito algo como: "nem daqui a 100 anos voltam a ser campeões europeus" ou "sem mim, nem daqui a 100 anos o Benfica conquistará uma Taça continental".  

É absolutamente inacreditável. São 11 (onze) as finais perdidas! Seguidas!!!

O Benfica ganhou uma Taça Latina (1950) e as duas Taças dos Campeões referidas e desde então perdeu TODAS as finais em que se viu envolvido. Oito em séniores e agora três em júniores. Seja por uma razão, seja por outra, o desfecho é sempre o mesmo. Praticamente nem vale a pena ver os jogos.

Ontem foi mais um exemplo. O Benfica marca um auto-golo, falha um penalty e acaba o jogo a atirar bolas à barra, com o Real Madrid completamente remetido à sua defesa e a perder tempo. 

Nas finais europeias do Benfica a lei de Murphy tem 100% de taxa de aplicação. Já perdemos por todas as razões imaginárias. Perdemos por pouca sorte, por arbitragens miseráveis, com golos nos últimos segundos... 

No Benfica as finais são para se perder.


A culpa é de Gutman? A verdade é que explicações individuais para cada uma das derrotas ou falar simplesmente em "coincidências" neste momento já não é convincente. 

O Porto ontem fez uma publicação provocadora que recordava a sua vitória na Youth League (na única final em que participou). Mas olhemos para o historial do Porto na Europa: 5 finais europeias ... 4 vitórias. Se contabilizarmos a Youth League são 5 em 6. Contra factos não há argumentos. O Porto vai às finais para ganhar, o Benfica vai para perder.


Será psicológico? Algo mais?

Em termos práticos, só vale a pena concentrarmo-nos no que podemos controlar. 

E isso é simplesmente a nossa atitude e comportamento. Penso que o Benfica não está a perder finais por falta de empenho, vontade de vencer ou sequer falta de qualidade. Muito pelo contrário. 

Não se pode falar nunca de vontade em excesso mas pode-se falar de ansiedade, de uma carga emocional exagerada, um certo dramatismo na forma como estas competições são encaradas. 

Ainda ontem Hélder Conduto passou o jogo a dizer coisas como "acredita Benfica". 

Encaram-se estes jogos como se fossem algo de transcendente, algo de sobrenatural. Parece que atraímos já a má sorte e o desfecho negativo com a ansiedade que projectamos. E depois as coisas acontecem mesmo: os penalties não assinalados pelo árbitro (e os falhados pelos nossos jogadores), os golos nas primeiras ou únicas oportunidades dos adversários, os golos nos últimos minutos... É um pouco como nos jogos contra o Porto. Parece que entramos já a perder.


Enfim, tudo isto são reflexões que não se pretendem de carácter científico. Muito menos estou a crucificar atletas (ainda ontem os rapazes tudo tentaram - faltou mais uma vez a tal "sorte"). Estas reflexões são apenas uma tentativa de racionalização de algo que é de facto inexplicável e sem comparação no mundo do futebol.


PS - Temos ainda o case study do Sevilha: 6 finais da Liga Europa, 6 vitórias. Será também coincidência?

17 comentários:

  1. E alguém liga ao Sevilha em termos do top europeu???

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    1. Liga em que aspecto? O Sevilha está em 8º do ranking da UEFA, o Benfica está em 20º...

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  2. ou a juventus...tb perdeu umas 5 ou 6 champs

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    1. 7 - sete...
      Ainda é pior do que o Benfica em termos de Champions. Tem também apenas duas ganhas.
      A questão é que tem 3 UEFAs e uma Taça das Taças ganhas, o que lhe dá 6 títulos europeus (descontando supertaças). Perdeu apenas uma destas finais portanto em total finais-títulos europeus tem 14-6. É mau, mas o Benfica ainda consegue ser muito pior com 10-2. Para ser mais concreto, ao actual ritmo, o Benfica precisaria de mais 20 finais para ganhar os 6 títulos da Juventus...

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  3. Boas Frank, talvez estejamos a ser demasiado críticos com o nosso clube, não que não hajam várias coisas a criticar, nomeadamente ontem.

    Mas vejamos, perdemos uma final por um único golo a jogar no estádio do adversário na primeira final desse adversário; perdemos outra final após prolongamento a jogar num estádio do país do adversário dessa final na primeira final de um clube desse país; perdemos uma final nos penalties num jogo em que fomos inferiores mas não assim tanto; perdemos uma final com um golo nos descontos; por fim perdemos outra final nos penalties com imensas razões de queixa da arbitragem.

    São de facto muitas finais perdidas, mas analisemos as finais do Porto, finais de competições que começam num ano e acabam noutro entenda-se: ganharam uma final a um super Bayern é verdade, mas esse Bayern não era comparativamente melhor que o Barça ou o Real de 61 e 62; ganharam outra final contra uma equipa boa mas perfeitamente ao seu alcance e sem razões de queixa como tivemos por exemplo com o Sevilha; ganharam outra final em que as odds eram-lhes abismalmente favoráveis, estou a falar do Mónaco obviamente; por fim ganharam uma final contra um clube inferior (a eles) do nosso país, falo do Braga claro.

    Eu não me atrevo a dizer que nós não perderíamos a final contra o Braga, mas convenhamos, tirando o Bayern, qual foi o gigante no próprio país ou na Europa que eles enfrentaram? OK, o Celtic é um gigante na Escócia, mas a Escócia não é propriamente um colosso do futebol europeu e mundial.

    Do nosso lado tivemos; AC Milan duas vezes e provavelmente em dois dos melhores períodos das sua história; Inter de Milão em uma das duas Taças dos Campeões que têm, Manchester United naquela que foi a sua equipa mais mítica; Anderlecht no auge da sua história; PSV no momento mais alto da sua história; Chelsea numa fase em que se tinha (re)afirmado como um grande de Inglaterra; e Sevilha o "papa" Taças UEFA / Liga Europa com um dos melhores jogadores deles em campo, o Felix Brych.

    Mas temos mais, as nossas finais perdidas foram (salvo erro) em 63, 64, 67, 83, 88, 90, 13, e 14. Estamos a falar de um total de 51 anos de diferença entre a primeira e a última finais perdidas, deu tempo para os finalistas vencidos de 63 serem avôs e alguns bisavôs.

    Quanto aos miúdos, além das equipas mudarem quase todos os anos, há um ponto que julgo que deve ser melhorado, ou melhor dois, a capacidade física dos nossos jogadores jovens, e a mentalidade que é muito reflexo de termos professores de Educação Física a treinar e não ex-jogadores de primeira linha. Isto não é uma crítica à nobre profissão de professor de Educação Física, mas ser Professor de Direito não é sinónimo de ser-se um advogado muito acima da média, ou ser-se professor de Gestão não é sinónimo de ser-se CEO de uma empresa cotada em Bolsa.

    Há coisas que podemos e devemos mudar, mas julgo que não devemos dramatizar. E quanto ao sucesso do Porto na época passada, estão de parabéns, mas qual a melhor sinalização de ser-se uma boa escolha de futebol? Um clube que em cerca de 10 participações conquista o troféu na única final que jogou, ou um clube com as mesmas cerca de 10 participações consegue chegar a 3 finais e perde-as todas? Acho que não é preciso pensar muito para se dizer a resposta correcta.

    Saudações

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    1. não te atreves a dizer que não perdíamos com o braga, porque perdemos com o braga já que fomos eliminados por eles.

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    2. Estava a falar na final, na eliminatória perdemos por golos fora, eles marcaram tantos como nós.

      E uma final é diferente, há factores psicológicos como somos um exemplo negativo em finais europeias, mas em finais nacionais, tirando a Supertaça não existe nenhum clube com melhores índices que nós, excluo obviamente o E. Amadora ou o D. Aves, até o Moreirense que venceram todas as finais que disputaram, a única para ser mais exacto.

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    3. Mark, obrigado pelo comentário com uma análise tão exaustiva.
      Indo por partes, eu não creio que esteja a ser crítico. Praticamente mais não faço do que enunciar factos. A única crítica (e mesmo assim muito branda) é quanto ao excesso de emotividade ao encarar estas competições.
      Em relação ao Porto... Não tenho interesse nenhum em estar aqui a defendê-los. Mas que há uma atitude ganhadora da parte deles que não vejo no Benfica... isso parece-me evidente.
      Vejamos: o Porto perderia com o Sevilha? Tenho as maiores dúvidas, para não dizer que tenho quase a certeza que venceria.
      Contra o PSV? Idem.
      Anderlecht?

      Agora vamos fazer o exercício inverso. O Benfica ganhava ao Celtic? Tenho dúvidas. Ao Bayern? Não. Ao Mónaco? Talvez, mas seguramente não por 3-0. Ao Braga? Como o João Carlos assinalou, perdemos com o Braga na meia final. A segunda mão do jogo de Braga foi como se fosse uma final - e perdemos.
      Em relação aos míudos, claro que é diferente. Mas quando se perde 3 vezes e não se ganha nenhuma claro que alguma coisa está a falhar. Porque a final é um jogo contra um adversário de qualidade semelhante aos que já enfrentámos nas outras eliminatórias. Não é nenhum papão. Por isso não se percebe que cheguemos à final com aparente facilidade 3 em 7 anos e que percamos sempre essa final. Não há explicação.
      Quanto à qualidade da formação - sem dúvida. O problema é mesmo jogar (e perder) as finais.


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    4. 3 vezes em 7 anos (que é o total de edições da Youth League)...

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    5. @Mark Trencher
      mais me ajudas se não conseguimos vencer numa eliminatória em que por norma a equipa mais forte tem mais vantagem do que numa final em que num jogo só as varias vicissitudes podem pender o jogo para a equipa mais fraca, a não ser que esteja a considerar que por esse motivos tínhamos hipótese de quebrar este ciclo terrível.

      @frank
      contra o psv não acho que seja assim tão liquido que os corruptos tivessem ganho, alias poderia até acontecer como nos poderia ter acontecido, porque nos penaltys tudo é possível.
      não esquecer que aquele psv foi a base da holanda campeão europeu com reforços da dinamarca, depois campeões em 92, e com o gerets.
      contra o anderlecht não ganhavam como não ganharam que foram eliminados por eles na segunda eliminatória e de forma até rotunda.
      no resto de acordo.

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  4. isso tem a ver com mentalidade e com a motivação, pelo menos estas cinco ultimas, em que vamos para participar e não para conquistar.

    desde cedo nesta final se percebeu que eles eram mais objectivos eles vinham para vencer desse para onde desse da maneira como fosse e nós não.

    e não estou a culpar os jogadores isto vem de cima é a maneira como o jogo é preparado mas sobretudo toda uma cultura que infelizmente esta enraizada no clube.

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    1. Eu quero acreditar que não fomos apenas para participar. O problema parecer-me ser uma ansiedade que se acumula na proporção do historial de resultados negativos, bem como uma excessiva emotividade, como exemplifiquei com o Hélder Conduto.

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    2. mas quando falo que vamos para participar é que não vamos com aquela determinação que tem que ser que não existe outra hipótese senão a conquista, o que vemos é as outras equipas desde o inicio a darem o tudo por tudo e nós estamos sempre a ver como é que as coisas param.

      sim e esses factores também influenciam e muito.

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    3. É muito por aí, o nunca entrarmos com tudo dê por onde der, só admitindo dois resultados: Vitória ou Morte (ou Desonra), à semelhança daquele exemplo lendário dos invasores que chegam pelo mar e queimam os barcos, (já li que foram os gregos na Ilíada, os chineses no Sun Tzu, e outros salvo erro indianos ou lá o que é).

      Mas uma vez mais relembro o desfasamento temporal das finais, e aí será mesmo o tal factor de pressão da equipa que jogue uma final europeia pelo Benfica, sejam as de 60, as de 80, as de 10, todos têm o peso de ser os heróis que "vão matar o borrego".

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    4. concordo,
      atenção que aquilo que disse é sobre estas desta decada, as dos seniores e dos juniores.

      as da década de 60 não sei que não as vivi.
      as da década de 80 não acho que faltasse isso, faltou experiência na primeira, organização do clube na segunda e terceira, entre outras coisas que podemos falar.

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  5. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  6. Não esquecer que a primeira final que o Porto disputou foi nas taças das taças contra a melhor equipa do mundo chamada Juventus que tinha nas suas fileiras Platini, Bonieki, Paulo Rossi e outros jogadores italianos que foram campeoes do mundo pela Italia em 1982. Apesar da inexperiencia o Porto bateu-se muito bem contra a Juventus e foi bem prejudicado no jogo pelo arbitro da ex RDA. Perdeu 2-1 e remeteu a Juventus à defesa depois deles marcarem o segundo golo.
    Por isso meus amigos eles tem mentalidade vencedora. Vimos isso recentemente na Youth League em que venceram 3 a 0 o Chelsea que já ganhou duas vezes a competição.

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