Portugal superou em muito as expectativas para este Euro (que não eram muito elevadas), tendo feito um torneio praticamente irrepreensível.
Quando, 4 dias antes do Euro começar, disse que "numa competição como um Europeu na qual se jogam no máximo 6 jogos o factor sorte joga um papel muito importante" estava a antever o que de facto se passou.
No canal norte-americano ESPN, que transmitiu todos os jogos do Euro, foi dito que Portugal era indubitavelmente a melhor nação futebolística a nunca ter ganho um título. Isto apesar de um registo de presenças nos grandes torneios ao nível dos melhores: desde 1996 só não nos qualificámos para o Mundial de 98, graças a uma decisão escandalosa de um árbitro que expulsou Rui Costa no último jogo do apuramento, quando vencíamos a Alemanha por 1-0, resultado que nos qualificava.
Portugal é realmente a maior selecção a não ter ganho nada: Grécia e Dinamarca, selecções medíocres, conseguiram ser campeãs europeias. República Checa, representante de um futebol atrativo e técnico semelhante ao nosso mas inferior, também (em 1976, como Checoslováquia). A Holanda venceu em 1988, a Rússia em 1960. A Inglaterra nunca venceu um Europeu mas venceu o Mundial de 1966 (que provavelmente nós merecíamos ter vencido). Até o próprio Uruguai (em 1930 e 1950) conseguiu o título de campeão mundial.
Portugal deveria ter ganho o Euro 2004 mas poderia ter ganho também o Euro 2012, eliminando a melhor selecção da história do futebol. O que faltou? Sorte.
Dizer e escrever, como fazem vários, que passamos a vida a choramingar e a queixar-nos da sorte, quando o que somos é mandriões e pouco ambiciosos é uma atitude tola e ignorante. Quem já saiu de Portugal ou pelo menos se dá ao trabalho de saber o que os outros pensam sobre nós verifica que essa percepção não existe. Pelo contrário, há um enorme respeito pela nossa selecção e a convicção de que só a infelicidade nos mantém afastados dos títulos. Que os merecíamos já, pelo extraordinário futebol que praticámos em vários torneios, desde 1966 a 2012, passando por 2000 e 2004. Que o título que merecíamos só nos fugiu por manifesta infelicidade ou "desajudas" dos árbitros. Veja-se como somos eliminados do Euro 2000 e do Mundial 2006 pela França com dois penalties, nenhum dos quais seria marcado se fosse ao contrário. Como perdemos em 1984 contra a mesma França no prolongamento, depois de darmos a volta ao marcador e de uma sensacional exibição de Chalana. Como perdemos em 66. Sempre de forma dramática, sempre a saber a injustiça.
Desta vez fomos melhores do que os melhores nos 90 minutos do jogo. Não o fomos no prolongamento, não sei se por desgaste mental se pela falta de banco, que foi uma realidade indesmentível. Mas sei que nos penalties a sorte nos abandonou. Nos abandonou logo no sorteio de moeda ao ar, primeiro ao dar à Espanha a escolha de baliza (junto a onde estavam concentrados os adeptos espanhóis) e depois ao dar de novo aos espanhóis a escolher quem batia primeiro, o que normalmente é também uma vantagem. Depois, com o facto de a vantagem mental que obtivemos com o falhanço de Alonso se ter logo esfumado no primeiro penalty, com a grande intervenção de Casillhas e o infortúnio de Moutinho. E por fim, para cúmulo, com o penalty de Bruno Alves a embater na parte interior da trave e a bola a "escolher" bater no chão à frente da linha de golo, ao passo que o último penalty de Espanha, depois de bater no poste "escolheu" entrar na baliza. Infelicidade.
Estivemos perto de bater a Espanha, antes disso, durante os 90 minutos. Além de termos sido melhores durante largos períodos do jogo e termos equilibrado a quase totalidade do resto, poderíamos no minuto 89 ter resolvido o jogo. Ronaldo disparou para as nuvens numa posição em que não costuma falhar.
Fomos a única equipa que não sofreu golos da Espanha, que mais a fez desencontrar-se do seu estilo de jogo. A felicidade que é preciso para vencer torneios, a felicidade que a Espanha teve neste jogo e a Grécia há 8 anos, nada quis conosco - mais uma vez.
Deixámos porém de novo uma grande imagem. Merecíamos (merecemos) mais. Será que alguma vez o conseguiremos?
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