Terminou no Domingo o Euro, com um vencedor previsível e um resultado inimaginável.
Mais uma vez dou-me ao trabalho de confrontar as previsões com a realidade. É um exercício que à partida parece absolutamente inútil, mas que me dá algum gozo intelectual.
Em primeiro lugar, na sondagem que promovi, perguntando qual o principal favorito à vitória, seleccionei 7 equipas. Seis delas estiveram nos quartos de final. Não podiam estar as 7 pois a Holanda (eliminada na fase de grupos), Portugal e Alemanha faziam todas parte do Grupo B. Estiveram, além das outras 6 que escolhi, a República Checa e a Grécia.
A Holanda foi a principal desilusão do campeonato, creio que por 3 razões: o vedetismo dos seus jogadores e o mau ambiente entre eles; a boa prestação de Portugal e da Alemanha; a derrota no primeiro jogo com a Dinamarca, que abanou muito a equipa e a deixou numa situação quase desesperada. Aliás, depois deste resultado, considerei que a Holanda tinha perdido o seu estatuto de favorita.
A segunda grande desilusão foi a Rússia, sobretudo pelas expectativas criadas após o primeiro jogo. A Rússia vence a República Checa por 4-1 e esta última acaba por estar nos quartos de final, em detrimento daquela.
Quanto à França e à Inglaterra, confirmaram que neste momento não têm futebol para mais. Os quartos de final que alcançaram correspondem ao que podiam ambicionar e como tal ao expectável.
Dos resultados da referida sondagem verifica-se que a Espanha foi dada como favorita pela maioria dos visitantes deste blog, seguida de Portugal e da Alemanha. Ou seja, três dos semi-finalistas foram apontados como os principais favoritos, com o vencedor a ocupar a primeira posição (note-se que a sondagem foi fechada antes do início do Euro).
No que os participantes na sondagem não acertaram foi no grau de favoritismo atribuído à Itália. Apesar da qualidade dos jogadores estar muitos furos abaixo da última squadra vencedora (Mundial de 2006), que contava com Del Piero, Totti, Toni, Inzagui, Gattuso, Nesta, Canavarro, Zambrotta, a verdade é que a Itália é sempre uma selecção muito competitiva, que se transcende nestes campeonatos em que se jogam poucos jogos e a atitude mental é decisiva. A Itália costuma ir em crescendo e assim aconteceu em grande medida. Com um Pirlo em alto nível e uma equipa sofredora mas também positiva na abordagem aos jogos, qualificou-se com dificuldade, com uma vitória suada frente a uma Irlanda combativa, venceu a Inglaterra nos quartos como era previsível (embora com a sorte dos penalties, resultado de uma atitude ultradefensiva da Inglaterra que não se pode criticar, pois era a que melhor lhe servia), e desmantelou defensivamente a Alemanha nas meias.
No fim da primeira jornada, no link acima citado, considerei:
"Face a estes dados e aos resultados, creio que não andarei muito longe da verdade se disser que do lote Espanha, Alemanha, Itália sairá pelo menos um finalista. Que a França e a Inglaterra, sobretudo esta última, praticamente não mostraram nada e muito dificilmente irão longe na competição".
Para além da Espanha, que fica para último, e de Portugal, que merece artigo separado, falta-me falar da Alemanha. O que aconteceu à Alemanha?
Na minha opinião, aconteceu Joachim Low. É verdade que Low conseguiu levar a Alemanha à final do Euro 2008, depois de derrotar Portugal por 3-2 nos quartos e a Turquia pelo mesmo resultado nas meias. Conseguiu colocar a Alemanha a jogar um futebol atacante e atrativo, espectacular mesmo, como aconteceu em 2010 nas vitórias de 4-1 sobre a Inglaterra e de 4-0 sobre a Argentina. Mas em ambas as competições perdeu com a Espanha por 1-0, na final do Euro 2008 e nas meias do Mundial de 2010. Neste último torneio conquistaria o 3º lugar após derrotar o Uruguai (em 2006, com Klinsmann, a Alemanha tinha igualmente sido 3ª, nessa altura vencendo Portugal por 3-1).
Desta vez, a Alemanha tinha uma oportunidade de ouro para chegar à final, pois jogou contra a Itália mais fraca dos últimos anos. No entanto, Low cometeu a meu ver erros catastróficos para a sua equipa: depois de rodar excessivamente a equipa contra a Grécia, voltou inexplicavelmente a deixar Muller no banco contra a Itália e substituiu os dois pontas de lança ao intervalo. Tirar do jogo um dos melhores pontas de lança do mundo (Gomez) quando se está a perder por 2-0 deu no que deu. Por isso, sem tirar mérito à Itália pela passagem à final, há que atribuir um enorme demérito ao treinador alemão que voltou a deixar escapar uma grande oportunidade de levar a Alemanha de volta aos títulos.
Por fim, em relação à Espanha, há que reconhecer a qualidade dos seus treinadores e jogadores. Não é certamente por acaso, nem por mera sorte, que se vencem 3 torneios seguidos. E no entanto, não deixa de ser verdade que a Espanha é feliz ao bater Portugal nos penalties, tal como o tinha sido em 2008 ao bater a Itália, também por 4-2. Para vencer há que ter a sorte que, infelizmente, nós parecemos não ter, mas a esse assunto voltarei depois. Quanto à Espanha para além dessa ponta de sorte há um mérito muito grande, alicerçado numa qualidade de posse de bola e uma precisão no passe que custam a crer. Iniesta, Xavi e Xabi Alonso fazem um meio campo quase indestrutível. Depois, quando perde a bola, a Espanha tem uma capacidade de pressão que não tem paralelo, em nenhuma outra equipa de futebol do mundo. A sua ocupação dos espaços é simplesmente imaculada. E tudo com jogadores "levezinhos".
É "oficial": por muito que nos custe (e a mim custa-me bastante) a Espanha é a melhor selecção de todos os tempos.
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