terça-feira, 23 de abril de 2013

Escândalo?



A arbitragem de João Capela na Luz mereceu muitas críticas e é evidente que não está isenta de polémica. Da mesma forma que nos queixámos inúmeras vezes no passado (com razão), temos que ter a honestidade intelectual de saber reconhecer quando somos beneficiados.
Foi o caso? E se sim, pode-se falar num escândalo? (A palavra foi usada por amigos meus, tão benfiquistas como eu.)

O assunto merece-me agora algumas reflexões, primeiro porque não gosto de ver o Benfica ser beneficiado pela arbitragem (muito menos se estivermos perante um "escândalo"), segundo porque as consequências têm o potencial de manchar uma época até aqui imaculada (e a propaganda portista investirá nisso todas as suas forças), terceiro porque não fiquei no Estádio com essa ideia e quarto porque me parece que se poderá estar aqui, de propósito ou inadvertidamente, a distorcer o que aconteceu.
Fui assim rever o jogo - não só os casos - desde o primeiro minuto.

Não quero branquear nada (se o quisesse não me daria a este trabalho): quero apenas fazer uma análise o mais justa possível.

Quem por vezes passa neste blog sabe que defendo acima de tudo a coerência nas arbitragens e a aplicação de um critério uniforme ao longo do jogo (e de toda a competição, se possível).

Não admito que se marque penalty nalgumas situações em que a bola bate na mão e não se marque noutras praticamente iguais. Isto porém acontece, inclusivamente com o mesmo árbitro, em diferentes jogos.

No jogo do ano passado em Alvalade não foi marcado um penalty claríssimo sobre Gaitan e depois foi marcado um em que Luisão toca ao de leve no pescoço de Wolfsvinkel. Há ainda uma situação (que o árbitro vê) de um agarrão de Ismailov a Luisão na área que também não merece acção do árbitro, já depois dos  referidos lances. Luisão aliás acabou expulso, ao contrário de João Pereira, que jogou de forma inqualificável, podendo ter sido expulso pelo menos três vezes mas a quem tudo foi permitido, tendo acabado apenas com um amarelo.

Isso para mim configuram situações claras em que o árbitro não aplica um critério coerente, prejudicando objectivamente uma das equipas.

Foi isso que aconteceu Domingo?

Não. Desde o início do jogo o árbitro adoptou um critério: deixar jogar e marcar apenas as faltas indiscutíveis. O lance de Wolfsvinkel (que para mim não seria penalty em nenhuma circunstância, adoptasse ou não o árbitro um critério "largo") surge aos 5 minutos. Nessa altura tinham ocorrido já 3 lances (um sobre Miguel Lopes, um sobre Lima e um sobre Enzo) que poderiam ser apitados como falta mas que o árbitro não considerou, em coerência com esse critério. Aliás de dois desses lances (recuperações de bola) resultaram situações de perigo para a baliza do Benfica, um deles precisamente o de Wolfsvinkel.

Já quanto ao lance entre Maxi e Capel, tal como disse ontem, parece-me penalty. Mas atenção: o árbitro foi coerente. Há um lance aos 20 minutos em que Melgarejo é pisado por André Martins. Pelos critérios dos 3 ou 4 penalties, este também teria que entrar na contabilidade. O público da Luz e os nossos jogadores nem protestaram pois já se tinham percebido que o árbitro não apitaria faltinhas.

Depois na segunda parte existem dois lances, um para o Benfica, outro para o Sporting, também duvidosos. Num deles o defesa do Sporting empurra Gaitan dentro da área e no outro Maxi coloca um braço à frente de Viola, que se isolava. Penalties? Em ambos os lances, um outro árbitro poderia apitar. O de Maxi parece-me porém mais flagrante e penso que deveria ter sido assinalado, mesmo com o critério de que o árbitro fez uso.

Mesmo sobre os 94 minutos, de novo Viola tenta passar entre dois jogadores do Benfica e tropeça em Jardel. Aqui não me parece haver qualquer falta do nosso jogador, que não se mexe, mas não deixa de ser um lance aparatoso, tanto mais que tinha já havido os referidos lances de dúvida.

Este é o quadro geral, sem facciosismos e sem ignorar o ponto, que me parece fundamental por muito que portistas e sportinguistas agora o tentem desvalorizar de o árbitro ter deixado jogar e apitar o menos possível. Acaso o árbitro sabia, quando optou por adoptar este critério, que iria haver vários lances de dúvida na área do Benfica no decurso do jogo? É que o critério se aplicou realmente desde o apito inicial e não apenas depois dos lances de dúvida, como forma de justificar as (não) decisões então tomadas.

Não pedimos nós tantas vezes arbitragens à inglesa? Eu pelo menos faço-o. Nessa medida lamento que as coisas tenham corrido desta forma, porque a partir daqui os árbitros terão receio de enveredar por este caminho, que para mim é o certo.

Em termos objectivos, penso que  o Sporting acabou por ser prejudicado (pois foi a equipa que teve mais lances destes dentro da área). É natural que os sportinguistas se queixem (há que dizer aliás que as palavras dos seus dirigentes, pelo menos até agora, foram moderadas). Já menos sério é da parte de adeptos e comentadores ignorar que de facto houve coerência na forma de apitar e um critério praticamente uniforme ao longo do jogo. Como não o é reclamar vermelho para Matic, que devia ter visto amarelo, tal como Rinaudo poderia ter visto e também não viu ainda na primeira parte.

Capela já prejudicou o Benfica no passado (e eu fui muito crítico disso). Agora beneficiou, sobretudo no tocante aos dois lances de Maxi.

Outra questão é a de saber porque é que o árbitro adoptou este critério. Decidiu pela sua cabeça ou teve instruções nesse sentido? Já João Ferreira teve critério semelhante no Benfica-Porto, na minha opinião prejudicando nessa altura o desenrolar do nosso futebol, sistematicamente parado pelos jogadores portistas.

Dito isto, o Sporting perdeu por causa do árbitro? É difícil dizer. O Sporting entrou melhor e se tem sido assinalado penalty no lance em que Maxi e Capel se embrulham o jogo teria sido certamente diferente. Mas não quer dizer que o Benfica não o viesse a ganhar.

Não começou o Benfica a perder em Alvalade, tendo depois vencido por 3-1? Na Luz, contra o Newcastle, não se passou exatamente o mesmo?

Penso que a diferença entre as duas equipas é real e fez-se sentir sobretudo ao nível da concretização: o Benfica foi letal nos momentos cruciais do jogo e geriu o restante, excepção feita ao mau início. Se o árbitro tem assinalado o penalty de Maxi na primeira parte, caso ele fosse concretizado, o jogo seria diferente e o Benfica teria que jogar de outra forma. Se tivesse assinalado na segunda, o resultado passaria de 2-0 para 2-1, ficando ainda bastante por fazer para o Sporting.

Quanto a nós, teremos que jogar de outra forma (se possível, dado o avançado da época e a condição física já algo pesada de alguns jogadores, como Enzo, Luisão, Garay ou o próprio Matic em certos períodos do jogo) nas partidas em Istambul e na Madeira. A arbitragem de Capela não belisca um milímetro o nosso percurso até ao momento, nem sequer a justeza da vitória no Domingo.

Istambul e Funchal são as próximas paragens do que desejamos possa ser uma época de sonho.

2 comentários:

  1. Critério coerente? Sim. Correcto? Penso que não. Não podemos ter um tipo de arbitragens em 99,9% dos jogos e outro tipo completamente diferente num jogo isolado. Penso que houve lances claramente à margem da lei: Garay aos 4 ou 5 minutos dentro da nossa área, Maxi vs. Capel, entrada de Luisão a varrer num contra-ataque do SCP na 1.ª parte; lance perigoso de Matic sobre Bruma (amarelo alaranjado) em que nem foi assinalada falta! Os lagartos foram prejudicados e penso que só nos fica bem assumir isso. Se o resultado seria muito diferente? Isso já é outra história... Aguarda-se comentário ao jogo de ontem. Saudações!

    ResponderEliminar
  2. Caro Comestor, eu por acaso defendo que o critério é correcto e só tenho pena que não seja usado mais vezes, apesar do árbitro ter cometido aqui e ali alguns erros objectivos. Infelizmente só assinalas os lances a favor do Benfica, o que não me parece justo. Como eu demonstro acima, há lances contra o Benfica também, embora em menor número. Depois há outro aspeto que eu não posso ignorar: nas múltiplas arbitragens que beneficiam o Porto não vejo a imprensa levantar-se em coro de indignação. Pelo contrário, chegam ao ponto de ganhar com penalties inexistentes e expulsões mais do que forçadas dos adversários, entre outras vicissitudes, e NADA ser referido, a não ser que o Porto ganhou. Já neste jogo, parecia que tínhamos ganho com 2 golos fora de jogo ou resultantes de penalties inventados, tal o chinfrim que se fez com a arbitragem. Por isso é que nós benfiquistas temos que ser cuidadosos nestas questões e não dar munições aos nossos adversários. Já bem basta o que nos atacam para ainda virmos nós próprios autoinflingir-nos. Sobretudo não podemos só falar quando somos alegadamente beneficiados, ignorando completamente as instâncias em que os beneficiados são os outros, ou em que somos claramente prejudicados. Atenção a este aspecto!

    ResponderEliminar

Os comentários são agora automaticamente publicados. Comentários insultuosos poderão ser removidos.