Como se sabe, em Inglaterra o campeonato não pára na quadra natalícia, muito pelo contrário. Joga-se no boxing day e joga-se também no dia de ano novo.
Precisamente dia 1 o Chelsea venceu fora o Southampton (que chegou a ser a surpresa do início do campeonato) por 3-0 e conseguiu talvez a sua exibição mais conseguida da época. Mais uma vez Mourinho alicerçou a vitória da sua equipa na segurança defensiva e depois soube ter a arte de, no momento certo, usar as armas que tinha no banco e decidir a partida.
Mourinho procura (e esta característica foi muito bem observada por Norton de Matos que me parece o mais conhecedor e melhor comentador da Benfica TV) o equilíbrio nas suas equipas, usando os jogadores que melhor o podem assegurar em diferentes momentos do campeonato e dos próprios jogos.
Contra o Southampton, foi clara a intenção de, na primeira parte, controlar e segurar o jogo, manietar o adversário controlando a bola e os espaços sem assumir riscos, para então na segunda parte lançar os jogadores de maior acutilância ofensiva e vencer a partida (Óscar e William por Mata e Shurer). Foi um pouco o que o Benfica fez em Setúbal e que foi bastante criticado pelos comentadores e pelos próprios adeptos, que ora se queixam por (no ano passado) jogarmos bem e não ganharmos nada como de ganharmos mas não jogarmos bem (este ano).
A verdade é que um treinador vive de resultados, algo que constitui o cerne e a essência da "fórmula Mourinho" que não hesita em recorrer a tácticas ultra-defensivas e ao pontapé para a frente para o assegurar. (Recorde-se por exemplo a eliminação do Barcelona pelo Inter de Mourinho, na qual o 4-3-3 foi substituído por um insólito 7-3-0).
Isso porém é o extremo, pois Mourinho normalmente, até por treinar uma equipa de topo, assume mais as despesas do jogo. Mas não muito mais e nunca ao ponto de desgastar demasiado a sua equipa numa busca desenfreada do golo (algo que no passado aconteceu muitas vezes ao Benfica) ou de correr riscos defensivos para o conseguir. As mexidas de Mourinho na equipa são por regra conservadoras.
A "fórmula Mourinho" é de certo modo o ovo de Colombo: grande segurança defensiva, grande controlo do jogo e excelente ocupação dos espaços, grande equilíbrio da sua equipa e depois capacidade de mudar durante os jogos o que está menos bem na equipa. Mourinho tem a paciência de saber esperar pelo golo e pela vitória. Tem uma grande autoconfiança e consegue projectá-la para os seus jogadores. É um excelente líder de homens e, um pouco à semelhança de Jorge Jesus, consegue retirar o melhor dos jogadores, como é actualmente o exemplo de Hazard.
Por tudo isto, e por ter sabido escolher bem os clubes por onde passou, a fórmula Mourinho é altamente vencedora - mas não infalível.
Este ano, como já assinalei, Mourinho "arrisca" bastante em termos da sua reputação e da sua aura vencedora, pois o seu Chelsea não tem o melhor plantel de Inglaterra, ficando atrás do Manchester City. Por outro lado, o Arsenal apresenta também um bom futebol e tem-se conseguido manter na liderança do campeonato, algo que dá sempre muita força, confiança e alento aos respetivos atletas. No entanto, se quisermos ser objectivos, temos que reconhecer que se o Chelsea se mantém a apenas dois pontos da liderança com todas as possibilidades de poder vencer, deve-o sem dúvida a Mourinho, à sua veia competitiva e ao grande equilíbrio que confere às suas equipas e que as coloca mais perto de vencer.
Alguns treinadores dizem que "jogar bem" é meio caminho para vencer, mesmo quando as suas equipas perdem. Para Mourinho porém isso não existe. Se a sua equipa perde é porque jogou mal, porque jogar bem é jogar para vencer e não jogar bonito. Mourinho acredita, isso sim, que uma equipa bem montada, bem organizada, bem posicionada e, acima de tudo, muito bem equilibrada entre os diversos sectores, está mais perto de vencer do que uma outra que não tenha estas características.
A meu ver, Manchester City, Chelsea e Arsenal são neste momento e nesta ordem os principais candidatos ao título em Inglaterra. O Liverpool está a jogar bem mas os zero pontos nos dois jogos anteriores (City e Chelsea) demonstraram que lhe falta ainda alguma coisa para ser candidato. O United voltou a perder nesta jornada, agora com o Tottenham e está fora destas contas. O Everton por seu turno está a fazer uma excelente temporada mas não tem obviamente argumentos para enfrentar estes tubarões.
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