quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A última entrada em campo

O melhor jogador do Benfica de todos os tempos e certamente um dos melhores futebolistas da história do futebol despediu-se na segunda-feira num dia de grande emoção para todo o País.
Com a morte de Eusébio parte deste mundo um símbolo de Portugal, ainda para mais de uma era que praticamente já não existe, o que deixa uma nostalgia acrescida. 
Em 1999 tinha partido Amália, igualmente uma "bandeira", um emblema de Portugal, uma daquelas figuras que se distinguem claramente da multidão e que atingem uma dimensão internacional.
Tal como Amália, Eusébio tinha essa qualidade intraduzível da genialidade, uma espécie de aura que o rodeava. Tal como ela, teve fama internacional, actou ao mais alto nível no estrangeiro e foi reconhecido nas mais diversas partes do mundo, projectando o nome de Portugal numa altura em que praticamente só se falava do nosso País por más razões.
Durante muitos anos eles constituíram um factor de reconhecimento e apreço por Portugal no mundo. Neles se retratavam aspectos muito importantes da cultura portuguesa, nomeadamente o seu carácter multi-racial e quase universal.
Já não vi Eusébio jogar mas tenho a plena consciência de que o Benfica é o que é devido a ele. As suas características de grande humildade (a humildade que só os verdadeiramente grandes podem ter), grande desportivismo e respeito pelo público, pelos adversários e pelos árbitros são um exemplo para todos nós. Eusébio foi um autêntico cavalheiro do futebol.

Não podia pois deixar de me associar a esta homenagem e segunda-feira lá estive à hora de almoço para a despedida  que Eusébio pediu: no Estádio da Luz, a sua casa, entrando por uma última vez em campo, indo ao centro do terreno e dando depois uma volta ao mesmo, saudando as bancadas.

Cheguei um pouco antes das 13.30h e a atmosfera era especial, de profundo respeito, genuíno reconhecimento e grande benfiquismo. Apesar dos muitos milhares nas bancadas, o silêncio fazia-se sentir.
A dada altura começaram os cânticos, sentidos e apropriados, de um sector da bancada, intercalados com novos períodos de um silêncio expressivo e significativo. Cantou-se o hino do Benfica.

Chega finalmente o corpo de Eusébio. Pela última vez entra em campo, vai ao centro do terreno e por um momento o vejo, já retirado, com os seus óculos e o seu sorriso, a acenar para a bancada. O público aplaude. E depois dá a volta, despedindo-se de todos e todos se despedindo dele. Canta-se o hino de Portugal, grita-se Eusébio.

O Benfica e o País - e sublinho a atitude sincera e bonita de tantos rivais nas cores clubistas que se associaram às homenagens - souberam despedir-se de Eusébio. As enormes alegrias que ele proporcionou foram reconhecidas. Eusébio teve uma estátua em vida, algo que é raro acontecer e que deve ser creditado a quem o idealizou e quem o realizou. A despedida na Luz foi muito especial, tal como o foi pelas ruas de Lisboa, algo que já só acompanhei na televisão.

A partir de agora os valores que Eusébio representava têm que ser interiorizados de uma forma diferente pelos benfiquistas para fazer do nosso clube um clube novamente grande, novamente vitorioso, novamente temível a nível mundial. 

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