quinta-feira, 21 de junho de 2018

Portugal precisa de equilíbrio no meio

Começa a ser algo incompreensível o que se passa com a selecção nacional. Os resultados estão a ser relativamente positivos, Ronaldo, de quem somos sempre dependentes, está a render acima do esperado, mas a produção futebolística está a ser muito fraca. Portugal não consegue ter a bola nem fazer três passes seguidos. Se contra a Espanha isto se poderia explicar pela grande qualidade dos espanhóis e seu conhecido modelo de jogo - que além de passar por muita posse de bola e grande quantidade de passes (algo que resulta obviamente não apenas do modelo mas também da qualidade dos intérpretes) tem também como vector uma grande pressão sobre a equipa adversária nos momentos em que perde essa posse - já no caso de Marrocos não há desculpas. Marrocos pressionou muito Portugal, de forma muito física, mas os nossos jogadores tinham mais do que capacidade para ultrapassar as primeiras linhas dessa pressão e sair para ataques rápidos. Não o fizemos e raramente fomos perigosos. Pelo contrário Marrocos esteve quase sempre "em cima" da nossa defesa, criando múltiplas oportunidades de golo. Valeu Patrício...

É verdade que entre as explicações poderemos contar com o mau momento ou a falta de ritmo de alguns jogadores. Mas isso seria redutor pela seguinte razão: jogadores que fizeram excelentes épocas nas ligas europeias de mais alto nível, como Gonçalo Guedes e Bernardo Silva estão a ser dos menos inspirados. Bruno Fernandes em quem também se depositam legítimas esperanças também ainda nada fez. Há portanto um problema mais colectivo que o treinador diz não conseguir identificar. 

Para mim o problema é relativamente simples. No Euro 2016 jogámos sempre com quatro meio campistas. Pouco me interessa se nominalmente jogávamos em 4-1-3-2 ou 4-4-2. O que é significativo é que jogávamos com quatro jogadores com cultura de meio campo: William, Adrien, Renato e João Mário. Essa era a nossa base, sendo que com o desenrolar do jogo normalmente entravam opções mais ofensivas, como Quaresma ou Éder. Ao lado ou atrás de Cristiano jogava normalmente Nani que recuava muitas vezes para construir jogo ou apoiar o meio campo. Ora neste momento estamos a jogar com um centro campista a menos (começámos o Mundial com dois a menos) e um segundo avançado (Guedes) que raramente recua. Temos pois necessariamente menos gente no meio e menos capacidade de choque/recuperação de bola. Ter Bernardo Silva ou Renato Sanches não é de modo nenhum comparável.

Note-se que não estou a questionar minimamente a capacidade ou méritos de Bernardo, Gonçalo e Bruno. Pelo contrário, defendi mesmo antes do Mundial que estes eram os jogadores de quem poderíamos esperar algo mais, que davam à selecção um toque extra de qualidade, criatividade e magia. E continuo a acreditar nisso. Simplesmente qualquer um deles, especialmente Bernardo e Bruno, precisam de estar mais envolvidos no jogo a meio campo e não apenas pensar em atacar a baliza adversária. Penso que este é o equilíbrio que está  faltar a Portugal, que faz com que os dois jogadores do meio estejam muito sozinhos e pressionados e acabem por perder a bola demasiado rápido, não permitindo ligar os diferentes sectores e assentar o nosso jogo.


2 comentários:

  1. Ser 4-4-2 ou 1-1-8, o desenho táctico é irrelevante. Jogar com 3 centro campistas/médios centro é colocá-los no... meio campo. Não é o médio que está à esquerda ou direita que vai fechar o flanco. Para isso tem que haver entendimento entre ala e avançado/extremo. É o futebol moderno. O F. Santos está ultrapassado a nível táctico e de leitura de jogo.
    Antes do problema táctico, há a péssima forma física e nulidade de jogo de alguns jogadores que são os titulares: Raphael Guerreiro, ontem foi "comido" vezes sem conta pelo ala e extremo de Marrocos. João Moutinho já nada tem a dar à selecção, os seus movimentos são lentos, a recuperação de posição e de bola é inexistente e no passe é 2 em 10. William Carvalho, que por si só é um jogador muito sobrevalorizado, está de rastos. João Mário está sem ritmo e isso prejudica-o muito no seu jogo e no melhor que tem, a posse de bola e passe. José Fonte não tem estado à altura que esteve no Euro 2016, é erros a nível de marcação, passe e desarme. No ataque, Bernardo e Gonçalo não têm estado ao seu nível. Bernardo perde muito estando encostado na ala/extremo do ataque, devia jogar mais no interior. Gonçalo é o oposto, perde-se no meio, devia jogar na ala como extremo/avançado de referência.
    Para mim, sendo um simples treinador de bancada, Portugal devia jogar assim:
    G.R. - R. Patrício
    D/Ala D. - R. Pereira (ataca e defende melhor que Cédric)
    D/Ala E. - Mário Rui (R. Guerreiro está em baixo de forma)
    DC - Pepe
    DC - R. Dias (B. Alves está só pelo balneário e Fonte está zero)
    MC - Adrian. Silva (já fez a posição e parece neste momento melhor que W. Carvalho)
    MC - M. Fernandes (em forma e bem melhor que Moutinho)
    MC - B. Fernandes (melhor forma que J. Mário)
    AV - C. Ronaldo
    AV - B. Silva
    AV - A. Silva (precisamos de alguém que marque para além de Ronaldo e Guedes não está bem a nível de confiança)

    Obrigado e Saudações!

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  2. Caro Krueger, concordo: precisamos de pelo menos um terceiro homem no meio campo. Eu acho que no Euro aquele 4-4-2 estava próximo do losango, o qual por sua vez é o que melhor replica as virtudes do 4-3-3. Veremos o que F Santos faz no próximo jogo.

    Saudações

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