terça-feira, 4 de junho de 2013

Os milhões e as paixões

Para nós adeptos, só a paixão conta. Não ganhamos um tostão com o futebol, antes pelo contrário: gastamos muito dinheiro a seguir o Benfica.

Já para os profissionais do futebol a história é evidentemente outra. Para aqueles que chegam ao topo (e o topo são o Benfica e o Porto em Portugal, os campeonatos inglês, espanhol, alemão ou italiano, a que se juntam os novos ricos franceses), os ordenados são principescos. Mas podem chegar a níveis quase impensáveis...

É difícil colocar a questão num plano moral, pois aqui aplicam-se as regras de mercado, o qual não tem princípios.

Atentemos nalguns exemplos de casos reais. 

1) o Presidente do Benfica está em vias de contratar um jogador (Falcao). À última da hora, no momento em que deveria assinar, o jogador exige que o salário acordado seja duplicado. Vieira recusa-se e cria-se um impasse. No dia seguinte ou dois dias depois o jogador assina pelo Porto.

2) LFV negoceia um jogador (aconteceu com Danilo, Alex Sandro e Diego Reis, entre outros) e estipula um  valor máximo a dispender. A dada altura (como, é algo que terá que ser investigado internamente) sabe-se que o Benfica está a negociar e Pinto da Costa avança. Cobre a proposta do Benfica e sobe um milhão de euros. A parada vai subindo até LFV atingir o valor estipulado. Não dá mais. Pinto da Costa paga mais um milhão e leva os jogadores.

A mesma coisa acontecera com Mário Jardel durante o consulado de Vilarinho, com valores que não recordo agora.

O futebol é hoje um negócio e num negócio não há paixões nem muitos escrúpulos. 

Percebe-se que as regras de gestão exijam que se estipulem valores e se estabeleçam tectos. Mas nem sequer era esse o meu ponto principal.

O ponto era e é o de mostrar como neste negócio as paixões têm um valor. Para alguns atletas, ele parece ser pequeno, para os adeptos as paixões são tudo.

Quer se goste ou não, há muitos jogadores e treinadores cuja carreira se rege apenas pelo dinheiro. Só assim se explica que Figo pudesse ter trocado o Barcelona pelo arqui-rival Real Madrid. Apenas por dinheiro. Chamar-lhe pesetero é justo neste contexto, ainda para mais conhecendo-se outros episódios pouco edificantes da sua vida desportiva e não só.

Ronaldo não é muito diferente. Quis sair do Manchester onde era adorado pelos adeptos apenas porque foi ganhar muito mais no Real Madrid. E estará já pronto a dar outro "salto", assim lhe paguem mais.

E estamos falando de gente que já ganha milhões...

E o que dizer de Moutinho? Formado no Sporting, praticamente recusou-se a jogar pelo seu clube pois queria mais dinheiro. Agora faz juras de amor ao Porto, apesar de dizer de cresceu benfiquista... E foi jogar para o último dos novos-ricos do futebol mundial, o Mónaco, clube que quase não tem adeptos. 

José Mourinho não é muito diferente. Do Benfica estava pronto para ir para o Sporting (o que abortou devido à indignação dos adeptos sportinguistas), acabou por ir para o Porto, depois quis sair (no meio de uma recambolesca história que mete mensagens de texto com ameaças do "macaco"), do Chelsea exigiu uma indemnização milionária, passou pelo Inter e Real Madrid e volta agora ao Chelsea para receber um ordenado escandalosamente alto.

O futebol é um negócio onde as "juras de amor" valem muito pouco. Sobram os simples, os adeptos que sofrem, seguem a sua equipa, vibram nas alegrias e choram nas derrotas. E sendo um negócio, são porém estas emoções de quem dele nunca recebe quaisquer dividendos materiais que lhe permitem pagar quantias astronómicas aos jogadores e treinadores. 

Disso os atletas nunca se deveriam esquecer. E por isso deveriam ter outro tipo de respeito por quem lhes dá tanto a ganhar.

5 comentários:

  1. Belo texto!

    Por isso é que eu acho que é muito fácil criticar decisões quando se está de fora, quando se é sócio, ou blogger, ou simpatizante... temos muita paixão, mas sabemos infinitamente pouco daquilo que realmente se passa no interior dos clubes.

    Eu critico o LFV em muita coisa, mas custa-me muito a acreditar que seja um sportinguista ou portista que se está a servir do Benfica.
    Todo o trabalho que tem feito, tudo o TANTO que já conseguiu mudar para melhor no clube, são TANTAS as mudanças, e de certeza todas essas mudanças dão MUITO trabalho!
    E depois há outra coisa: o Benfica, neste momento, é um clube inovador. Em Portugal então nem se fala, porque todos os clubes estão a MILHAS do Benfica. Mas mesmo a nível mundial o Benfica já é um clube estudado e analisado por outros.

    Não fossem os corruptos, não fosse a bandidagem, não fosse o facto dos clubes da primeira liga serem todos submissos ao CRAC, e nós tínhamos ganho muito mais do que temos ganho.

    Podem haver erros próprios, pode haver cagança. Mas a corrupção custa MUITO mais pontos ao Benfica do que qualquer erro próprio.

    Estou desejoso de ver o Benfica a ganhar, e espero que no próximo ano possamos já ser campeões, de preferência ganhando mais uma taça... seja qual for. O Benfica merece.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  2. Sublinhado!!!!!!
    Com realce para a última "baKorada/areia para os olhos" do montinho!
    Como se alguém, na idade adulta, pudesse "mudar de clube"!
    O que o dinheiro faz às pessoas é do camandro!
    E a gentinha que já tem o rabo cheio dele ainda me faz mais confusão!
    PE-SE-TE-ROS !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    ResponderEliminar
  3. Caro Frank,

    Apenas só gostaria de adicionar a seguinte ideia ao teu texto:

    Aqueles (treinadores e jogadores) cuja carreira acabam por se reger pela paixão que têm aos seus clubes são aqueles que mais "pancada" acabam por levar. Exemplos? Toni, despedido pelo Damásio, após ser campeão nacional em 1993-1994. Mário Wilson, despedido pelo Damásio (mais uma vez), após ter conquistado a taça de Portugal em 1995-1996. Victor Paneira é um jogador que acaba por sair do Benfica devido ao Artur Jorge. O próprio Camacho no Real Madrid, também é muito mal tratado... e haverá muitos outros exemplos do futebol encarnado e não só.

    Isto dá que pensar... como é possível muitas vezes tratar-se mal as pessoas mais apaixonadas pelos clubes e tratar principescamente quem acaba por ser autênticos mercenários?!

    Talvez a resposta esteja na orientação por objectivos aliada ao "marketing" de cada um, mas sobretudo, devido à influência cada vez mais determinante de quem verdadeiramente controla o futebol mundial: os empresários e os seus grupos de investimento.

    ResponderEliminar
  4. excelentemente escribido

    e digo mais,o futebol começa a meter me nojo..sou sincero nao faço a mais pequena ideia como é que ainda o acompanho...é que nao sei mesmo.

    ResponderEliminar

Os comentários são agora automaticamente publicados. Comentários insultuosos poderão ser removidos.