É verdade que o futebol é um jogo muito imprevisível, mas não é menos verdade que quando se facilita as desilusões se tornam previsíveis.
Permitam-se recuar ao passado, nomeadamente à época de 2010/11. O Benfica era o campeão em título e mantivera a maioria do plantel. Tinha derrotado o Porto na final da Taça da Liga do ano anterior por uns concludentes 3-0. Os adeptos estavam com a equipa incondicionalmente.
O Porto parecia em decadência: Jesualdo terminara o seu ciclo sem brilho, tal como alguns outros jogadores; Pinto da Costa parecia já não ser o mesmo e a contratação de Villas-Boas uma aposta quase desesperada, que mesmo Mourinho ironizara, dando a entender que pelos vistos já não era preciso currículo para chegar a treinador do Porto.
Na pré-época o Porto quase não conseguira vitórias e as dúvidas avolumavam-se, ao passo que o Benfica acumulava grandes exibições e golos.
As duas equipas enfrentam-se no primeiro jogo oficial da época: a Supertaça. (Ao contrário do Benfica, que perde finais da Taça por os jogadores estarem "desmotivados" depois de perderem outras competições, o Porto nos anos em que perde o campeonato, normalmente não perde a oportunidade de pelo menos obter o segundo troféu mais importante do calendário nacional e assim tinha efectivamente acontecido na época anterior).
Quando o Benfica tem oportunidade de vincar, uma mudança de ciclo no futebol nacional, vencendo a Supertaça muitos anos depois, perante um Porto titubeante e claramente inferiorizado, o que acontece?
A nossa equipa entra em campo sobranceira, convencida de que a vitória apareceria normalmente, a querer jogar bonito ao passo que o Porto arregaça as mangas, não hesita em assumir o papel de "underdog" e, com naturalidade, vence. Rapidamente a "mudança de ciclo" se tornaria num enorme pesadelo para o Benfica, prenúncio aliás do que aconteceu na época passada.
Infelizmente as lições não são aprendidas e pergunto-me se alguma vez serão.
No fim da época passada os festejos na Madeira tornam-se em pranto no fim do jogo do dragão por via de uma abordagem completamente errada do jogo com o Estoril. Este ano, face a um Porto em crise, que em 3 jornadas desperdiça 7 pontos, o que faz o Benfica? Resolve entrar em campo de forma sobranceira, desajustada e trapalhona no jogo contra o último classificado, uma equipa mais do que modesta. Isto depois de já em anos anteriores este mesmo Benfica (de Jorge Jesus) ter perdido várias vezes pontos contra as equipas de Pedro Emanuel, quase sempre da mesma maneira.
As lições não são aprendidas.
É verdade que Sálvio se lesionou, que Cardozo também e que Matic estava castigado. Mas nada disso pode servir de justificação para o Benfica ser incapaz de vencer em casa o Arouca! Aliás, o Benfica podia ter perdido o jogo, o que só não aconteceu devido a um penalty que me pareceu bem assinalado mas que, verdade seja dita, as imagens não demonstram com clareza ter existido.
Há momentos em que não se pode falhar. E não falhar não quer dizer fazer um jogo perfeito e não cometer nenhum erro em 90 minutos. Significa apenas ser capaz de vencer clubes de muito menor dimensão e capacidade quando jogamos na nossa casa!
Será que o treinador não o compreende? Será que os jogadores não interiorizam a mensagem?
Não é óbvio para a estrutura benfiquista que quando os adversários vacilam, quando estão num momento de grande fragilidade, há que capitalizar? Que colocar o máximo de pressão sobre eles, dando demonstrações de força? Não era o Arouca o adversário para o fazer?
Como pode um clube que tem um orçamento de milhões, jogadores de selecções, um treinador de milhões, ser incapaz de vencer uma equipa tão fraquinha, tão limitada, tão modesta como o Arouca, no seu estádio, perante os seus adeptos?
Incompreensível e de muito difícil justificação.
Como me dizia um benfiquista lúcido hoje, há toda uma atitude que está subjacente e que dá nisto. Uma atitude de achar que o jogo já está ganho e que, como até jogamos na terça para a Champions League, quer "despachar" o assunto rapidamente, pelo que se o antecipa para sexta-feira. Com os resultados que estão à vista. A mentalidade do já ganhámos, com as consequências que teve o ano passado, repete-se ainda outra vez.
Isto é muito mau, péssimo mesmo.
Já nem quero falar das escolhas para o jogo, das substituições, da forma como o Benfica acaba o jogo com 6 avançados, algo que me parece desequilibrado e contraproducente, do mau momento de forma de Lima e dos constantes erros de Artur, que começam a ultrapassar o aceitável.
Do que não posso deixar de falar é da bonita atitude de David Simão e da feia atitude do jogador do Benfica que não lhe quis dar a camisola.
Concluindo, num momento em que o Porto estava em evidente crise eis que o Benfica lhe dá a mão.
Numa jornada em que partimos em 1º lugar e tínhamos todas as condições para até ganhar vantagem sobre os nossos adversários, acabaremos com toda a probabilidade na 3ª posição. Claro que ainda é cedo, mas não é típico de uma equipa ganhadora esbanjar pontos desta forma.
Não sei o que acontecerá até lá, pois pela amostra, podemos perder pontos em qualquer momento, mesmo nos jogos mais fáceis, mas sei uma coisa: se formos incapazes de vencer o Porto na 15ª jornada e o Sporting umas jornadas depois, não seremos campeões. Face a tudo o que vem aconteceu nas últimas épocas, não sermos campeões nesta não é uma opção. As assistências cada vez menores na Luz bem demonstram que os benfiquistas começam a estar cansados dos insucessos.
Mais grave do que estar cansados dos insucessos, é a indiferença e a passividade que se está a apoderar dos benfiquistas.
ResponderEliminarO que é inacreditável, é, não haver um punhado de benfiquistas, que "obriguem" o Presidente, a entregar a gerência do futebol a quem sabe, pois, como se tem visto, o sr. LFV, tem o condão, de atrair os mais incompetentes.
Viva o benfica