domingo, 21 de janeiro de 2018

Marco Silva despedido. Ronaldo ganha pouco.

Enquanto aguardamos, com alguma ansiedade, por saber como Rui Vitória resolverá mais esta forte contrariedade resultante da lesão do criativo Krovinovic e como a equipa reagirá no Restelo, olhemos um pouco para outras realidades futebolísticas.

1. O despedimento de Marco Silva


Os resultados não estavam a ser os melhores mas o Watford está numa posição tranquila, a meio da tabela, o que me parece até bom face ao plantel do clube. Nessa medida, a decisão de despedir Marco Silva é um pouco inesperada. O treinador português teve um excelente início de época, tendo andado pelos primeiros lugares, o que criou expectativas eventualmente excessivas. Face a um calendário muito difícil nos meses de dezembro e janeiro, o rendimento da equipa ressentiu-se e a série de maus resultados era de facto já grande (a derrota em casa contra o fraquíssimo Swansea de Carlos Carvalhal terá sido o resultado mais inesperado e negativo deste ciclo), tendo motivado este desfecho.

Imagem Ibtimes.co.uk


A justificação do board do Watford foi a de que Marco Silva terá ficado desestabilizado com o interesse do Everton e que isso afectou a prestação da equipa. Essa explicação para o despedimento é apenas parcialmente verdadeira, porque o Everton neste momento já tem treinador, aliás um nome forte do futebol inglês, Sam Alardice, que está já a conseguir resultados. O que realmente se terá passado é que Marco queria ir para o Everton e não o escondeu. Isso criou mau ambiente com a direção do Watford.

Marco Silva é talentoso, mas a sua ambição e o seu feitio, já descrito como difícil, terão pesado neste desfecho. O treinador terá agora que repensar um pouco o seu posicionamento. A descida de divisão do Hull City na época passada, o seu abandonar do barco para ficar na Premier League ao serviço do Watford e agora este despedimento queimam um pouco as suas fichas.

2. O momento de Ronaldo


Outro português no estrangeiro, Ronaldo, está a passar por um momento menos bom. Cristiano já fez o que parecia impossível, vencendo troféus individuais e colectivos só ao alcance dos predestinados do futebol. Portugal deve-lhe muito, sem sombra de dúvida e é feio - e sintoma da inveja muitas vezes característica dos portugueses - procurar diminuir o seu mérito.

Imagem Allinallnews.com


Dito isto, é evidente que Ronaldo está num momento complicado da carreira. Ao contrário de Messi, Ronaldo apostou tudo no aprimoramento físico e atlético das suas capacidades, com vista a tornar-se numa máquina de golos. Digo ao contrário de Messi porque Ronaldo inicialmente era um jogador habilidoso e fantasista, características que de algum modo descurou para se especializar na finalização. Ronaldo tornou-se um pouco "egoísta" (especialmente no Real Madrid), embora num bom sentido, porque daí advém benefício para a equipa em termos de golos.

Acontece que quando a "máquina" já não carbura do mesmo modo, quando a velocidade e a capacidade física se ressentem do passar dos anos, o rendimento decresce. Este ano está a ser mau para Ronaldo, sobretudo ao nível da Liga espanhola. Nessa competição o português tem apenas 4 golos e as exibições estão a ser muito discretas.

Face a este quadro que mensagem tem Ronaldo feito passar, através do seu agente Jorge Mendes, para a comunicação social? A espantosa ideia de que está insatisfeito porque ... ganha pouco.

Isto é inacreditável. Num mundo em que a maioria das pessoas tem que se levantar todos os dias da semana (e por vezes também ao fim de semana) para ir para empregos enfadonhos, tantas vezes com chefes abusivos, trabalhar arduamente para ganhar uns míseros 1.000 euros ou equivalente, para chegar a meio do mês já a contar tostões, Ronaldo chora porque ganha "apenas" 24 milhões! Está triste porque Messi e Neymar ganham mais...

Se não fosse indecente seria cómico. Ronaldo precisa de se deixar destas lamúrias que só o envergonham, embaraçam e diminuem e aceitar que está a caminhar para a fase descendente da carreira que deve gerir da forma mais inteligente e digna possível de forma a não estragar o seu legado. E estar grato pelas oportunidades que tem tido na vida. É óbvio que elas se concretizaram em virtude da sua grande ética de trabalho e dedicação, mas até por aí Ronaldo deve ver que foi com esforço e não com lamúrias que chegou onde chegou. É ofensivo para o comum dos mortais, que trabalha uma vida inteira para ganhar o que Ronaldo ganha em meia dúzia de dias, ouvir dizer que 24 milhões por ano não chegam.

2 comentários:

  1. Existem 2 Ronaldos, mas que estão ligados.

    O jogador Ronaldo, extraordinário, que fez épocas após épocas a marcar golos numa quantidade incrível.

    Depois existe o senhor Ronaldo. Egoísta, enfadonho, por vezes irascível, vaidoso, que pensa que o mundo gira à volta dele.

    É esta segunda figura que faz muita gente por esse mundo fora não gostar do jogador Ronaldo.

    Tem a sorte de ter a mais extraordinária máquina de propaganda por detrás dele, que lhe agiganta tanto o ego que se dá ao desplante de se considerar o melhor jogador de sempre.

    Eu acho que os jogadores do Real apenas o toleram.
    Que a direcção do Real apenas o suporta porque foi o mais próximo que tiveram do Senhor Messi e a melhor arma para combater o o super Barça.

    Mas no fundo, todos no Real devem estar desejosos de o despachar e iniciar uma nova era no clube com alguém mais próximo dos valores "cavalheirescos" e diplomáticos do clube.

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  2. Obrigado pelo comentário que é como uma "auditoria" à personalidade do Ronaldo.
    Concordo. Acho que o Florentino já deve ter percebido que o Ronaldo está na curva descendente e não o vai apaparicar mais porque no fundo deve querer vê-lo sair para ir buscar uma nova estrela.

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