quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Domingos Amaral sacrifica a verdade desportiva à sua vaidade

Há coisas estranhas - ou talvez não.

Numa altura em que finalmente se começam a ouvir vozes independentes (não só já de benfiquistas) a dizer com clareza que o Porto continua a ser constantemente beneficiado pelos árbitros; numa altura em que começa a ser patente o nervosismo da estrutura portista e o esgotamento, por exaustão, da sua propaganda, surge um "benfiquista" a publicar um livro espantoso. Um livro que diz que vai revelar "porque é que" o Porto "é campeão" e o Benfica "só ganha Taças da Liga". A revelação não tarda: o Porto paga mais salários.

É mesmo isto. É tão primário e simplista quanto isto.

A tese é por si mesma absurda. Evidentemente que não é por pagar mais ou menos que a essência da qualidade de um jogador se altera. O que o autor quererá dizer é que quem pode pagar mais tem melhores jogadores e quem tem melhores jogadores ganha.

Mas isto não é necessariamente verdade.

Em 1996-97 o Barcelona de Robson (que tinha tinha Figo, Ronaldo, Stoichkov, Giovanni, De la Pena, Guardiola, Luis Henrique, Nadal, Fernando Couto, Baía, etc, etc) ganhou tudo - menos o campeonato.

O Real Madrid dos "galácticos" esteve 3 anos sem ganhar qualquer troféu (e na altura ainda não existia Messi) e ainda por cima foi várias vezes goleado. 

O Chelsea de Abrahmovic constantemente investiu milhões e milhões em estrelas e até Mourinho não conseguiu ser campeão (e depois dele só por uma vez, com Ancelotti). Por outro lado, Mourinho foi campeão em Itália sem ter, de perto nem de longe, os melhores jogadores.

Os exemplos podem ser multiplicados.

Mesmo que a tese fosse verdadeira, dado que o Benfica é: o clube com mais sócios, com maior receita de quotização, com mais adeptos, com o maior Estádio em Portugal e com mais assistências nos seus jogos o enfoque do livro (se o autor fosse realmente um benfiquista e não alguém que se quer usar do Benfica para fazer fama) deveria ser "como pode o Porto pagar mais do que o Benfica"?

O monopólio da Olivedesportos e a forma como esta beneficia o Porto são aspectos abordados no livro mas que se diluem face a um título daqueles. Título que parece feito para gozar com o Benfica e desvalorizar a Taça da Liga - algo que naturalmente agrada aos portistas mas que se estranha muito que algum benfiquista possa sequer aceitar quanto mais promover.

Aliás muito haveria a dizer do rigor desta publicação, mesmo nos seus pressupostos. Domingos Amaral, pelo que me foi dado a perceber, fez uma pesquisa leviana e de um grau de superficialidade quase incrível. Limitou-se a ir aos Relatórios e Contas dos clubes sem verdadeiramente trabalhar e analisar os dados, chegando ao ponto de nem sequer contabilizar devidamente salários e prémios de jogo.

O livro presta um serviço aos argumentos do sistema e um pretexto para nada mudar: afinal está tudo bem, o que o Benfica precisa é de gastar mais. E o Sporting também, provavelmente. Notável. Por isso foi ver na segunda-feira Guilherme Aguiar a exibir orgulhosamente esta obra prima da literatura futebolística. Pudera! Ele bem sabe como ela lhe poderá servir de alibi para mais uns penalties e umas expulsões. Já nem é preciso argumentar que o árbitro não viu daquele ângulo ou que o jogador estava a proteger-se. Basta acenar com o livro. Lá está declarado, lá está provado: ganha (o campeonato) quem gasta mais. Quem gasta menos ganha a Taça da Liga e provavelmente quem não gasta nada ganha a Taça de Portugal. Lamentável.

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