sábado, 12 de janeiro de 2013

O "bicho papão"

João Gobern é, entre todos os comentadores associados com uma cor clubística, aquele que procura ser mais imparcial e objectivo nas suas análises. No último programa do "Trio d'ataque", fez uma interessante antevisão do que poderíamos esperar do clássico de amanhã. Na sua opinião, se o Benfica jogar o que sabe e souber ultrapassar um certo receio do Porto, que em muitas ocasiões tem sido uma espécie de "bicho papão" para as nossas cores, então tem todas as condições para vencer este jogo em sua casa - e vencer bem.
Concordo muito com esta visão.
É um facto que o Porto tem sido uma espécie de "bicho papão" para o Benfica, o que acontece por razões objectivas e identificáveis mas também por razões psicológicas e mentais que importa compreender para ultrapassar.
Não se pode desvalorizar por completo a qualidade do Porto. Isso seria errado e contraproducente. O Porto nos últimos anos tem sido uma equipa consistente, que sofre poucos golos e que é difícil derrotar. As vitórias em competições europeias provam-no. O Porto teve nos últimos anos bons jogadores, de que destaco Falcão muito em particular mas também Moutinho e o próprio Lucho Gonzalez, que apesar de já estar na fase descendente da sua carreira ainda tem bastante futebol nos pés.
A esta qualidade junta-se uma mentalidade, forjada muitas vezes em factores motivacionais artificiais mas ainda assim eficazes - a mentalidade bairrista, o sentimento de serem injustiçados, desfavorecidos pela imprensa "centralista" ou lisboeta, o ódio ao Benfica.
Há outros possíveis factores estranhos que aqui entram na equação. Desde logo arbitragens altamente proteccionistas mas também outras coisas duvidosas ou mal explicadas. Por exemplo, porque razão o "fenómeno" Hulk é um flop na Rússia ou nunca rendeu na sua selecção? Será que toda aquela pujança física desaparece quando veste uma camisola diferente? Não gosto de especular sobre coisas de que não tenho certezas pelo que me ficarei por aqui quanto a este assunto particular.
Mas há também o aspecto psicológico, o tal "bicho papão". Como assinalava um outro blog, o Benfica por vezes acusa a pressão nestes jogos, ao passo que o Porto os encara como factor de motivação extra.
Percebermos isto é meio caminho andado para ultrapassar um possível bloqueio mental.
Estou aliás convencido de que não são apenas os jogadores a acusar este factor. O próprio público da Luz, os próprios benfiquistas têm caído neste estado mental que torna mais difícil vencer, num certo desânimo ou falta de confiança que não se justifica.
Por isso insisto em demonstrar que muitas, a maioria penso, das vitórias do Porto se alicerçaram na viciação dos jogos, na batota. Em muitos jogos o Benfica merecia vencer e teria vencido caso não tivessem entrado em campo factores estranhos.
Por exemplo, em relação ao jogo do ano passado, fala-se muito do golo em fora-de-jogo. Mas o que dizer da expulsão de Emerson? Não interessa se era um bom ou mau jogador. Interessa é que fez duas faltas absolutamente triviais e que foi expulso, descompensando completamente a nossa equipa. As duas faltas de Emerson juntas não justificavam sequer um amarelo, quanto mais dois. No entanto, depois do golo do empate do Porto (contra-corrente, pois a impressão que o jogo dava era que o Benfica estava perto de fazer o 3-1 e acabar com o jogo), com toda a carga emotiva daí resultante, o árbitro entrou em cena e desequilibrou um jogo em que em termos psicológicos o Porto já estava por cima naquela altura. Sem essa expulsão, é mais do que de admitir que o Benfica faria ainda um forcing final pela vitória. E que o empate seria um mal menor. No entanto, um golo em claro fora-de-jogo fez-nos perder.
Ainda assim, e com isto acabo o recordar desse jogo, o Benfica poderia ter feito o 3-3 numa jogada interrompida pelo árbitro quando Nolito se preparava para se isolar. Mais uma vez a decisão (apitar a uma pretensa falta de Miguel Vítor, entrado para o lugar de Garay, lesionado por Janko, que nem amarelo viu) foi-nos muito prejudical pois tal falta foi mais do que duvidosa.
Em muitos outros jogos se passaram coisas semelhantes.
Tudo isto para dizer que o Benfica não é em nada inferior ao Porto e tem portanto que começar a encarar estes jogos de uma forma diferente: em vez de receio de perder tem que mostrar a sua vontade de vencer. Porque a capacidade está lá - o que falta às vezes é crença. E o mesmo se pode dizer das bancadas. Nas antas o desrespeito pela nossa equipa é total, somos insultados do princípio ao fim, muitas vezes os nossos adeptos são agredidos e na maioria dos casos ainda perdemos os jogos.
Ora isso também tem que servir para que pelo menos o público da Luz apoie de forma inequívoca a equipa, tenha confiança de que em nossa casa as coisas são diferentes, que o ambiente é capaz de dar à equipa o suplemento de que pode necessitar. Para servir como um espicaçar do nosso orgulho, da nossa raça.
As bancadas devem portanto dar confiança à equipa, desde antes do apito inicial até ao último minuto. Eles merecem e devolverão às bancadas esse apoio com entrega, qualidade futebolística e golos. Em 90% dos casos o Benfica tem todas as condições para vencer o Porto na Luz.
É hora de ultrapassar receios e traumas. O dragão, tal como o "bicho papão", tal como o "mostrengo" de Pessoa, não existem, a não ser nas nossas cabeças, alimentando-se dos nossos medos. É hora de inverter as estatísticas, de as repor na sua devida proporção. É hora de Benfica.
Começa amanhã, pelas 20.15h.

5 comentários:

  1. https://www.facebook.com/#!/groups/130613446951225/?fref=ts

    passem lá e partilhem, o autor está a precisar de companheiros que se queiram juntar à luta contra a corrupção.

    Façam-no pelo Benfica e ajudem a acabar com a batota no futebol portugues.

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  2. Boa postadela frank concordo com tudo plenamente,so nao entendo porque nao vem aqui os Benfiquistas comentar pois escreve tao bem a coisas dificil de entender.
    Amanha vamos matar o bicho papao de uma vez por todas.

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    1. Caro homónimo do Canadá, esse grande e tranquilo país da América do Norte, obrigado pelo comentário e pelo apoio. Existem diferentes razões pelas quais nem sempre há tantos comentários como os temas em apreço podiam justificar. A blogosfera não chega a toda a gente mas está a crescer. E há um caminho que se vai fazendo (também aqui neste espaço) e que vai dando alguns frutos. um abraço

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  3. Tem sido este "Bicho Papão" que tem manchado os quase 4 anos de JJ no Benfica que podiam ter sido dos mais brilhantes de sempre, porque não há dúvida que ele percebe de futebol. Não consigo esquecer-me da forma como perdemos a 1ª Super Taça contra estes corruptos há cerca de 4 anos, os 5 que apanhamos no antro corrupto, a forma como o Hulk fez com que tivesse feito adaptações impensáveis para o tentar anular, a influência que um único jogador como o Messi pode ter na sua forma de pensar e agir, permitir que os corruptos celebrassem a victória do campeonato no nosso estádio e perder uma eliminatória praticamente ganha em nossa casa para a taça.
    Estes exemplos provam sofrer de um elevado complexo de inferioridade que apesar de ser dos melhores que há no capítulo da táctica não consegue dar o devido valor à força do grupo. Valores individuais são secundários a dinâmicas de grupo.

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    1. Caro Atlas, eu penso que o JJ também tem aprendido com os erros. O que se passou nesse ano foi de facto mau demais para ser verdade.
      No caso deste jogo, que mais uma vez não ganhámos, houve factores que condicionaram a nossa estratégia (e a meu ver o tal "critério largo" do árbitro foi um deles porque o Porto distribuiu impunemente pancada a torto e a direito, ao passo que o golo oferecido por Artur também pesou muito no estado mental da equipa) e há coisas que permanecem inexplicadas. À falta de melhor esclarecimento, direi apenas, como um outro blog assinalou, que o Porto deve ter de facto o melhor preparador físico do mundo. Já não digo isto só por causa do Izmailov, que de inutilizável desde há anos passou a participante num jogo de alta intensidade, mas também pela prestação de jogadores como Fernando, Defour e, sobretudo Mangala. Este parecia um touro, um poço de força e energia inesgotável. Talvez um dia isto se perceba melhor. Face ao que se passou o resultado acaba por ser menos mau porque nos mantém na frente e com ânimo para os próximos jogos.

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