A decisão é sempre solitária.
Vieira fez até hoje um trabalho muito importante de recuperação do Benfica, a nível financeiro, de credibilidade, de estabilidade, de competitividade, de qualidade dos plantéis. Mas tem-lhe faltado o mais importante: títulos. Dois campeonatos em 12 anos não chega.
No anterior post identifiquei o que para mim foram os erros mais crassos que cometeu esta época, que mais uma vez (e contra todas as expectativas) redundou num rotundo fracasso.
Não quer dizer que tenha feito tudo mal. Também identifiquei algumas coisas boas.
Eu não sou anti nem pro-Vieira. Eu sou e serei sempre Benfica. Enquanto Vieira for o Presidente nunca terá a minha oposição. Nunca andarei a minar o caminho mas também não deixarei de dizer o que penso, nos momentos que considero certos. Por isso ponderei fechar o blog quando me começou a ser impossível calar críticas muito fortes ao que já na altura me parecia um caminho errado, arrepiei caminho quando foi tomada uma decisão que me pareceu na direção certa (romper com a Sporttv) e só falei agora, quando a época já está decidida.
A vida faz-se de escolhas, faz-se de decisões entre diferentes opções ou alternativas.
Até ao momento não apareceu um rumo alternativo credível para o Benfica. O Benfica é uma instituição colossal, um barco muito difícil de pilotar.
Muito do que disse de Vieira, aplica-se a Jorge Jesus.
Elevou muito a qualidade da equipa, trouxe-a a patamares de competitividade não vistos no Benfica há MUITOS ANOS, identificou talentos que rentabilizou para a equipa e em proventos de vendas para a SAD. Mas faltam-lhe títulos!
JJ tinha o campeonato na mão e deixou-o fugir entre os dedos! A Liga Europa podia ter sido ganha, o que teria sido um feito histórico, extraordinário, mas Jorge Jesus também o deixou fugir.
Sim, JJ é tão responsável pela forma como jogámos - e que surpreendeu e encantou não só os benfiquistas como a Europa do futebol - como pela forma como o perdemos. O primeiro golo do Chelsea é o resultado do talento de Torres mas também de uma forma de jogar por vezes quase suicida (que já vem desde a primeira época), de um quase amadorismo em termos defensivos. O segundo golo resulta de uma ingenuidade dolosa, quase "criminosa", na forma como o canto é concedido que depois resulta num golo também inaceitável em termos defensivos. Consta que Enzo Peres estava revoltado com Jesus no fim do jogo porque tinha-o advertido de que o Chelsea costumava bater o canto para o segundo poste com Ivanovic a aparecer naquele espaço, tendo por isso sugerido uma marcação homem a homem ao sérvio, no que teria sido ignorado. E não esqueçamos também que o Chelsea era a equipa da Europa com mais jogos nas pernas.
Nesta medida, o jogo da Taça era ABSOLUTAMENTE DECISIVO. SALVAVA A ÉPOCA, ao contrário do que foi dito! Não salvava o campeonato, que estava perdido, mas salvava a época. Ficaria o registo de um campeonato perdido com infelicidade nos descontos do penúltimo jogo da época, uma honrosa prestação em Amsterdão e uma Taça!
Esse título (são os títulos, estúpido!) era fundamental para manter uma boa média, como assinalei em Janeiro. Perdido esse jogo, JJ perdeu praticamente toda a sua margem de manobra. Ficou abaixo da média do Benfica nos últimos 20 anos (se contabilizarmos conjuntamente Campeonatos e Taças de Portugal). Não ganhou nada este ano.
O jogo da Taça, até pela forma como decorreu, era um jogo facílimo de ganhar. O Benfica jogou a passo, sem atitude, sem determinação, sem espírito vencedor, sem garra, sem qualidade nenhuma. Cada vez que mexeu, Jorge Jesus piorou a equipa.
A conclusão lógica é a de que Jorge Jesus deve deixar o Benfica.
Mas atenção, deve deixar para vir quem? Essa é que é para mim a verdadeira questão.
Rui Vitória? Sinceramente parece-me um erro tremendo. Vitória não me parece ter arcaboiço, unhas para esta guitarra. A pressão no Benfica é uma coisa tremenda, não é para qualquer um. O mesmo se aplica a Paulo Fonseca e mais ainda ao treinador do Estoril. O Benfica não é o Porto onde o verdadeiro "treinador" e líder é Pinto da Costa. Onde qualquer um é campeão. Onde as arbitragens fazem o jeitinho e a "estrutura" ampara os golpes (para além de manter os jogadores em sentido não permitindo indisciplinas).
É tudo isto que Vieira terá que ponderar muito bem. Neste momento a sua credibilidade está no ponto mais baixo. Os benfiquistas estão fartos de perder, fartos de ilusões e desilusões e já não acreditam em mais promessas. Uma aposta falhada reflectir-se-á muito na presidência de Vieira. Voltará a contestação e a instabilidade interna. Uma aposta desastrosa poderá levar o clube à semi-ingovernabilidade ao estilo sportinguista. E não estou sequer a equacionar como poderão reagir os benfiquistas à eventual ida de JJ para o Porto...
Estamos em águas agitadas e cheias de perigos. A derrota na final da Taça foi o momento chave que fez precipitar toda esta situação. É isso que mais me custa e que de alguma forma me revoltou contra Jorge Jesus que até aí eu sempre defendera. É que o espectro do Porto e de Pinto da Costa (mesmo já depois de nos tirarem o campeonato), verdadeira praga do Benfica nos últimos anos, pairou logo sobre o Jamor.
Esta é talvez a decisão mais difícil e importante de Vieira desde que é Presidente do Benfica. E que marcará sempre a sua passagem pelo Benfica.
Temer-se-ia o pior se Vieira mandasse embora o JJ para contratar o Rui Vitória. O Guimarães não joga nada! Quanto ao treinador do Estoril, parece talentoso e pôs a equipa a jogar com alegria, mas não podemos entrar em experimentalismos. Se fosse para entrar alguém teria de ser para ganhar e não para andar a fazer testes. Vi reacções muito engraçadas de benfiquistas ao comunicado da SAD sobre a falsidade de notícias veiculadas pela Bola (acredito mais na Bola do que na 'propaganda' do clube...): alguns diziam que o JJ tem de sair, que o Vieira tem de sair, que o JJ é um looser. Mas há muita gente, uma quantidade surpreendente mesmo, que pede ao JJ para ficar, põe corações, diz que o SLB sem ele estaria pior, que joga o melhor futebol, que com novo treinador voltaria tudo à estaca zero. Mostra bem o dilema que o clube está a viver. Só mais uma coisa: o facto de ainda haver dúvidas e quem defenda que JJ fique mostra bem o seu carisma. Se fosse outro treinador, EM FIM DE CONTRATO, a perder três competições em poucos dias penso que nem haveria dúvidas de que tinha de sair. abraços
ResponderEliminarSem dúvida.
EliminarEm relação à possível continuidade, haveria que definir certas regras de forma muito clara de forma a nunca mais se cometerem erros que já são recorrentes. A comunicação e a mensagem têm que ser mais sintéticas, mais concisas e mais direccionadas. O que interessa é a mensagem que se quer passar e não demonstrações de lições tácticas ou feiras de vaidades. Olhando para trás, a ida à universidade nunca devia ter acontecido. Menos individualismo e mais sentimento clubístico.
De qualquer modo, para a decisão há três factores que são fundamentais pesar: o balneário (é recuperável, depois das cenas de Enzo e Cardozo?), a falta de crédito de JJ (à primeira derrota exigir-se-á a sua saída), as alternativas possíveis. Posso realmente estar muito enganado mas acho que qualquer um dos nomes que se fala seria um autêntico desastre. Repito: se calhar estou completamente enganado e estes jovens treinadores não acusariam (ou acusarão, veremos) a pressão e conseguiriam fazer do Benfica campeão. Amanhã seguramente que acaba o suspense. Estou relativamente tranquilo - pior do que este ano (em termos de sofrimento e desilusão) é difícil. abraço
Concordo. A grande questão de facto é essa: JJ ainda vai a tempo de recuperar o balneário e a autoridade sobre os jogadores ou é tarde demais?
ResponderEliminarEm relação aos treinadores de que se fala, penso que o Vieira é demasiado esperto para ir nessa conversa, até porque ele próprio também tem sido muito posto em causa e não pode colocar-se numa situação mais frágil.
Acredito que se conseguirmos ultrapassar esta tempestade podemos fazer coisas boas no ano que vem, embora, até para me proteger, não vá vibrar com o futebol como na época que passou. Já sofri o suficiente...
Ó Frank desculpa lá mas como é que se faz uma recuperação financeira se temos o maior passivo da história do futebol português?
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