segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A agonia do Sporting

A 3 de Outubro, na antevisão da 6ª jornada (em que o Benfica recebeu o Beira Mar e o Sporting foi ao Porto), escrevi o seguinte:

Para Sá Pinto é uma jornada dramática, que pode significar o seu adeus ao Sporting. Uma derrota deixaria o Sporting a 8 pontos do primeiro lugar, fora dos lugares europeus e apenas dois pontos acima da linha de água... Uma derrota expressiva tornaria a sua continuidade insustentável. E quem treinaria o Sporting depois disso? Oceano?

O que eu não imaginava na altura era que o Sporting pudesse, ainda antes dessa jornada, perder por 3-0 com o ... Videoton, o que precipitaria a saída de Sá Pinto ainda antes do jogo com o Porto.

Pois bem, desde então o Sporting perdeu com o Porto, hipotecando as suas (remotas) hipóteses de ser apurado para a Champions e ontem foi eliminado da Taça à primeira eliminatória em que participou.

Tenho sido muito duro neste blog para com um certo sporting e os representantes de uma mentalidade anti-benfiquista e esquizofrénica. Aqueles que constantemente insultam e desmerecem o Benfica, continuando a falar na "Taça Lucílio Baptista" de há 5 anos mas calando, escondendo ou branqueando o que todos os anos o clube do Porto faz nos campeonatos. Aqueles que depois do acontecimento mais grave do futebol em Portugal dos últimos anos (o incêndio do Estádio da Luz) vieram dizer que "não se reviam" nos atos que deveriam ter condenado inequivocamente, falando de "jaulas" e condições pré-históricas. Em suma, todos aqueles que exibem em público uma postura de arrogância e irresponsabilidade, em total desprezo pelos valores do desporto.

Nada me move porém contra os verdadeiros sportinguistas, que querem o bem do seu clube e desejam vencer de forma limpa, sem cegueira anti-benfiquista. São poucos mas existem. Como benfiquista e como desportista, a situação do Sporting preocupa-me portanto. Seria trágico para o futebol português (que mais lhe irá acontecer?) que o Sporting desaparecesse, o que está mais perto de acontecer do que nunca.

É isto que justifica que eu tenha já por diversas vezes escrito sobre o nosso tradicional rival, aproveitando aliás para dizer que nenhum jogo em Portugal é tão expressivo de uma rivalidade e tão "clássico" na sua natureza como um Benfica-Sporting.

Dito isto, o que se passou ontem foi demais. Depois de ser humilhado pelo Videoton e de quase afastado da discussão do acesso à Champions, o Sporting ainda em pleno Outubro é eliminado da Taça de Portugal pelo Moreirense. É o descalabro completo, quase inimaginável. Se a tudo isto juntarmos a instabilidade diretiva e de gestão e a insustentabilidade das contas do Sporting (para além dos casos de Pereira Cristovão e da indeminização que terá necessariamente que pagar ao Benfica pelos danos no nosso Estádio, fora sanções adicionais que, num país normal, teriam que acontecer) o Sporting está mesmo à beira do abismo.

De entre as várias pessoas que não mereciam esta sorte, há uma que gostaria de destacar: Oceano. Foi um desportista exemplar, um homem que, para além do seu clube, deu tudo à selecção (onde aliás inscreveu um registo muito interessante de presenças e golos) e que neste momento está a ser "queimado" numa fogueira que parece impossível de apagar. É uma pessoa séria e trabalhadora que merecia melhor sorte.
Mas saibamos nós retirar ilações do que se passa no Sporting, um clube que:

  • perdeu a sua identidade por via da má gestão, do afastamento dos seus princípios e por uma fixação esquizofrénica num rival (o Benfica) que não tem capacidade de acompanhar;

  • se fez subalterno do Porto, cujo presidente corrupto volta e meia é elogiado e apontado como exemplo;
  • não tem rumo, mudando de ano para ano de política desportiva (da aposta na formação para a aposta em contratações às dezenas, do "rigor" da gestão para o desperdício de milhões, da aposta em treinadores de sucesso noutros clubes, alheios à cultura sportinguista para homens da "casa" em virtude do seu sportinguismo); 
  • onde todos falam em público, cada um proferindo a sua sentença;
  • onde demasiados mandam ou desmandam (Godinho, Duque, Carlos Freitas, Sá Pinto a dada altura); 
  • vive na instabilidade constante com mudanças de treinadores e, agora de presidentes (a demissão de Godinho Lopes não está distante); 
  • deixou as claques mandarem no clube, dando-lhes o direito de estar presentes no processo de decisão interno do clube e até escolherem treinadores.
 Olhemos e saibamos retirar ilações. É assim que não se faz.

5 comentários:

  1. Toda a razão no que dizes, mas eu afirmo anda o seguinte: Creio que o primeiro problema reside na raiz, ou seja, nos próprios adeptos, os quais aparecem sempre muito felizes quando o Benfica não tem sucesso, independentemente do que se vai passando no seu clube, o que revela uma enorme falta de identidade para com um clube que dizem ser o seu e uma enorme falta de respeito para com o historial do Sporting, cujos adeptos, antigamente, preocupavam-se e ambicionavam as vitórias do seu clube, nunca se revendo em qualquer outro clube que não fosse o Sporting e embora naturalmente vibrando com o insucesso do seu rival, isso só os satisfazia em caso de terem eles sucesso.
    Hoje não é assim, hoje não se vê ambição e na ausência de capacidade de lutar por objectivos altos, a ambição actual dos seus adeptos não é ganharem eles, mas sim que o Benfica não ganhe, venerando por esse motivo as vitórias de um clube que ao longo dos tempos os foi fustigando, prejudicando, enxovalhando e pago para eles perderem jogos e quem sabe campeonatos, daí eu deixar desde já claro, que enquanto os adeptos do Sporting, continuarem a ignorar a sua história e a reverem-se nas vitórias de outro clube, tudo o que de mal lhes aconteça, deixa-me satisfeito, porque se isto fosse ao contrário, mesmo que nada ganhassem, o histerismo seria a palavra de ordem na sua satisfação.

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    1. Caro Jotas, li agora o teu post e também me revejo no que escreveste, nomeadamente o surrealismo do que ali se vai passando a propósito do treinador e, agora, da convocatória de reuniões e declarações de Eduardo Barroso. Sobre o treinador, é o exemplo da desorientação total a que aquele clube chegou. Primeiro diz Godinho: "SABEMOS QUEM É, está completamente identificado HÁ MUITO TEMPO"; depois quer que "Oceano se sinta treinador do Sporting" (?), uns dias mais tarde Oceano "faz parte da solução do futuro pensada para o Sporting e fará parte da equipa técnica de futuro". Importa-se de repetir? Se calhar é melhor não...
      Depois a história do Barroso - patética, na linha daquilo a que este senhor vem habituando o público, e, claro, a contribuir ainda mais para a confusão geral. Refira-se porém que ele corrobora o que eu disse em Maio: a existência do Sporting está ameaçada.

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  2. "se fez subalterno do Porto, cujo presidente corrupto volta e meia é elogiado e apontado como exemplo"... e o impressionante é que quando eram o segundo clube de Portugal, se tornaram subalternos do terceiro... de um clube bairrista!

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  3. E ainda outra coisa: o Moreirense vinha de 4 derrotas consecutivas! Isto parece mentira mas é a realidade. E o Sporting em 11 jogos tem apenas 2 vitórias (!)(ambas em casa, contra o Horsens e o Gil Vicente), 4 derrotas (!), e 5 empates (3 no campeonato e 2 na Liga Europa). Qualquer Gil Vicente ou Paços de Ferreira poderia fazer melhor do que isto, sobretudo se considerarmos o nível dos adversários contra os quais o Sporting jogou.

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